quinta-feira, 18 de abril de 2024

O instinto belicoso do bicho-homem

 


 

                                                                                                *Cesar Vanucci

Faço um premente apelo para que cesse qualquer ação que possa alimentar uma espiral de violência, com o risco de levar o Oriente Médio a um conflito bélico ainda maior”.                                                             (Papa Francisco)

 

Dolorosa constatação. Não há como frear o instinto belicoso do bicho-homem. Pessoas de boa vontade, amantes da paz, lideranças espirituais acatadas, como a de Francisco, reconhecem-se impotentes para conter os radicalismos que acionam desavenças tribais, litígios étnicos, conflitos religiosos inglórios. Apelos reiterados em favor da concórdia, do entendimento civilizado, do diálogo na busca de soluções para as candentes questões que atormentam o cotidiano esbarram, desconsoladoramente, em granítica indiferença e até mesmo desdém.

Os implacáveis “senhores da guerra” e os empedernidos armamentistas, exultantes com os rumos cruéis trilhados por alguns dirigentes políticos e de grupos incendiários não dão a menor importância a essas manifestações de repúdio ao que andam aprontando mundo a fora. Seus malignos propósitos estão focados na ambição descomedida por poder e nos avantajados recursos financeiros propiciados por seus escusos negócios.

 Em dias recentes a Organização das Nações Unidas (ONU) contabilizou, em diferentes regiões deste nosso belo e maltratado planeta azul, 174 focos de beligerância, muitos deles já com anos de duração. É gente demais da conta – convenhamos - empenhada em fazer do mundo um gigantesco faroeste, onde os supostos “mocinhos” e “bandidos” não se valem de “colt 45” e espingardas “winchester”, mas sim de mísseis arrasadores.

 Pouco depois da divulgação da lista dos conflitos em andamento, eclodiu mais uma insana contenda armada. Envolvendo diretamente Israel e Irã. Anotemos contristados o que acontece em paragens onde, mais do que quaisquer outras deveriam ser preservadas a todo custo da macula das discórdias sanguinolentas, da barbárie que o espírito repudia, mas a índole perversa de indivíduos desfalcados de humanismo acolhe com imperdoável naturalidade. A referência geográfica é a Terra Santa, onde se acham fincadas, as raízes da civilização.  Exatamente naqueles lugares percorridos pelo mais sublime Ser, portador de mensagem de infinita beleza, vinda do Alto e do fundo dos tempos, lá, na Terra Santa o ódio, a intolerância e a falta de diálogo geraram uma guerra sem quartel. Uma guerra que vem oferecendo desdobramentos dramáticos na direção de patamares imprevisíveis. O entrechoque insano engloba atentados terroristas, reféns indefesos, contraofensiva desproporcional, mortes em demasia, destruição de cidades, violência inaudita contra civis, réplicas e tréplicas com mísseis, drones e bombas. A ONU, alarmada com a crise humanitária instaurada, clama pela paz. A Comunidade das Nações faz o mesmo. A Assembleia e Conselho de Segurança da ONU e outros organismos internacionais aprovam sucessivas resoluções em prol da pacificação. A diplomacia movimenta-se no mesmo diapasão. Das grandes lideranças religiosas ouve-se um brado pelo bom senso e racionalidade. As mentes lúcidas e os corações fervorosos encarecem a urgência da cessação das hostilidades e abertura de negociações, sem esquecer o socorro imediato em alimentos, medicamentos, fornecimento de água, assistência médica às multidões acuadas de Gaza.  Preces ardentes são feitas no sentido de que um clarão de consciência humanística e espiritual ilumine os contendores, conduzindo-os a buscar um palmo de chão que seja como espaço capaz de proporcionar começo de conversa que desfaça a espiral de violência com suas funestas consequências.

 

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

Fim de linha


 


*Cesar Vanucci

   “O PCC já se equipara a Máfia” (Lincoln         Gakiya, Promotor de Justiça de SP).


As investigações levadas a cabo pela Justiça e Ministério Público de São Paulo com a colaboração da Receita Federal, tendo como alvo o sistema de transporte coletivo urbano da capital bandeirante, revela de forma exuberante a avantajada infiltração do crime organizado nos escalões administrativos do Estado. Pelo que já veio à tona, trazido pelos promotores, o PCC, grupo mafioso de alta periculosidade, apoderou-se de parte substancial das linhas de ônibus que circulam na maior cidade do país, controlando duas ou mais empresas responsáveis pelo deslocamento diário de calculadamente 600 mil passageiros. O esquema que está sendo agora desmontado pelas autoridades vem beneficiando, há anos a lavagem de dinheiro ligada ao trafico de drogas, de armas e outras atividades ilícitas. Ficou apurado que a “gestão empresarial” era exercida por elementos indicados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). Contra eles expediram-se ordens de prisão. Algumas já foram cumpridas, estando a polícia no encalço de elementos foragidos. A justiça ordenou o sequestro de bens, o que levou à constatação de que os “fora da lei” são detentores de mansões e veículos luxuosos, além de outros ativos de custo elevado. Os promotores estão convencidos de que as investigações em curso, dessa operação emblematicamente denominada “Fim de linha”, desembocarão fatalmente na descoberta de outras frentes de atuação do banditismo em esferas governamentais. No foco das atenções da força tarefa incumbida das desconcertantes apurações figuram, também, alguns setores que provavelmente estariam sendo alcançados pelos tentáculos da facção. Já teria sido identificada a participação de “empresários do crime” em negócios de revenda de veículos de luxo, hotelaria, serviços hospitalares e de limpeza. A prefeitura de São Paulo promoveu, com base em decisão judicial, a reestatização das linhas operadas pelas concessionárias assumidas pelo pessoal do PCC. A eventual implicação de agentes políticos e de funcionários públicos na maracutaia vem sendo objeto de averiguação. Tem-se por certo que das diligências aflorarão novidades ainda mais chocantes.  Esta bem sucedida empreitada Judicial e policial significa, sem dúvida, outro “round” vencido pelo Poder Público no combate à criminalidade. Oxalá seja o “Fim da linha” para uma parcela significativa dos inimigos da lei.

A história do “crime organizado” tem sua origem em articulações deflagradas no recesso sistema penitenciário dos anos 70. A busca de melhoria de alojamento em presídios superlotados conduziu detentos a formarem grupos na defesa de interesses comuns. Com o correr do tempo esses agrupamentos passaram a atuar além dos muros dos presídios, utilizando estratégias nos moldes da máfia universal. Criaram nas relações entre seus membros uma sensação de “pertencimento” voltada para a acolhida do delinquente e seus familiares, disseminando um aparente sentimento de confiança. A estrutura dessas facções abrange hierarquia, planejamento “empresarial”, uso de meios tecnológicos, formação de quadros e definição de atribuições. A demarcação de território é parte da logística. A “lei do silencio” (ou seja, a “omertá” do implacável código da máfia matricial) imposta aos integrantes é seguida à risca. O narcotráfico, o contrabando de armas, o roubo de cargas e carros, os sequestros, os assassinatos de encomenda são, entre outras ilicitudes as ações desenvolvidas com fitos rendosos. A bandidagem vale-se da intimidação e corrupção para cooptar políticos e servidores inescrupulosos. Segundo estimativas de estudiosos das questões da criminalidade, acham-se em atividade no território nacional entre grandes, médias e pequenas 88 facções. Algumas delas com ramificações internacionais.

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

quinta-feira, 11 de abril de 2024

O “X” da questão.

 



*Cesar Vanucci

“Babaca e hipócrita”. (Jornalista Guga Chacara, sobre Elon Musk)

 


A insolência do gringo endinheirado, agredindo irracionalmente a soberania brasileira, não envolve nenhum propósito altruísta, ao contrário do que uma interpretação capciosa, provinda de segmentos obscurantistas, tenta insinuar.  Busquemos o “X” da questão. O magnata Elon Musk dono da rede social “X” (antigo Twitter), não defende liberdade de expressão coisíssima nenhuma com seus desabridos ataques à Justiça de nosso país. Sua malfadada atitude tem a ver com ambição de ganhos financeiros, mesclada com a disposição sibilina de desviar a atenção da opinião pública das investigações, em estado terminal, a respeito da intentona golpista que alvejou fundo nossas instituições democráticas. Já não fosse ele partidário entusiasta, pelo menos ocasionalmente, da internacional ultraconservadora empenhada em estabelecer uma nova ordem política e econômica mundial!

 Liberdade de opinião é coisa sagrada. Não admite definitivamente qualquer tipo de censura. Criminalização no uso das plataformas digitais, semeando ódio, estimulando homicídios, suicídios, pedofilia, automutilações, violência contra gêneros, etnias e crenças é coisa bem diferente. A dignidade humana impõe uma distinção cristalina a respeito na preservação dos direitos fundamentais.  Os que procuram, no caso em tela, misturar alhos com bugalhos, confundir Zé Germano com gênero humano, desservem a causa civilizatória, comportam-se como vilões de um enredo nefasto.

Utilizando o “X” como ferramenta política, atraindo pessoas que comungam de ideias extremadas, Musk mira, na realidade, a desestabilização do esquema jurídico e parlamentar voltado para a urgente e impostergável implementação do processo regulatório da internet. Tal regulação faz-se imprescindível em escala universal. Como acontece no Brasil, todas as democracias acompanham com interesse e esperança os debates e estudos concernentes à palpitante matéria. A internet, como enfatizado pelo Ministro Alexandre de Moraes, alvo das infames assacadilhas do desatinado e arrogante miliardário, não é terra de ninguém. Às lideranças conscientes incumbe o dever primordial de instituir regras para internet. Este fabuloso engenho foi criado com o objetivo de favorecer a comunicação social, o intercambio de ideias, o incremento da economia e o bem-estar da gente do povo. Não com a finalidade de alvejar reputações, atassalhar a honra alheia, propalar mentiras como se verdades fossem. E não, também, para erodir os alicerces democráticos e fazer a propagação despudorada das “excelências” de regimes tirânicos.

O Supremo Tribunal Federal, em manifestação incisiva, deixou claro que nenhuma organização, nacional, muito menos estrangeira, desfruta da condição de desrespeitar a Constituição brasileira. Da posição assumida pela Alta Corte compartilham os demais Poderes da Republica e setores mais lúcidos do pensamento humanístico, jurídico e político da nacionalidade.

A respeito do autor das aleivosias assacadas contra o STF e, por extensão contra a soberania nacional, cabe adicionar algumas informações significativas, divulgadas por órgãos da imprensa. Elon Musk é um empreendedor de sucesso em diversos ramos de atividade, consome drogas ilícitas e volta e meia se envolve em polemicas em diversas partes do mundo. O jornalista Guga Chacara, correspondente do “Globo News” nos Estados Unidos, classifica-o de “babaca e hipócrita”. Explica por que: “seu decantado apreço” pela liberdade de expressão varia de acordo com as circunstâncias e conveniências. Os rendosos negócios ditam seu “procedimento ético”. Por exemplo, Elon não tuge nem mugi diante das severas restrições impostas às operações do “X” na China, Arábia Saudita, Turquia e Índia países dirigidos por governos autocráticos de onde provêm investimentos de elevada monta que abarrotam seus cofres, garantindo sua presença no topo da lista dos ricaços da “Forbes”.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

Vitória do Estado

                                                                                                                           *Cesar Vanucci

 




"Vitória do Estado brasileiro, das forças de segurança do Brasil”.

(Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowiski)

 


A recaptura dos fugitivos de Mossoró, depois de 50 dias de buscas intensas, quando eles já estavam prestes deixar o país constituiu – não há negar – um feito policial digno de louvores. Junto com o deslindamento do “caso Marielle”, merece ser olhado como conquista significativa no combate ao crime organizado. Os primeiros “rounds” em ambas as situações, foram vencidos pela bandidagem. Toda via, o acintoso desafio da criminalidade terminou, ao fim e ao cabo, com nocaute desferido pelo aparato de segurança Federal, no âmbito do Ministério da Justiça. A recaptura não encerra as diligências investigatórias. O mesmo dispositivo de Inteligência competentemente utilizado na descoberta do paradeiro dos detentos da penitenciária de Mossoró saberá identificar por certo, em breve, as circunstâncias que permitiram se entendesse os quase 2 mil quilômetros o trajeto por eles percorridos a partir do Rio Grande Norte até os confins Pará.   As primeiras informações dão conta de que a ajuda veio de uma facção com núcleo central, onde mesmo? Acertou: no Rio de Janeiro das milícias. Na bem sucedida operação policial ganhou destaque, também, o fato de a prisão ter ocorrido sem que os policiais precisassem díspar um só tiro ao interceptar a escolta armada, composta dos 2 procurados e quatro comparsas.  Aguardemos os próximos capítulos dessa história.

Domingos Brasão, conselheiro do Tribunal de Contas do RJ, indiciado como um dos mandantes dos assassinatos de Marielle Franco e Andersom Gomes emprega em seu gabinete 45 assessores, segundo a imprensa, vários deles são elementos ligados às milícias cariocas. Outra revelação que veio a furo com a detenção dos mandantes: o outro Brasão, Francisco, Deputado Federal, foi acusado de assassinato muitos anos atrás, mas nunca foi levado a julgamento por Tribunal de Júri.

 

2) America efervescente -  o Governo brasileiro demorou, mas afinal de contas, resolveu aplicar um bom “puxão de orelha” no caudilho de Caracas. Duas manifestações do Presidente Lula e uma nota do Itamaraty expressaram indignação com relação aos atos praticados por Maduro afastando adversários da pugna eleitoral na marra sob argumentos os mais descabidos. A reação do venezuelano foi grosseria e insolente. Maduro resolveu, ao mesmo tempo, romper o acordo firmado recentemente com a Guiana, do qual o Brasil é mediador, promulgando ato que cria nova província da Venezuela em área pertencente àquele país. Aprontou mais: cortou a energia do prédio da embaixada da Argentina devido ao fato de patrícios seus, perseguidos por motivos políticos, terem nela buscado asilo. Noutra frente de tensão, o Presidente Milei, da Argentina, atacou os presidentes da Colômbia e México, o que levou Bogotá a chamar de volta seus embaixadores em Buenos Aires.  Enquanto isso, México e Equador cortaram relações por conta da condenável invasão policial da embaixada  asteca em Quito, onde se achava asilado o ex-vice equatoriano.

3) Mais um - A procuradoria do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro ofereceu denuncia, por abuso econômico eleitoral, contra o Governador do Estado do Rio de Janeiro, Claudio Castro, pedindo a cassação de seu mandato. Do libelo acusatório consta uma revelação estarrecedora, conforme divulgação da imprensa. Se efetivamente comprovada, colocará o chefe do executivo Carioca, com toda certeza em situação jurídica análoga à de seus mais recentes antecessores. Pasmo dos pasmos: no órgão estadual dedicado a levantamentos estatísticos, onde não existe sequer um único estatístico lotado, a titulo de executarem projetos sociais variados, foram nomeados com fitos eleitoreiros 18 mil funcionários (isso mesmo que o leitor está lendo: 18 mil) desses, quase 50 foram candidatos a Deputado pelo partido do Governador. Ora, veja, pois!

 

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Nunca mais.


       

                                                                                                      *Cesar Vanucci

 

“A Democracia pode não ser de todo perfeita, mas a ditadura é imperfeita no todo.”

(Domingos Justino Pinto, educador).

 

Em 1964, o Brasil desviou-se da trilha democrática e embrenhou-se num trevoso período autocrático, que perdurou por alongados 21 anos. O regime instaurado, de predominância militar, trouxe sobressaltos, desventuras e o clima de horror que toda ditadura descarrega nos lares e ruas dos territórios sob seu férreo controle. A negação dos direitos fundamentais que conferem dignidade a aventura humana produziu prisões, torturas, mortes, desaparecimentos, exílios, cassações de mandatos, censuras e arbitrariedades de toda ordem gerando o medo e introduzindo no enredo cotidiano a asquerosa figura do “dedo duro”.

 Parcela bem minoritária da sociedade não hesita em proclamar, ainda hoje, vantagens de um regime de exceção no confronto com o regime democrático. Sustenta que a “ordem” dominante nas tiranias “contrasta” com a “desordem” imperante nos países regidos pelo Estado de direito. Analise justa e correta dos fatos projeta uma realidade que reduz a estilhaços a equivocada comparação. A “ordem” mantida a ferro e fogo, violentando valores humanísticos e espirituais, impondo asfixiante silêncio não passa de falácia retórica, que só beneficia os “amigos do rei”. Toda ditadura, não importa seu matiz ideológico, se de direita ou de esquerda, amordaça a mente, amargura o coração e vilipendia o espírito. Ambas são farinha do mesmo saco. Verso e reverso de uma só moeda. Costuma-se dizer que a diferença entre o regime de força de direita e o regime de força de esquerda é a mesma diferença existente no sabor de duas apreciadas marcas de refrigerante, a coca e a pepsi.  Está visto, pois, que o sentimento popular repele as lateralidades ideológicas, sempre incendiárias. Absorve inteiramente o conceito esposado pelo grande Alceu de Amoroso Lima, o Tristão de Athayde, de que a solução dos magnos problemas que afligem a humanidade não virá jamais nem da esquerda, nem tampouco da direita. Só poderá vir mesmo do Alto.

Ditadura, nunca mais! No final do ano de 2022 e começo de 2023, quando da intentona golpista arquitetada nos bastidores do governo que passou, as instituições democráticas funcionaram de forma admirável, rechaçando com firmeza e altivez a impatriótica investida. O espírito legalista das Forças Armadas ajudou, como é de seu dever, a conjurar os perigos que rondaram a pujante Democracia construída de 1985 para cá. A sólida união dos setores democráticos espantou espectros saídos das sombras nostálgicas de um passado autocrático que esperamos nunca mais seja revivido no cenário político da nação. Ditadura, nunca mais!                 


 2) Decisão do STF - O Supremo Tribunal Federal acaba de proferir decisão que ratifica o óbvio. Óbvio ululante, diria Nelson Rodrigues. Interpretando corretamente o artigo 142 da Carta Magna, explicou que as Forças Armadas estão subordinadas diretamente ao Poder Executivo como sobejamente reconhecido pelos ilustres Chefes Militares que as comandam na atualidade. Apegados a conveniências que contradizem os preceitos democráticos e republicanos do Estado de Direito, alguns elementos de presença minoritária no contesto político vinham, erroneamente, insistindo em propagar que o artigo em questão permitiria aos militares, segmento altamente representativo da consciência cívica da Nação, atuarem como poder moderador em momentos de crise institucional.  

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

Insegurança pública


*Cesar Vanucci

 



“A segurança pública virou caso de segurança pública”

(Josemar Bosi, escritor)

 


1) As pessoas de boa memória hão de se lembrar do fogo de metralhadora disparado contra a memória de Marielle Franco quando de seu brutal assassinato. A rede de intrigas que alimenta as inomináveis fake news despejou toda a sorte de infâmias imagináveis e inimagináveis sobre sua atuação como ser humano e parlamentar. Um Deputado da “trincheira do ódio” chegou ao cúmulo de arrancar, em ato público, placa afixada em sua homenagem. Em Whatsapps iracundos foram espalhados “cobras e lagartos” a respeito da brava combatente dos direitos sociais. Tudo está visto agora, com propósito de confundir e comprometer as investigações.

 

2) O Rio de Janeiro das temidas milícias continua sendo palco de ocorrências policiais extravagantes. Mais do que isso: surreais. Vejam só mais essa aqui. Recentemente, agentes da Segurança Pública fecharam uma fábrica clandestina de cigarros. Trancafiaram os responsáveis, apreendendo todo o maquinário utilizado na fabricação do produto. O equipamento, pesando 5 toneladas foi levado para o deposito da “Cidade da Polícia”, um complexo de edificações amplas, onde se acham lotados 3 mil funcionários que operam ações desenvolvidas por dezenas de delegacias. A máquina de fazer cigarros foi levada a hasta pública. O arrematante cuidou de busca-la. Espanto geral! Quando abriram a porta do deposito, a peça não estava mais lá. A “rigorosa sindicância” feita a respeito do inusitado incidente “apurou” que ninguém da “Cidade” sabia dizer por que cargas d’água o aparato mecânico de 5 toneladas havia sumido. O B.O referente ao caso assinala que a volumosa carga, não passou por nenhuma das numerosas guaritas armadas que circundam o complexo policial, nem tampouco seu deslocamento foi monitorado pela rede de câmeras existente.  Até outro dia não havia surgido ainda quem “soubesse dizer” o que ocorreu. Tão denso “mistério” levou gaiato a apontar David Copperfield como autor da façanha. Como é sabido por todo telespectador, o mágico de Las Vegas costuma fazer desaparecer gigantescos objetos, debaixo de aplausos de plateias extasiadas. Êta Rio de Janeiro!...

 3) Outro lance escalafobético. Numa bem sucedida operação policial, integrantes da maior milícia do Rio de Janeiro foram capturados portando armas de grosso calibre, de uso privativo das forças de segurança. Na troca de tiros um dos lideres da facção foi atingido e encaminhado a hospital. Algemado, ficou sobguarda de dois agentes, um sargento e um cabo da Policia Militar carioca. Um vídeo que circulou intensamente na internet, postado pelos próprios agentes, mostrou, dias depois, festiva comemoração de aniversário do miliciano preso, com bolo, velinhas, balões coloridos, refrigerantes e “parabéns para você” cantado por todos num clima de muita animação. Os dois militares foram dispensados da vigilância e respondem a Procedimento Administrativo Disciplinar. Tá danado!...

 4) A Policia Militar de São Paulo desencadeou , em curto espaço de tempo, duas mortíferas operações contra o crime organizado na baixada santista, depois do assassinato por bandidos de dois policiais. Quase 100 pessoas já foram mortas no confronto com os agentes. A Secretaria de Segurança SP sustenta que as forças policiais têm agido na repressão em rigorosa sintonia com a lei. Mas, esse não é o entendimento da Defensoria Pública e familiares de algumas das vítimas. As versões discordantes deram causa a relatório levado à OEA. Indagado sobre o que pensa da representação encaminhada àquela instituição internacional, o Governador do Estado, Tarcísio Freitas, declarou “não estar nem aí pra isso”. Tá bem!...

 5) O Ministro da Justiça Ricardo Lewandowski andou colocando “o carro adiante dos bois” ao dizer ainda outro dia que a operação de captura dos fugitivos em Mossoró foi amplamente exitosa.            Ora, veja, pois!...

                              Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

quarta-feira, 27 de março de 2024

Pacto sinistro

 


                                                                                            *Cesar Vanucci

 

“O caso Marielle abriu nova janela para o combate ao crime organizado.”

(Ministro Gilmar Mendes, do STF)

 

A esperança dos democratas e dos amantes da paz é de que o deslindamento do chamado “Caso Marielle” represente prólogo e não epílogo de uma questão relevante para o bem estar coletivo. Explicando melhor: as investigações da eficiente Polícia Federal, que tomou a si a incumbência de desvendar o mistério que rodeava o infame atentado, desnudaram pacto sinistro existente na mui’ leal e heroica cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro e adjacências.  Para uma opinião pública aturdida e indignada ficou sobejamente documentada a escabrosa aliança entre políticos poderosos e inescrupulosos, milicianos virulentos e a banda podre da polícia.

A desagregadora e desembaraçada movimentação dessas forças espúrias nas engrenagens administrativas e da segurança pública produziu um cortejo interminável de desatinos. Tais desatinos fizeram os habitantes do Rio de Janeiro se sentirem constrangidos em poder alardear sua invejável condição de “Cidade Maravilhosa”.

Recapitulando os fatos: Seis anos atrás, Marielle Franco e seu motorista, Andersom Gomes voltando de um evento comunitário, onde se discutiam temas ligados a inclusão social, foram fuzilados com tiros disparados de um carro que se emparelhou com o veiculo da vereadora. Uma assessora que a acompanhava nada sofreu, além do trauma de ver seus companheiros assassinados. Como se comprovou mais tarde, as câmeras do local onde ocorreu a execução estavam estranhavelmente desligadas. A comoção provocada pelo crime somada à marcha morosa das apurações deu origem a uma pergunta que ecoou longe, volta e meia ocupando noticiário: “Quem matou Marielle?” Algum tempo passado chegou-se ao bandido que disparou os tiros e ao seu comparsa. Houve um espanto muito grande quando se soube que o atirador ex-policial, miliciano, vivendo aparentemente de soldo como inativo da PM residia numa mansão suntuosa em condomínio de alto luxo na Barra da Tijuca, possuindo numa de suas propriedades um arsenal de fuzis e metralhadoras de modelo avançado, armamento esse obviamente confiscado. A principio ele se recusou a revelar nomes dos mandantes e os “motivos” da execução. Nessa ocasião surgiu outra pergunta que não quis calar: “Quem mandou matar Marielle?” A resposta a essa indagação custou muito a ser dada e a demora deu margem a muitas especulações. Quando da mudança de Governo houve a promessa formal do então Ministro da Justiça, Flávio Dino, de encarregar a Policia Federal da investigação e apontar os culpados. A partir das diligências efetivadas no âmbito Federal o processo ganhou ritmo mais célere.

Agora, finalmente após a disposição do matador miliciano, Ronnie Lessa de contar tudo que sabe, a essa circunstancia se agregando outras esmagadoras provas, inclusive “queima de arquivos”, a reposta sobre quem mandou matar Marielle acaba de ser formalmente dada. Os mandantes apontados e já detidos são o Deputado Federal Francisco Brasão, seu irmão Domingos Brasão, Conselheiro do Tribunal de Contas do RJ e – esticando o pasmo ao máximo limite - o até outro dia chefe da Policia Civil do Estado do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa. Segundo a acusação, os três articularam os detalhes do esquema do bárbaro assassinato. A “motivação” teria sido a ferrenha oposição oferecida pela combativa parlamentar às investidas vorazes da milícia em valiosas áreas urbanas. A promíscua relação de políticos, milicianos e policiais, pelo que já foi revelado – e com muitas coisas chocantes a virem ainda à tona -, deu causa a homicídios que permanecem insolúveis e a muitos outros delitos graves que deixam moradores de regiões densamente povoadas à mercê dos assédios violentos do crime organizado.

Como já se disse, a elucidação do assassinato é prólogo de história tenebrosa a ser ainda contada.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

 

quinta-feira, 21 de março de 2024

Últimos capítulos

                        *Cesar Vanucci

                           “Essa novela golpista não vale a pena ver de novo”.(Antônio Luiz da Costa, educador).

 

Pra falar verdade, ninguém foi totalmente pego de surpresa com a identificação dos autores da intentona golpista. Afinal de contas, as digitais dos implicados no atentado antidemocrático estavam profusamente espalhadas por tudo quanto é canto investigado. As provas arrasadoras, meticulosamente colhidas e sistematicamente liberadas pela Polícia Federal e divulgadas pela mídia sinalizavam, desde o começo, o que estava por vir na hora fatal da designação dos nomes, sobrenomes, endereços e CPFs da patota sediciosa.

A delação premiada do Tenente Coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente, Jair Messias Bolsonaro, abriu as comportas das revelações incriminatórias. A ela juntaram-se adiante, entre muitos outros indícios, os impressionantes depoimentos de dois militares de alta graduação,  reputação e credibilidade irretorquíveis, ambos integrantes do ministério de um governante que se  empenhava, obsedantemente,em golpear de morte as instituições democráticas. O ex-ministro do Exército, Marco Antonio Freire Gomes e o ex-ministro da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Jr., ouvidos como testemunhas pela PF, relataram com riqueza de detalhes, o que ocorreu nos bastidores do Palácio do Planalto na urdidura da conspiração. Foi um desfile de informações estarrecedoras. Deixou muita gente de queixo caído.  Como é possível, a essa altura de nossa evolução democrática, algo assim, ser engendrado, em desafio tão insolente à consciência cívica da nação? Durante as oitivas o General e o Brigadeiro mencionaram as pressões e constrangimentos vividos nos contatos com a antiga cúpula governamental. Registraram sua enfática recusa em participar da conjura.  Condenaram a atitude de Bolsonaro, chegando a dizer-lhe, em certo momento, ser ele passível de prisão em razão das ilicitudes praticadas. Confirmaram que todas as avaliações feitas por organismos altamente qualificados, inclusive as Forças Armadas, atestaram, peremptoriamente, a lisura das eleições e a fidedignidade dos dados extraídos das urnas eletrônicas, ao contrário do que foi propalado pelos interessados na quebra dos dispositivos democráticos.

A ruptura institucional com a implantação de um regime de exceção objetivada na trama colocada em andamento pelo ex-presidente com o conluio de outros personagens destacados na vida pública, não se concretizou em plenitude por diversos alvissareiros fatores. O primeiro deles foi a amadurecida consciência da sociedade brasileira. Mantendo  presentes  na memória lances trevosos do passado, a opinião pública repele toda e qualquer tentativa extremista de violação dos preceitos democráticos. Outro fator digno de nota foi a incontinenti reação dos Poderes Constituídos às manobras golpistas. Pesou também e muito na resistência à ação desagregadora dos plantonistas da ditadura o posicionamento legalista das Forças Armadas, como exemplificado na conduta dos dois chefes militares citados.

Esta impactante e nefasta investida antidemocrática, abortada, nos efeitos mais danosos almejados pelos conspiradores, caminha na direção dos indiciamentos e julgamentos de seus autores.  Paralelamente aos fatos relacionados ao golpe propriamente dito, aproximam-se também do desfecho investigações sobre outras cabulosas façanhas envolvendo os mesmos manjados personagens.

A novela golpista chega a seus últimos capítulos. A esperança de todos é de que as cenas vividas jamais voltem a ser exibidas.

Netanyahu, Putin, Maduro

 



                                                                                            *Cesar Vanucci

 "Chegou o momento de fazer alguma coisa, e não                   apenas lamentar".

           (Josep Borrell, Dirigente da UE )

 


1) Benjamin Netanyahu não está nem aí. O Presidente Joe Biden dos EUA, alterando um pouco a posição de apoio irrestrito as ações do Governo de Israel, asseverou que o Primeiro Ministro “faz mais mal do que bem” ao seu país. O Presidente da França Macron classificou de “inaceitável” a forma utilizada por Tel-aviv na condução do conflito. A Presidente da  União  EU, Úrsula Von der Leven afiança que Israel quer vencer a guerra “matando de fome” milhares de pessoas em Gaza. Outro dirigente da EU, Josep Borrel, brada alto que “chegou o momento de se fazer alguma coisa, e não apenas lamentar.” Guterrez, Secretário da ONU, falando das mortes e destruições em massa, clamando por uma trégua humanitária, define o que vem acontecendo em Gaza como uma irreparável catástrofe. Nas ruas de Israel, multidões pressionam o governo no sentido de concordar com a cessação das hostilidades visando a liberação dos reféns. “Médicos Sem Fronteiras” denunciam o colapso total, inédito em guerras do sistema hospitalar e de saúde, revelando que intervenções cirúrgicas, inclusive em crianças, têm sido feitas sem anestesia. Nem assim! Nem com todo esse colossal clamor, que expressa a vontade e o sentimento da quase totalidade de seres humanos em todas as partes do mundo, o imperturbável e inflexível Primeiro Ministro se dispõe a deter a avalanche bélica sanguinolenta. Ou seja, interromper a marcha dos tanques, o lançamento de mísseis e a carga da infantaria, por algum tempo, para que se possa discutir a libertação dos reféns, acudir as necessidades básicas emergenciais da população civil acossada sem ter para onde ir. Nem mesmo assim, repita-se, rejeitando argumentos ditados pelo bom senso, externados pelas lideranças políticas e espirituais, Benjamin Netanyahu se dispõe a suspender a contraofensiva e participar de negociações que definam única possível solução para essa longeva crise do Oriente Médio: a criação do Estado da Palestina.

2) A “disputa eleitoral” ocorrida, dias atrás, no vasto império russo conferiu a Vladimir Putin mais um mandato de 6 anos. O “Tzar”, como esperado, por pouco não alcançou a totalidade dos votos. Também, pudera! Todos os opositores “desistiram”, ou foram retirados do caminho por métodos bastante “persuasivos”... A nova etapa governamental se estenderá até 2030, o que permitirá a Putin manter-se no poder por 3 longas décadas, com invasões de terras alheias e tudo mais que compõe sua truculenta carreira política.  A propósito da guerra na Ucrânia, provocada pela volúpia expansionista do kremlin, cabe anotar recente duelo verbal travado entre dirigentes de duas superpotências atômicas, um deles Vladimir. Emmanuel Macron, Presidente da França, levantou a hipótese de deslocamento de tropas da OTAN para defender a Ucrânia, já que a Rússia sustenta a disposição de não arredar pé das províncias ocupadas. Os lideres dos demais países do Pacto reagiram, incontinenti, desautorizando o dirigente francês. O líder russo, por sua vez, declarou que uma possibilidade dessas representaria um ataque formal ao seu país, o que levaria, fatalmente, a uma guerra nuclear com o extermínio da civilização, já que a Rússia não hesitaria em utilizar as armas nucleares de seu arsenal. Com respeito, ainda à “eleição”, anotemos o que se passou nas províncias ucranianas ocupadas. Militares russos foram de porta em porta levando as cédulas com o nome de Putin para que os moradores a colocassem na “urna móvel”.

3) A Venezuela, de Nicolás Maduro já fixou a data da próxima farsa eleitoral. Será em junho. Como é de praxe nos regimes autoritários, o caudilho de Caracas só não será “eleito por unanimidade”, se não quiser. Seus opositores já foram todos devidamente afastados da competição. Ou estão amargando prisão, ou tornaram-se “inaptos” a concorrer por força da “legislação” vigente.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

A função social da riqueza


 

*Cesar Vanucci

 

"Eu resolvi financiar alunos da Einstein para sempre.”

(Professora Ruth Gottesman)

 




Na semana retrasada, todos os alunos da faculdade de Medicina Albert Einstein, localizada na região socialmente mais carente de Nova York, o bairro de Bronx, Estados Unidos, foram surpreendidos por convocação da  Reitoria, para uma reunião de emergência, sem pauta previamente anunciada. A chamada provocou alvoroço, dando origem a toda sorte de especulações. Na hora aprazada, diante de auditório lotado, mudo e quedo que nem penedo exprimindo algum receio quanto ao que iria ser dito, o Reitor da Instituição comunicou, em tom solene e pausado, que os estudantes da Albert Einstein ficariam desobrigados para sempre do pagamento das anuidades. Nos segundos seguintes o silêncio registrado foi ensurdecedor. Mais ensurdecedor ainda foi quando o público tomou consciência do lance extraordinário que deu origem ao auspicioso anuncio, explodindo em aplausos e gritos de incontida euforia. A explicação a respeito da gratuidade foi dada quando a multidão aquiesceu à ideia de uma pequena trégua para que o Reitor pudesse concluir sua bonançosa fala.   Aconteceu  o seguinte: uma antiga professora da escola, herdeira de fortuna deixada pelo marido super milionário, resolveu destinar um 1 bilhão de dólares, ou seja algo equivalente a 5 bilhões de reais, como quitação completa dos custos de graduação. O nome da benemérita, educadora é Ruth Gottesman, de 92 anos. Sua doação é tida como a maior já registrada na história de universidades americanas.

 Ruth é membro do Conselho da universidade, com mais de meio século de atuação em atividades pronunciadamente sociais. É doutora em Educação pela Universidade de Columbia. Era casada com um dos homens mais ricos do mundo, David “Sandy” Gottesman, recentemente falecido. Esta não foi sua primeira doação com fins filantrópicos. Em 2010, o casal destinou, para a mesma instituição agora contemplada, 25 milhões de dólares (125 milhões de reais). Os recursos foram aplicados na implantação de um instituto de Pesquisa com Células-Tronco e Medicina Regenerativa.

Essa magnífica história de solidariedade, projetando figura humana admirável, com percepção bastante nítida da função social da riqueza, remeteu este desajeitado escriba a um episódio guardado entre suas reminiscências mais ternas e sugestivas. Em meados dos anos 40, o grande educador Mário Palmério, que ainda não se tornara o romancista famoso que todos hoje aplaudimos, implantou em Uberaba, Minas Gerais, o Liceu do Triangulo Mineiro, pouco depois Colégio Triangulo Mineiro. O educandário foi a célula embrionária da conceituada Universidade de Uberaba.

Alunos do curso ginasial - um bom contingente deles -, pertencentes a famílias de condição financeira inferior, foram contempladas inesperadamente sem delongas burocráticas, com bolsas de estudo integrais. Os recursos carreados para essa nobre finalidade procederam de doação de um cidadão nascido em Uberaba e radicado em Uberlândia. Empresário dinâmico, que fez riqueza na atividade agropecuária e setor de serviços, Afrânio Azevedo firmou parceria com o nascente conglomerado educacional, beneficiando muita gente. Um registro que faço com emoção. Entre as centenas de estudantes favorecidos com a providencial ajuda figurávamos eu e Augusto Cesar, meu saudoso irmão, primeiro brasileiro a conquistar um Emmy e um Ondas, os mais importantes lauréis da televisão mundial.

Ao longo dos anos tomei conhecimento de outros gestos de solidariedade social praticados, sempre de forma silenciosa, por Afrânio Azevedo. Guardei dele sem ter podido desfrutar da honra de conhecê-lo pessoalmente, a lembrança de um cidadão dotado sensibilidade social, pertencente ao invejável mundo dos corações fervorosos, receptivos à ideia de que a riqueza possui indeclinável função social. Tal qual a generosa educadora estadunidense.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

segunda-feira, 11 de março de 2024

Uma mulher rodeada de palavras

 



                           *Cesar Vanucci

“Quem traz na pele essa marca Possui a estranha mania de ter fé na vida” (verso da canção “Maria, Maria”, de Milton Nascimento e Fernando Brant).

 

Festa de forte simbolismo, rico colorido humano e arrebatantes emoções. Inundada de lirismo valeu também como exaltação de valores que conferem dignidade a aventura humana.

O ingresso de Maria da Conceição Evaristo na Academia Mineira de Letras representou, naturalmente, triunfo pessoal, justo e merecido, de uma celebrada intelectual, causando regozijo em segmentos que encontram no humanismo a própria razão de viver. Estamos diante da primeira mulher negra a integrar, em mais de cem anos, os quadros da importante instituição. Ao saudá-la o presidente Jacyntho Lins Brandão externou o desejo de que Conceição seja “a primeira, mas não a única”. Disse, ainda, no pronunciamento que "A chegada de Conceição Evaristo à AML a par do reconhecimento de sua trajetória como professora, romancista e poeta, com justiça celebrada no Brasil e no exterior, tem também o sentido de impregnar esta casa com suas qualidades e história de vida".

Bastante concorrida, a posse foi realizada na data comemorativa do dia internacional da mulher, o que emprestou brilho mais acentuado ao evento. A mesa dirigente da cerimônia foi composta exclusivamente de mulheres, entre elas convidadas ilustres vindas de diversas partes do país. Na plateia observou-se participação intensa de pessoas vinculadas às lutas pela inclusão social e combate às discriminações. Antonieta Cunha, vice-presidente do sodalício, ao homenagear Conceição, afirmou que a empossada é dos nomes mais expressivos da literatura contemporânea na América Latina. Acrescentou que, em sua obra, vanguardeira, ela enfatiza temáticas sociais relevantes, sendo possuidora de requintado estilo criativo, seja em romance, conto, ensaio ou poesia. Disse: “Não por acaso, está traduzida em tantas línguas e tem recebido tantos prêmios e homenagens.”

A vibração reinante na sessão solene tomou feitio de prolongada ovação quando, na saudação, Conceição foi comparada por sua força, raça e gana à Maria cantada nos inspirados versos de Fernando Brant, na famosa música em parceria com Milton Nascimento. Espontaneamente, como se estivesse obedecendo a uma batuta invisível, um coral de vozes improvisado fez-se ouvir numa interpretação comovente da canção. Algo eletrizante!

Com palavras embebidas de emoção e ditos poéticos extraídos de sua alentada obra literária, a escritora agradeceu à Academia, amigos, convidados, familiares que superlotavam o recinto. Relembrou episódios marcantes de sua história de vida. Falou do itinerário percorrido desde os tempos em que, integrante de família humilde e numerosa, morava na antiga favela do Pendura Saia, região centro-sul de BH. Ressaltou a influência decisiva de sua mãe Joana Josefina Evaristo, mulher simples, empregada doméstica, dotada de sabedoria inata, em sua preparação para o jogo da vida.

Do pensamento vivo e pulsante de Conceição Evaristo, autora de livros acolhidos com entusiasmo pela critica e público, temos na sequência substanciosa amostra: “Eu não nasci rodeada de livros e, sim, rodeada de palavras.”/ “Minha escrita é contaminada pela condição de mulher negra”./ “Do negror de meus oceanos a dor submerge revisitada esfolando-me a pele que se alevanta em sóis e luas marcantes de um tempo que aqui está”./ “Tenho dito e gosto de afirmar que a minha história é uma história perigosa, como é a história de quem sai das classes populares, de uma subalternidade, e consegue galgar outros espaços”./ “Gosto de dizer ainda que a escrita é para mim o movimento de dança-canto que o meu corpo não executou, é a senha pela qual eu acesso o mundo”.

Encurtando a prosa: a posse de Maria da Conceição Evaristo na AML foi evento de raro esplendor.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)


A SAGA LANDELL MOURA

O instinto belicoso do bicho-homem

                                                                                                     *Cesar Vanucci Faço um premente a...