sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

MOMENTO ECUMÊNICO EMPOLGANTE

O companheiro José Monteiro da Silva, futuro Governador do Lions Clube, encaminhou-nos esta sugestiva imagem.
É muito significativa para a construção do entendimento inter-religioso entre os homens. Este é um grande exemplo a ser seguido!

A imagem teve um grande impacto sobre as redes sociais em poucos segundos. O ex-cardeal Jorge Bergoglio realizou um almoço com 15 líderes da comunidade judaica da Argentina, que desfrutaram de uma refeição KOSHER e cantaram em hebraico, na própria residência do Papa em Santa Marta, no Vaticano. Uma simples mesa redonda simbolizava um marco na história do diálogo inter-religioso. 
Algo diferente aconteceu na residência do Papa Francisco.
Os quinze líderes da comunidade judaica argentina, que tiveram a oportunidade de participar de uma reunião com o líder maior da Igreja Católica ficaram simplesmente entusiasmados.
O Papa recebeu-os como seus "irmãos" e tornou o almoço um momento "histórico".
O ex-cardeal Jorge Bergoglio sentou-se amigavelmente em uma mesa cercada por rabinos e líderes da comunidade judaica.
"Nada mais será igual. Na minha vida é algo inesquecível ", disse o presidente de uma entidade israelita que participou da reunião. "Ele tem um significado global da presença da comunidade judaica com o Papa."
Alguns dos participantes disseram ter a certeza de que foi a primeira vez que a comida Kosher foi servida, e que foi cantado em hebraico, no Vaticano.
Uma mesa simples e redonda simbolizava um marco na história do diálogo inter-religioso.
"Hine ma tov Uma Naim shevet ahim gam Yahad" foi a música que foi cantada com o Papa, e é o fragmento de um Salmo de David que diz que "como agradável e bonito é irmãos se sentarem juntos. "
Talvez o momento mais emocionante, e que causou a espontaneidade que reflete esta fotografia tão cativante, foi quando o vinho de mesa Kosher foi compartilhado e fez com que todos brindassem um  l'chaim (um brinde à vida).
(Itongadol/AJN/Rua Judaica).
                           
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As revelações do Embaixador

Cesar Vanucci *

“A guerra do Iraque poderia ter sido evitada.”
(José Mauricio Bustani, Embaixador do Brasil na França)

Em entrevista ao jornalista Paulo Moreira Leite, da revista “IstoÉ”, o embaixador brasileiro na França, José Mauricio Bustani, faz revelações que ajudam a entender como funcionam as coisas no terreno geo-político-econômico, neste nosso mundo velho de guerra. Mostra a quanto pode chegar o poder de influência das grandes potências em processos de decisão capazes de imprimir novos, inesperados e indesejáveis rumos nas vidas de nações inteiras.

Bustani é fundador e foi o primeiro diretor-geral da Opaq (Organização para a Proibição de Armas Químicas). A instituição acaba de ser agraciada com o Nobel da Paz. Por pressão dos Estados Unidos, o brasileiro foi afastado em 2002 do posto de presidente, por sustentar a versão de que o Iraque não dispunha de arsenal de armamento químico, nem tampouco representava ameaça à paz mundial, ao contrário do que apregoava a Casa Branca nos momentos que antecederam a invasão daquele país por tropas americanas e inglesas.

As autoridades iraquianas, segundo Bustani, já estavam comprometidas com a Opaq no sentido de aderirem ao pacto contra o emprego das armas químicas. É bom recordar que tanto os Estados Unidos quanto a Rússia, signatários com outros 148 países do pacto em questão, possuem até hoje, na avaliação do brasileiro, algo por volta, respectivamente, de 20% a 30% do arsenal que compuseram, ao longo dos anos, nessa modalidade de engenhos de destruição. O fato demonstra a suprema desfaçatez e incoerência da retórica que as superpotências adotam no combate que alegam mover à disseminação de armamentos químicos.

O diplomata brasileiro relata, com pormenores, o fato de haver sido procurado por um representante estadunidense, John Bolton, com ultimato para que deixasse a organização em 24 horas, devido à posição assumida na questão do Iraque. Explica também que o então chanceler Celso Lafer, no governo FHC, confessou saber que o governo dos Estados Unidos estava a exigir sua saída da Opaq, sem que da parte do Itamaraty fosse promovida qualquer diligência contrária à descabida pretensão. A ação de Washington mostrou-se eficaz. Numa inédita conferência política, convocada pelos EUA, não prevista no estatuto da instituição, a maioria dos países consultados cedeu à pressão norte-americana, opinando contrariamente à permanência de Bustani no cargo. O número de votos contrários foi quase igual ao de abstenções. O governo brasileiro de então pouco fez pelo seu representante. Não demonstrou interesse em aglutinar votos favoráveis junto a países da América Latina, Ásia e África. A destituição do cargo, nos termos ocorridos, foi a única até hoje registrada num organismo internacional. O diplomata brasileiro, inconformado, recorreu à Organização Internacional do Trabalho. Teve ali ganho de causa, tendo sido contemplado com uma indenização, doada integralmente à Opaq.

O Embaixador do Brasil registra, ainda, no depoimento, “uma outra história que poucos conhecem”. Mandou proceder, certo dia, por suspeitas de que estivesse sendo espionado, uma varredura completa em seu gabinete na Opaq. Ao derrubar uma parede, deparou-se, tomado de espanto, com um sofisticado aparato eletrônico, na mais acabada configuração exibida nos filmes de espionagem, capaz de captar qualquer tipo de conversação. Isso aconteceu à época em que, contrariando a vontade do governo estadunidense, recusou-se a confirmar, por não constituir a verdade dos fatos apurados, a existência no Iraque do formidando estoque de armas químicas que a Casa Branca alegava existir naquele país e que deu origem à devastadora guerra desencadeada pelo xerife Bush, com a prestimosa ajuda de seu fiel aspençada, Toninho Blair. Guerra essa, como sabido, deflagrada em contraposição a uma expressa recomendação da ONU e dos países membros dessa organização. E que, depois da destruição do país invadido e do tétrico balanço de vidas dizimadas, várias centenas de milhares sobretudo entre a população civil, teve o “mérito” de instaurar o “invejável sistema democrático” hoje vigente, mercê de Alá e do Pentágono, nos “pacificados” domínios do antigo império persa.

Situação “periclitante”

“A situação vai mal. Péssima, abacadabrante.”
(Como dizia o primo rico para o primo pobre)

Faço aqui singela confissão. Estremeço todo nas bases, quando leio, ouço e vejo manifestações de alguns festejados analistas econômicos, donos de apreciados espaços na mídia, a respeito das perspectivas da pátria nossa, salve, salve. Só eles mesmo, ostentando sempre no semblante, como marca registrada da espécie, invejável pose doutoral, para nos fazer enxergar, com sua clarividência oracular, a inimaginável e dorida realidade que tantos números e dados vindos a lume teimam em negar!

Em consequência do que insistentemente propagam tão abalizados comentaristas, profetas hodiernos do apocalipse, surpreendo-me até, de quando em vez, mal comparando, na pele de um cidadão grego comum, a viver as agruras e aflições produzidas pelas informações desditosas com que é continuamente bombardeado acerca da deterioração econômica e social ascendente de seu belo país, berço da civilização ocidental. A situação, portanto, pelo que  obsedantemente se proclama, caríssimos, está mal, muito mal. Péssima, insuportável, abacadabrante, como costumava dizer em divertido programa humorístico doutros tempos o Paulo Gracindo para o Brandão Filho, nos saborosos diálogos do primo rico com o primo pobre.

Já temos como certo que a produção de veículos no país, conforme registros da Anfavea, bateu novo recorde em 2013. As montadoras colocaram em circulação mais de 3 milhões e setecentos mil veículos, quase 10 por cento a mais do que em 2012. O índice de crescimento foi maior no tocante aos itens caminhões, ônibus e utilitários. Os fabricantes apostam largado em produção ainda superior no ano em curso. O presidente mundial da aliança Renault-Nissan declarou, a propósito, que nosso país será em 14 o foco estratégico de sua empresa. Os cálculos feitos são no sentido de que os produtos da montadora, compreendendo na atualidade participação de 2.2% no consumo geral, cheguem breve aos 5 por cento.

Enquanto a mesma Renault-Nissan anuncia para o primeiro semestre o início das atividades da fábrica de motores em seu complexo industrial de Rezende, RJ, a Toyota acusa em comunicado que 2013 foi o ano de seu melhor desempenho no Brasil. O índice de crescimento na produção foi de apenas, tão somente, 55 por cento. Já a Fiat faz questão de registrar outra elevação de investimentos neste país que comentários frequentes na  tevê e jornais garantem em condição econômica quase caótica. Em Pernambuco, despejará 1 bilhão e 500 milhões direcionados para o desenvolvimento de novos modelos de carros.

Noutra vereda da caminhada brasileira, toma-se conhecimento também de que a carga geral de consumo de energia, refletindo incremento nas atividades gerais, cresceu 4 por cento no ano deixado para traz. A revelação coincide com o anúncio de que a produção de soja em terras brasileiras será maior do que o inicialmente previsto. Passará a casa das 90 milhões de toneladas, com prenuncio de que a demanda interna retenha 40 milhões, ficando o restante à disposição das encomendas externas, com a certeza assegurada de que a China abocanhará parte considerável desses estoques. Outro registro expressivo ligado a sojicultora brasileira é o que diz respeito à lucratividade recorde alcançada na produção pelo sétimo ano consecutivo. A área destinada ao cultivo de soja cresceu 8.5 milhões de hectares. Apenasmente 41 por cento. De outra parte, a CONAB prevê na safra de grãos do período um incremento de 5.2%, com quase 200 milhões de toneladas colhidas. Quase mil toneladas/habitante, índice dificilmente igualado pela maioria dos países no tocante a produtos agrícolas essenciais.

A performance nacional na produção de grãos repetiu-se em Minas, que vai colher safra recorde, segundo indicadores da CONAB. Recorde histórico também foi registrado, em 2013, na produção de açúcar: quase 600 milhões de toneladas. Aumento de 11.82% face aos resultados de 2012.

Voltarei, na sequencia, a essa palpitante questão. Ou seja à história das nuvens espessas que espreitam os horizontes brasileiros – a aceitar-se a cantilena apregoada por um punhado de prestigiosos analistas da mídia - e dos números e dados que, em contraposição a essas agourentas previsões, têm sido estampados sobre o andamento positivo das atividades produtivas brasileiras. Anoto, para ciência do leitor, que os indicadores até agora apontados e os que estão ainda por ser divulgados foram extraídos, todos eles, de edições recentes do nosso “Diário do Comércio”.


A situação real do país

“Somos um dos raros países em que o nível de vida
da população não recuou (...) em meio a uma grave crise.”
(Presidenta Dilma Rousseff)

Quem tem olhos pra enxergar, ouvidos pra ouvir, quem sabe manter os aparelhos de percepção pessoal devidamente sintonizados nos lances econômicos e financeiros relevantes está calvo de saber da existência, cá dentro e lá fora, de um pessoal escancaradamente empenhado em projetar do Brasil uma imagem catastrofista que nada tem a ver com nossa pujante realidade.

A “caminhada vertiginosa” do país no “indesviável” rumo ao despenhadeiro, volta e meia retratada por algumas vozes na mídia local e internacional, ou pelas inclassificáveis agências de classificação (o trocadilho saiu em querer), com suas estranháveis análises, que fazem o gáudio da megaespeculação financeira, é desmentida a cada passo pela linguagem eloquente dos números e dos fatos. Ninguém que se contraponha a essa postura derrotista, inconsequente e longeva revela-se disposto – claro está – a sustentar, simploriamente, que tudo anda correndo às mil maravilhas por estas bandas do sul do Equador. A negar a volumosa carga de problemas cruciais a serem atacados na luta pela implantação de uma Nação mais igualitária, mais justa, mais fraterna.

Mas o que ninguém em sã consciência tem receio de admitir é a distância incomensurável, de fácil comprovação, entre as manjadas profecias do “cataclisma iminente” e as importantes conquistas feitas recentemente no enfrentamento dos desafios suscitados pela colossal dívida social acumulada ao longo de bom pedaço de nossa história. Os registros positivos se enfileiram. São de excelente tamanho para desfazer o desenho grotesco traçado na arenga morbidamente pessimista da turma do contra.

Não há como ignorar os sinais de satisfatória estabilidade econômica, de razoável controle inflacionário, de crescimento animador das taxas de emprego (em 2013, atingimos o menor índice de desemprego da história), dos ganhos significativos de renda. Uma multidão incalculável foi retirada, de poucos anos pra cá, dos domínios da pobreza aviltante, ascendendo a um novo patamar de desenvolvimento. Isso concorreu para que fossem saudavelmente fortalecidos movimentos reivindicatórios no sentido da aceleração de mudanças capazes de virem a assegurar padrões de serviços melhores a todas as classes.

Como disse Dilma em sua fala de fim de ano, “somos um dos raros países em que o nível de vida da população não recuou ou se espatifou em meio a uma grave crise”. Com programas como o “Mais Médicos”, o “Minha Casa, Minha Vida”, o “Pre-Sal”, “nosso passaporte para o futuro”, com recursos a serem canalizados majoritariamente para a educação; o Prouni e outros projetos educacionais, que abrem chance a milhões de matrículas no ensino superior; com a implantação de dezenas de novas Universidades e Escolas Técnicas; com o programa das cotas escolares; com projetos grandiosos contemplados no PAC – as usina de Belo Monte e de São Luiz do Tapajós, a fábrica de amônia da Petrobras, em Uberaba, Minas, entre outros -; com os bem sucedidos leilões dos aeroportos e em áreas rodoviárias e portuárias; com os anunciados leilões, concernentes a projetos de magnitude, na esfera da produção de energia elétrica; com a democracia funcionando a pleno vapor, o Brasil já deu e deverá continuar dando saltos significativos na tentativa de invadir o futuro.



Os indicadores negativos que despontam em nossa paisagem social, muitos deles sem dúvida bastante doridos, não podem constituir, de modo algum, fundamento sólido para alimentar essa onda sistemática e desabrida de insanável pessimismo. Nada nessas conclusões precipitadas representa a verdade do que nos está sendo acenado no porvir. Tais manifestações traduzem avaliações equivocadas da vida brasileira, formuladas por minorias desapartadas do sentimento nacional.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014


CONVITE
XX ENCONTRO CULTURAL DA ACADEMIA


Maiúscula projeção

Cesar Vanucci *

Teremos aviões à altura da necessidade de defesa do país.”
(Ministro da Defesa Celso Amorim)


Com postura altiva, reveladora de elevado grau de maturidade politica – como tão bem se ajusta às aspirações gerais de uma nação orgulhosa de sua soberania e vocação de grandeza -, o Brasil fechou o ano com duas decisões de maiúscula projeção no contexto internacional.

Uma delas foi o documento elaborado em parceria com a Alemanha levado à apreciação da assembleia das Nações Unidas, contendo proposta de criação de um marco regulatório no emprego dos recursos cibernéticos nas comunicações mundiais. A aprovação da proposta pela grande maioria das delegações com assento na organização, rodeada de simpatia e louvores, foi reconhecida pela comunidade das nações como uma contribuição inestimável à causa dos direitos humanos.

Do Brasil partiu, assim que desmascarada a conspiração com ramificações mundiais montada por órgãos de segurança estadunidenses, a manifestação de protesto mais veemente contra essa arapongagem eletrônica clandestina. A ignóbil prática alveja indistintamente governantes, cidadãos comuns, empresas e setores estratégicos de países tidos na conta de inimigos, como também de países apontados como, “aliados” da Casa Branca. A destemida manifestação brasileira encontrou naturalmente eco universal. Estimulou outros dirigentes de nações a tornarem pública sua indignação e inconformismo. Estribados nas estarrecedoras revelações de um ex-prestador de serviços das agências americanas de segurança, revelações essas que não conseguiram ser desfeitas convincentemente nas pueris notas de “esclarecimentos” do governo norte-americano, os governantes brasileiros criaram ambiência ideal para que o mundo se inteirasse de que o alegado combate ao terrorismo internacional vem servindo também de biombo para esconder ações de espionagem com fitos políticos e econômicos. Este sistema de espionagem coloca sob ameaça permanente direitos individuais e interesses grupais respeitáveis, localizados em territórios, como já dito, considerados “amigos” pelo Tio Sam.

Espera-se, nos desdobramentos do espantoso episódio, que as normas de regulamentação sugeridas sejam de molde a conter os destemperados ímpetos sherloqueanos da grande potência do norte. E, também, é de se esperar que os demais países, alertados para os riscos que correm, mostrem-se capazes de estabelecer à sua volta uma blindagem protetora face a essas arremetidas de configuração criminosa. A opinião pública universal parece, a esta altura, em estado de alerta com relação à palpitante questão. Indícios loquazes desse despertar de consciência têm surgido em diferentes lugares. Caso, por exemplo, dos vários editoriais vindos a lume recentemente nas páginas de publicações prestigiosas do Reino Unido e dos Estados Unidos, onde se proclama, com todas as letras, pontos e vírgulas, que o autor das denuncias contra as agências de segurança americanas, merece ser tratado como alguém que prestou relevante serviço à causa humana e não como um desterrado politico, ou um traidor da pátria.

O segundo grande lance de pujante afirmação politica do Brasil no plano internacional decorre da decisão tomada pela chefe do governo, assessorada pelo Ministério da Defesa, de adquirir na Suécia os caças a serem utilizados na defesa de nosso espaço aéreo. A opção, fruto de um trabalho técnico irretocável, no dizer do brigadeiro Juniti Saito, comandante da FAB, contrariou todas as especulações que vinham sendo feitas a propósito das compras. A impressão geral era de que a escolha incidiria sobre um dos demais modelos concorrentes, em virtude de seu suposto maior poder de fogo nas negociações, já que contavam com respaldo dos governos de seus países, os Estados Unidos e a França. A escolha, atendendo exclusivamente a conveniências politicas, econômicas e técnicas, colocou à prova nossa elogiável condição de independência nas grandes decisões estratégicas governamentais.

Concedeu-nos ainda excepcionais vantagens para absorção de tecnologias de ponta, essenciais no percurso de desenvolvimento de uma potência emergente.


Compensação pecuniária justa

“Precisariam ser pagos cerca de R$ 8 bilhões,
o que não representa um risco para o sistema financeiro.”
(Flávio Siqueira Junior, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – IDEC)


Aguarda vez na pauta das discussões do Supremo uma questão importantíssima, de forte impacto social e econômico. Diz respeito ao ressarcimento devido aos cidadãos e organizações lesados nos planos ditos econômicos que, no passado, alteraram as regras dos cálculos incidentes sobre os depósitos das Cadernetas de Poupança. Para os poupadores – cuidemos de reforçar a memória – sobrou o pesado fardo de arcar com os prejuízos decorrentes das famigeradas medidas emergenciais adotadas nos chamados planos Bresser, Verão, Collor I e Collor II. Um séquito de decisões desastradas que outra coisa não configurou senão um confisco de poupanças, escancaradamente à luz do dia, com reflexos dramáticos na vida do cidadão comum.

Temos acompanhado com atenção o que está sendo dito a respeito do palpitante assunto em artigos, entrevistas e depoimentos de muitos especialistas em matéria financeira e comunicadores sociais. Dá pra perceber, com certo desconforto, que essas manifestações denotam, de modo geral, maior preocupação com as repercussões na economia interna do sistema financeiro diante de eventual decisão favorável à causa dos poupadores, do que com as consequências dessa decisão na vida das multidões prejudicadas com os abusivos atos irresponsavelmente praticados pela administração pública no passado. Quer dizer, tem gente influente tomando partido ostensivo na contenda que o Supremo prepara-se para julgar. Trata-se – está na cara – de uma queda de braço que posiciona de um lado a dona de casa, o chefe de família espoliados em seus direitos e, de outro lado, a banca miliardaria do sistema financeiro. Um complexo empresarial carregado tradicionalmente de regalias, que acumula, cada dia, cada semana, cada quinzena, cada mês, cada trimestre, cada exercício, lucros estratosféricos. Os maiores, por sinal, registrados nas atividades bancárias de toda Via Láctea. A “isenta” torcida de boa parte dos comentaristas a se ocuparem do assunto é para que o pêndulo da balança no STF se incline- ora, veja, pois! – para o lado mais poderoso. E bota poderoso nisso!

Os Ministros da Suprema Corte, por uma mera questão de justiça e de singelo bom senso, não vão ter como se furtar ao dever de reconhecer a inconstitucionalidade dos critérios da correção da poupança adotados naqueles momentos de nada saudosa recordação para os investidores em cadernetas de poupança. E definir, com base nesse reconhecimento, alguma fórmula razoável de compensação pecuniária.

E se alguém, desavisadamente, sentir-se propenso a admitir como correta a tese de que uma decisão favorável aos poupadores precisa ser a todo custo evitada, de modo a não “prejudicar” as atividades econômicas, “tumultuar” a rotina lucrativa ascendente das organizações bancárias, cuide, por favor, o prezado leitor de aconselhá-lo a inteirar-se de uma fala pontifícia recente. Aquela fala em que Francisco fustiga as situações circunstanciais deste momento delicado da história humana em que setores hegemônicos na vida econômica e politica conferem à economia uma primazia indevida, apresentando-a de forma icônica como um fim em si mesma, não como meio para se atingir um fim. Fim que deve ser sempre social. Situações assim concorrem para que ocorram opções equivocadas, como a que é proposta por “especialistas”, favorecendo bancos em detrimento da sociedade.



sexta-feira, 17 de janeiro de 2014


XX ENCONTRO CULTURAL DA ACADEMIA


São números surpreendentes

Cesar Vanucci *

“Em matéria de recursos públicos, o que se desperdiça
constitui verdadeira afronta aos direitos humanos.”
(Antônio Luiz da Costa, educador)

Uma das teclas mais marteladas na rebelião das ruas em junho passado foi o gasto exagerado com a construção e adaptação de estádios para a Copa. E não é que os manifestantes estavam entupidos de razão? Dados e números de fontes qualificadas, recentemente trazidos ao conhecimento público, provam a procedência do clamor popular. Levantamento da consultora suíça HPMG sustenta que os gastos brasileiros com a preparação dos estádios superam os das últimas edições da Copa. A de 2006, na Alemanha, e a de 2010, na África do Sul.

A avaliação toma por base, nos cálculos procedidos, a quantidade de assentos disponíveis nas arenas esportivas. Estabelece, consoante com tal metodologia, um ranking em matéria de custos que mostra nosso país, numa lista de 20, com a metade dos estádios mais caros do mundo.

O “Mané Garrincha”, de Brasília, figura no terceiro lugar da relação, atrás de dois estádios ingleses, o Wembley e o “Emirates Stadium”, pertencente ao Arsenal. Sua construção, de acordo com o critério apontado, chegou aos R$20.770 por assento, enquanto que os valores despendidos nos dois outros estádios citados foram respectivamente de R$32.480 e R$23.370.

Na sétima colocação, o Maracanã custou R$15.640. A Arena da Amazônia, décima posição, custou R$13.780. O Itaquerão, em São Paulo, vai ficar em 12º lugar: R$12.820 por assento. Em 13º, a Arena Pantanal (R$11.860); em 14º, a Arena Pernambuco (R$11.540); em 15º, a Fonte Nova, Bahia, com R$10.570; em 19º, o Mineirão, com R$10.250; em 17º, o Castelão (R$8.970); e em 20º, a Arena das Dunas (R$7.690,00).

Um estudo paralelo concernente ao mesmo tema, este elaborado pelo Instituto Braudel em colaboração com a ong “Play the Game”, ambas também europeias, revela que cada assento nos doze estádios brasileiros que sediarão jogos do Mundial custaria R$13.500. As médias apuradas por assento nas arenas das Copas da África, Alemanha, Japão/Coreia foram, respectivamente, de R$12.100, R$7.900 e R$11.600,00.

Esses levantamentos todos apontam outras cifras para efeitos comparativos. O novo estádio Wembley, na Inglaterra, ficou em R$ 2 bilhões, 920 mil reais. O estádio de Brasília tem custo estimado de R$ 1 bilhão, 430 mil reais. Na nova arena da Juventus (Itália), incluída no ranking em 18º lugar (R$9.290 por assento), foram aplicados R$ 384 milhões de reais.

Esses dados e números suscitam algumas considerações e interrogações. Vamos lá a algumas, das mais chamativas. Por que cargas d’água, essa decisão de se construir o Itaquerão, em São Paulo? Não seria mais correto, e provavelmente, bem menos dispendioso optar-se pela modernização de um estádio já pronto? Caso, por exemplo, do Morumbi? Adiante. Em Manaus e Natal ocorreram fatos totalmente desprovidos de um mínimo de bom senso. Colocou-se abaixo, na capital amazonense, um estádio de 40 mil lugares, implantado em 1970 dentro de concepção arquitetônica bastante elogiada na época, para erguer-se uma outra arena. Algo similar ocorreu no Rio Grande do Norte. Uma arena nunca utilizada na plenitude de sua capacidade foi jogada no chão, para ser substituída por um estádio com o dobro de assentos. Como explicar isso?

O tema clama por outras observações. Os custos do Maracanã e do Mineirão são – pra dizer o mínimo – surpreendentes. Afinal de contas, ambas as arenas, de feição arquitetônica moderna, majestosas, em condições de acolher multidões, já tidas antes de envergarem suas novas e vistosas roupagens como marcos referenciais entre os estádios do mundo, passaram por um processo de adaptação danado de dispendioso, envolvendo cifrões superiores aos de outras arenas nascidas do nada. Precisava ser mesmo assim? O Comitê Organizador da Copa está na obrigação de prestar à opinião pública os esclarecimentos necessários acerca dessas elevadas aplicações nas obras de reforma desses estádios. Aliás, falar verdade, os esclarecimentos por todos aguardados terão que abranger o conjunto inteiro das ações levadas avante com o aplaudido objetivo de fazer da Copa de 2014 um evento histórico.

A circunstância de parte dos recursos investidos derivarem de fontes privadas não desobriga, de maneira alguma, os órgãos governamentais do dever de oferecerem à apreciação da sociedade uma prestação de contas de transparência solar. Até porque não se pode deixar de lado a marcante a participação do BNDES e de outros Bancos oficiais nos investimentos.

De outro lado, os dirigentes do Comitê Organizador do torneio necessitam, também, se conscientizarem de um indeclinável dever. A abertura, com urgência, dos debates a respeito do que poderá ser feito, tão logo concluídos os jogos, no sentido de impedir que alguns estádios se transformem em “elefantes brancos”. Ou seja, em afrontosos monumentos ao desperdício.

Violência urbana

“Por conta da estupidez humana, as grandes cidades,
não importa o país, banalizaram de tal forma a violência
 que os moradores acabam se sentindo, às vezes,
em certos lugares, protagonistas de filmes de terror.”
(Antônio Luiz da Costa, professor)

A informação registrada a seguir não pode servir, jeito maneira, de consolo pra ninguém, como dado comparativo pertinente à violência urbana imperante aqui ou alhures. Vale simplesmente como uma amostra assustadora a mais do clima de sobressalto que alveja hoje de forma impiedosa o ser humano. Não apenasmente e tão somente em terras brasileiras, mas em tudo quanto é canto deste convulsionado planeta azul.

Caso é que um jovem brasileiro, de Uberlândia, Minas Gerais, desapareceu no mês de novembro passado, em circunstâncias alarmantes, na cidade de São Francisco, Estados Unidos. Intelectualmente bem dotado, dominando fluentemente quatro idiomas, perspectivas de carreira brilhante, ele fazia ali curso de especialização em desenho industrial. Pessoas da família e amigos, além da própria policia do lugar, receberam em derradeiros contatos ligações telefônicas dele, dizendo-se perseguido e clamando por socorro. Muitos dias angustiantes transcorreram sem qualquer informação que levasse ao seu paradeiro. Só agora, no finalzinho do ano, o corpo do moço acabou sendo finalmente localizado na baia da cidade. Para chegar até ai, a família viu-se compelida a acionar gente importante do governo. Conseguiu desse modo apressar as investigações.

Naturalmente traumatizados com a dolorosa ocorrência, sem se inteirarem ainda dos detalhes misteriosos que envolveram a morte do rapaz, puderam constatar, durante permanência nos Estados Unidos para a identificação e o funeral, que outros oito jovens latinos, da mesma faixa etária, também foram dados como desaparecidos na mesma ocasião, naquela ciclópica metrópole americana. Fizeram outra constatação não menos dolorida: no departamento de medicina legal de São Francisco, 1.200 corpos jazem em gavetas mortuárias à espera de identificação. Mais: o órgão responsável pelas perícias médicas dispõe de apenas um único legista pra cuidar de um problemão com toda essa proporção.


Como dito no início, as revelações erguidas documentam um capitulo a mais numa tragédia de caráter universal: a violência urbana, nos grandes centros sempre acompanhada de assustadores indícios da impotência dos sistemas de segurança pública no sentido de enfrentá-la.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Ficção e realidade


Cesar Vanucci 

"Surpreendi-me noveleiro depois de aposentado.
Não perdi um só capítulo de'O direito de nascer'."
(Antônio Luiz da Costa, professor)

A televisão herdou, no capítulo das novelas, alguns macetes do rádio. Junto com outro tipo de herança: a absorção, pela telenovela, de talentosos autores, atores e diretores consagrados na radionovela. A radionovela distinguia-se, nos áureos tempos do rádio, do radioteatro. Era de duração longa, apresentação diária. Assim que acabava uma história, o horário passava a ser ocupado por outra radiofonização. A radionovela que deixava o ar e a que entrava mereciam, na programação, insistentes e persuasivas chamadas. Já o radioteatro podia ser definido como uma novela de tamanho menor, transmitida esporadicamente. Tá na cara que esse modelo inspirou a televisão, quando criou, junto com a telenovela, a minissérie. Essa, também, novela de curta duração.

Retomemos o relato sobre as emoções desenfreadas dos ouvintes nos bons tempos das novelas de rádio. Nélio Pinheiro era costumeiramente escalado para papéis de galã, diferentemente de Rodolfo Mayer, convocado sempre para vilão nos folhetins radiofonizados da Nacional. Dono de voz expressiva e envolvente, exercia no público um fascínio comparável ao que se percebe hoje na televisão, em relação ao desempenho de Tony Ramos, Antônio Fagundes, por aí.

Numa trama determinada, seu personagem "descendia" de uma família da Beira, em Portugal. Tomado de estupefação, Nélio recebeu um dia nos estúdios um grupo de cidadãos lusitanos, todos oriundos daquela região, radicados no Rio de Janeiro. Os entusiasmados visitantes, exibindo documentos, fotos, transmitindo depoimentos em viva voz procuraram, com vigoroso empenho, estabelecer com o ator um vínculo de parentesco próximo. Até passagens da "infância", pródiga em "traquinagens" dos tempos em que "viveu" na Beira, foram "relembradas". Deu trabalhão danado explicar que os personagens e fatos retratados na novela eram pura ficção. Não passava de mera coincidência toda e qualquer semelhança com nomes e lugares da vida real.

Noutro seriado, a mocinha do papel central, defendido com competência pela radioatriz Zezé Fonseca, comeu o pão que o diabo amassou por culpa das armações inimigas. Mas como diz o ditado, não há mal que sempre dure. Veio dai que no desfecho a jovem acabou recompensada por tanto sofrimento. Encontrou seu príncipe encantado, filho obviamente de seu principal algoz. A ele se uniu pelos laços indissolúveis do matrimônio, sendo feliz para sempre. Nas imediações do casamento de mentirinha, pipocou algo fora do enredo. Um mundão de ouvintes entendeu de participar, à sua maneira, da celebração. A heroína recebeu felicitações e presentes à pamparra. Enxovais, eletrodomésticos e outros utensílios para o lar. Além, está claro, de hospedagens em locais paradisíacos para desfrute da merecida lua de mel...

Como dá pra ver, o desconcertante entrelaçamento da ficção com a realidade no imaginário popular, traduzido em episódios jocosos, não é coisa de agora, destes tempos televisivos. A história do rádio de antanho, quando a radionovela e os programas de auditório abriam as portas da fama para artistas, igualzinho faz hoje a televisão, é pródiga em registros reveladores desse descompassado estado de espírito de alguns viventes.

Volto à radionovela no capítulo vindouro.


Não sobrou ninguém

"É prá já!"
(João David, autor de novela,
 instado a apressar o desfecho da trama)

A mania nacional da radionovela levou, na década de 50, muitas PREs do interior a criarem esquema próprio de produção. Os radioatores, radioatrizes, autores ou adaptadores de textos eram recrutados no meio artístico local. Cumpriam as tarefas ou por desprendido amor à arte, ou em troca de módicos cachês semanais. As radiofonizações saiam ao vivo. Nada de gravações, artifício técnico inacessível aos minguados orçamentos das emissoras. No Rio e em São Paulo, pequenas empresas dedicavam-se à elaboração de textos melosos para suprir as necessidades da radionovela interiorana. O estilo lembrava romance de madame Delly, autora de grande aceitação junto ao público leitor feminino. Funcionava também nas capitais como opção, implicando em custos evidentemente maiores, uma central de produção, que se valia do concurso de radialistas consagrados. Ela garantia capítulos prontos, gravados.

A PRE-5, Rádio Sociedade do Triângulo Mineiro, de Uberaba, pioneira nos Vales dos rios Grande e Paranaíba, naqueles vastos e férteis chapadões do Triângulo, apostou na radionovela própria. A emissora, ligada ao grupo "Lavoura e Comércio", que deixou de circular há poucos anos depois de uma trajetória centenária, abriu caminho, no mundo da comunicação e do espetáculo, para um punhado de celebridades. Entre muitos outros: Urbano Vanucci Loes, que compôs com Cesar Ladeira, Carlos Frias, Celso Guimarães e Luiz Jatobá o time dos grandes locutores do rádio; Gontijo Teodoro, futuro "Repórter Esso"; e Augusto Cesar Vanucci, que veio a conquistar no teatro, cinema e televisão expressivos prêmios, inclusive o "Emy", nos Estados Unidos, e o "Ondas", na Inglaterra. O seu “Emy”, em 1981, foi por sinal o primeiro da série de dez arrebatados por artistas da Globo até o ano de 2013, quando o laurel foi conferido à fabulosa Fernanda Montenegro.
O "cast" da E-5, como era de bom tom dizer-se na época, agregava gente de valor. Alguns deles: Altiva Glória Fonseca, dona de lindíssima voz; Silvia Riccioppo, cantora lírica e atriz teatral de méritos; Jonas Garret, José Vianna, Raul Jardim, Sebastião Costa, que acumulava as funções de contrarregra. Do elenco infantil faziam parte o já citado Augusto Cesar; este locutor que vos fala; e a talentosa Valia Vieira, filha do diretor da emissora, o saudoso Waldemar Vieira, que aliava ao perfil de humanista incomum capacidade de ação.

Se a memória não tá a fim de me trair, "Armadilhas do destino" o nome da novela. João David, o autor, tabagista inveterado, cigarro pendurado nos lábios, pigarro constante, dedos amarelecidos pela nicotina, aprendera do ofício na Excelsior, de São Paulo. Numa Remington manipulada freneticamente ia desovando com talento os capítulos de cada dia. As cópias, em papel carbono, com uma ou outra correção a lápis, eram distribuídas pouquinho antes do capítulo ser jogado no ar, tempo às vezes insuficiente para os radioatores treinarem as inflexões corretas das falas. Seja como for, o público parecia gostar da coisa. Muitos ouvintes compareciam, assiduamente, ao auditório, conhecido por "majestoso salão grená", para acompanhar de perto a trama "encenada" no palco, se é que assim possa ser dito. Em "Armadilhas do destino", as tragédias pessoais com óbitos frequentes, se acumulavam. E como a novela já se espichasse por longo tempo, o patrocinador recomendou a João David que apressasse o desfecho. O autor não se fez de rogado. Anunciou, resoluto: "É pra já!". Botou os personagens remanescentes num ônibus em viagem tumultuada por estrada coalhada de precipícios e engendrou um derradeiro desastre. Não sobrou ninguém pra contar história.




sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

A vida é uma telenovela

Cesar Vanucci *

"A televisão, portadora do dom da ubiquidade, dá a milhões de
 telespectadores a impressão de real participação na vida do mundo."
(Fraser Bond)


O Brasil sempre para na hora em que a dramaturgia televisiva, quebrando às vezes um suspense de meses, resolve lançar no ar os epílogos eletrizantes da novela das oito. Novela que, simbolicamente, neste país em que a impontualidade costuma se revestir de toque charmoso, começa todos os dias entre oito e quarenta e nove horas. Voltando aos desfechos das tramas. Na hora, o movimento de veículos nas ruas cai. Os barzinhos da moda são deixados às moscas. Os papos telefônicos entre amigos ficam reduzidos ao mínimo e o ddd funciona com capacidade sensivelmente reduzida. O volume de assaltos decresce. Consta, até mesmo, que quadrilhas rivais do Morro do Boréu, na conflagrada Guanabara,  concordam, nesses momentos, em deixar prouta ocasião a tradicional troca de tiros com que assinalam sua tétrica presença nas noites cariocas.

Desfeitos os insondáveis mistérios novelescos, objeto em dias anteriores de ruidosas especulações nas filas de ônibus, repartições, reuniões familiares, nas pausas parlamentares para o cafezinho, tudo retorna à rotineira normalidade. Se é que a expressão normalidade se apresente adequada para definir nosso efervescente dia-a-dia!

Para imensa maioria, inseridos aí alguns estudiosos do comportamento humano, essa singular paixão brasileira por novelas, detectada em todas as categorias sociais, é fenômeno característico da trepidante era televisiva. Proporcionando entretenimento de acesso fácil, a TV brasileira é tocada com inegável talento. Produz programação reconhecidamente superior à das demais estruturas que operam no gênero em outras partes do mundo. No capítulo da dramaturgia então, graças a um excepcional time de atores, autores, diretores e técnicos, que conhecem de cor e salteado tudo do ofício abraçado, conseguiu estabelecer um padrão de espetáculo, pra falar verdade, inigualável. A boa qualidade do produto ajuda a explicar o hábito devocional do público com relação às histórias levadas ao ar em sequência que se arrasta por infindáveis meses.

Mas o que nem todos sabem é que essa fissuração do brasileiro por enredos seriados antecede em alguns anos a chegada da televisão. Os sinais mais remotos dessa singular inclinação vêm dos tempos da fita-em-série, comecinho do cinema falado. A tendência ganhou força muito grande na época luminosa da radionovela. No iniciozinho dos anos 40, mais precisamente no dia 12 de julho de 1941, brotou no país, por obra e arte da Nacional – uma espécie de Rede Globo em versão radiofônica -, a mania da novela de rádio. A emissora recorreu, inicialmente, a textos adaptados de autores cubanos e mexicanos, na base do dramalhão. A partir de 1947, abriu espaço para tramas boladas por autores nacionais. A radionovela galvanizou as atenções dos ouvintes. Igualzinho ocorre hoje em certos horários sagrados da televisão, viventes de todas as esferas comunitárias ficavam antenados nos capítulos da novela das dez, das 14 horas, das 19 horas, das 22 horas. As reações eram semelhantes às de agora. Sofria-se muito com o drama das heroínas perseguidas por vilões inescrupulosos. As situações vividas por radioatores famosos acabavam se incorporando às emoções do cotidiano da gente do povo. E isso gerava reações inacreditáveis, com a ficção assumindo, às vezes, contornos de realidade no imaginário dos mais simples.

Como não poderia deixar de ser, em se tratando deste tema, ficam para o próximo capítulo outras informações acerca da mania das novelas.


A radionovela nasceu em 47

"O que o rádio faz é devolver à voz humana
 o relato das histórias e a narração dos acontecimentos".
("Saturday Review of Literature")


Abro o capítulo de hoje sobre novelas informando que a primeira radionovela com texto genuinamente brasileiro, de autoria de Oduvaldo Vianna, o pai, foi lançada pela Rádio Nacional em 1947. E para os que hoje tanto se espantam com as tramas seriadas intermináveis da televisão vai aí outra revelação curiosa. O dramalhão "Em busca da felicidade", de autoria de Leandro Blanco, adaptação de Gilberto Martins, que garantiu a escalada da celebridade a vários radioatores e radioatrizes nos tempos dourados do rádio, espichou-se em capítulos diários por três anos. Vejam só a que altura inimaginável chegou a vibração do radioouvinte com a tal novela! Numa determinada passagem da folhetinesca narrativa, a heroína ganhou bebê. Antes do “parto” a emissora foi bombardeada com milhares de sugestões de nomes a serem levados à pia batismal pelos "pais" e "padrinhos". Quando do "nascimento" do menino surgiu a necessidade de se montar um depósito para guardar os presentes, de procedências as mais variadas, encaminhados à "mamãe jubilosa", protagonizada por Isis de Oliveira. Roupinhas, fraldas, cueiros, brinquedos, por aí. Sem falar nos telegramas de felicitações aos felizes "genitores", extensivos aos "avós"...

Temos visto e ouvido, com frequência, atores comentando a maneira surpreendente com que são, por vezes, recebidos em locais públicos por parte de vibrantes telespectadores. As reações relatadas vão do olhar de reprovação ou palavra de "repreensão" por alguma "atitude condenável" tomada pelo personagem vivido na telinha, ao aplauso encorajador pela "firmeza" ou "destemor" por ele “demonstrados” no desempenho do papel.

Já era assim na época da radionovela. No início dos anos 60 integrei, por indicação dos Professores Cristiano Barsante e Isabel Bueno, titulares da Seccional de ensino do Triângulo Mineiro, o primeiro grupo de trabalho composto no Brasil, em iniciativa do Ministério da Educação, para fazer estudos sobre a estruturação de uma rede de rádio e televisão educativos. Éramos 25 pessoas atuando sob a coordenação do educador Pe. Montezuma. Caçula da equipe, minha designação nasceu do fato de atuar como professor no curso de jornalismo da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santo Tomaz de Aquino, da Ordem Dominicana, o primeiro implantado em Minas, ser dirigente de um colégio, editor geral do diário católico de Uberaba (13 mil assinantes), diretor da sucursal regional de um jornal de BH e produtor radiofônico.

Travei contato, na prazerosa atividade, com alguns craques da radionovela. Inteirei-me de casos inacreditáveis. Trago alguns deles ao conhecimento de meus 25 confessos leitores. Rodolfo Mayer, muito celebrado também como ator teatral pela performance em "Mãos de Eurídice", peça que percorreu notável trajetória nos palcos brasileiros, "azucrinou" a mais não poder a "paciência" da doce, meiga e ingênua "heroína" Zezé Fonseca, numa trama de larga audiência. Algo parecido com o que outros protagonistas de “mau caráter” andam aprontando, constantemente, nos folhetins da tevê. Algumas respeitáveis senhoras de meia idade, parece que do Andaraí, combinaram de visitá-lo nos camarins da Rádio Nacional. Em lá chegando, devidamente identificadas como fãs do excelente radioator, "mimosearam-no" com toda sorte de impropérios, chegando a ameaçá-lo de coça com sombrinhas, o que só não ocorreu devido a pronta intervenção de seguranças. Tudo por causa dos "ardis" e "maldades" insistentemente cometidos.

Minhas lembranças das novelas radiofônicas rendem adiante mais capítulos.


A SAGA LANDELL MOURA

O instinto belicoso do bicho-homem

                                                                                                     *Cesar Vanucci Faço um premente a...