sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Obsessão sim, mas benfazeja

Cesar Vanucci

“A cobiça em riba da Amazônia não é de hoje, vem de longe.”
(Danilo Gomes, jornalista e escritor)

Vários leitores lisonjeiam, com amáveis referências, este desajeitado escriba pelo trabalho de anotar, neste acolhedor espaço, informações sobre as ameaças de internacionalização da Amazônia, ardentemente desejada por gringos de diferentes sotaques.

Um dos acompanhantes frequentes destas maltraçadas, aludindo à frequência com que o tema é abordado, considera-me “um obcecado pela Amazônia”. Tento explicar, agora, o que não consegui fazer no contato telefônico. Há uma obsessão para o bem e há uma obsessão para o mal. A primeira pode ser rotulada como não? de santa. Ghandi foi um obcecado pela paz. Tereza de Calcutá tinha obsessão pela solidariedade social. Recomendava com contagiante entusiasmo: “Ame até doer!” JK, volta e meia evocado nestes empobrecidos tempos de lideranças autênticas e de ideias fecundas, mostrou-se um “possuído” incorrigível pela causa do desenvolvimento.

Pensando bem, muitas são as causas de interesse humano que fazem jus a esse tratamento obsessivo e benfazejo. Trata-se de uma forma de espalhar boa contaminação vibratória no plano das ideias e ideais que conferem dignidade a aventura da vida. Reconheço-me, portanto, humildemente, nesta história da Amazônia, alguém apoderado de cívica obsessão.

As furibundas campanhas desenvolvidas no exterior valem-se de toda sorte de artifício para desacreditar o Brasil. Como já revelado, as ameaças são introduzidas em tribunas e manchetes de largo alcance, na programação subliminar de orientação  didática, em gibis onde super heróis enveredam por “beneméritas ações” em “defesa da humanidade” no deslumbrante e riquíssimo cenário amazônico. Um pedaço dadivoso de chão “dominado” por cruéis vilões empenhados em aprontar malfeitorias sem fim para acabar com a vida neste planeta azul... Os cruéis vilões, adivinhem só, somos nós outros. Nestas encenações de rematada hipocrisia e farisaísmo, impulsionadas por desmesurada e inocultável ambição colonial, os porta-vozes desses interesses sorrateiros antibrasileiros procuram ocupar lugar no coro dos clamores bem intencionados de grupos ambientalistas. Grupos esses inconformados com os danos provenientes do desmatamento ou com o tratamento dispensado às populações indígenas.

O que existe para verdadeiramente ser feito, neste capítulo, é a aplicação de medidas rigorosas contra tais atos execráveis, com apuração severa de responsabilidades e penalização dos culpados. A majestosa paisagem amazônica não pode ser largada à sanha criminosa de ninguém...

Junto com a ofensiva contra agressores ao meio ambiente faz-se imprescindível, ainda, uma mobilização de recursos que responda aos desafios reclamados pelo progresso da região, com resolutas políticas econômicas, sociais e de segurança. Não podemos deixar de repelir as inadmissíveis chantagens que recobrem de falsa preocupação ecológica aquilo que não passa, pra dizer verdade, de insopitável e voraz desejo alienígena de rapinagem econômica e política.

Cuido na sequência, enriquecendo-as, de incorporar às minhas reflexões texto bastante pertinente encaminhado, a propósito do candente tema, pelo conceituado jornalista e escritor Danilo Carlos Gomes: “Mestre Cesar Vanucci, de fato, a cobiça em riba da Amazônia não é de hoje, vem de longe. Vem do século XIX. Não sou inimigo dos EEUU, não tenho essa maluquice de "Fora, yankees!", não tenho cegueira ideológica, não sou um maluco  e atrasado  bolivariano (coitado de Bolivar!), mas não posso concordar com o olho gordo de Washington em cima da Amazônia. Os ingleses também nos deram dor de cabeça, naquela época, com a tal “Questão Christie” (creio  que em 1863). Defendamos o nosso território da cobiça alheia, sem ranços ideológicos, mas com apoio seguro no Direito Público Internacional. Como fizeram Ruy  Barbosa, o Barão  do Rio Branco e  outros  estadistas do passado. Obrigado pelos ensinamentos.”


Uma orquestração quase silente

 Cesar Vanucci

“...grande ardil internacional.”
(Jair Barbosa da Costa, escritor, referindo-se às ameaças externas pela internacionalização da Amazônia)

Como anotado aqui, vem sendo compreensivelmente grande o interesse despertado pela sequencia de artigos referentes à cobiça estrangeira sobre o brasileiríssimo território amazônico junto ao escasso – posto que leal – leitorado deste desajeitado escriba, com suas bem intencionadas e quiméricas intepretações do jogo da vida, Adicionamos hoje, às considerações alinhadas a respeito do efervescente tema, observações valiosas formuladas pelo escritor, jornalista, crítico literário, acadêmico Jair Barbosa da Costa, oficial graduado reformado dos quadros da Polícia Militar mineira.

Ele, o autor da mensagem a seguir reproduzida: “Impressionante seu resumo a apresentar todos os núcleos-significativos essenciais à compreensão do quadro de terror estrangeiro contra nossa Amazônia, ou melhor, a favor de sua posse por organismos internacionais. Essa orquestração, meu caro Vanucci, quase silente embora, por se tratar de grande ardil internacional objetivando a invasão da Amazônia brasileira, poderia muito bem ter sido interrompida caso nosso Congresso Nacional fosse voltado para a defesa da integridade territorial brasileira, e o Governo, também, protestasse junto aos organismos internacionais contra esse coro de gafanhotos gringos, sedentos do que não lhe pertence; preparasse um documento do qual constassem os pormenores de suas manifestações e os divulgasse aos quatro cantos da Terra para que todos tomassem conhecimento desse plano diabólico. Enquanto não o fazem, nobre companheiro Vanucci, sugiro-lhe encaminhar essa preciosa síntese do "olho gordo" aos poderes da República e aos veículos de comunicação de massa (imprensa e tevê) do País. Estou convencido de que será surpreendido com a repercussão de seu esforço. Fiz semelhante denúncia, quando o governo de Fernando Henrique Cardoso entregou a vigilância da Região Amazônica ao Projeto SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia), uma empresa norte-americana.  O milho vigiado por raposa. (artigo publicado no Estado de Minas, sob o título Novas emanações de Brasília, de 20 de nov. de 1995, pág. de Opinião).”
Reputamos oportuna a reprodução do artigo citado. Vem na sequência o que foi escrito por Jair Barbosa da Costa, focado no contexto político daquele momento. “Novas emanações de Brasília. Não é sem motivo que O Corvo, do célebre poeta e contista norte-americano, Alan Poe, foi evocado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, em seu discurso de represália aos que suspeitam da falta de transparência e até de comprometimento moral de seus auxiliares diretos, no Projeto de Vigilância da Amazônia.
Há pouco mais de dez anos, narrávamos, sob metáforas, os fétidos odores que exalavam dos gabinetes acarpetados do Planalto. À época, tiveram de apelar para o gênio de Sabin, porquanto nenhum sanitarista havia conseguido detectar o gérmen que a todos contagiava – era a corrupção generalizada.
Depois, a efeméride Collor e os quarenta ladrões, capitaneados por P.C.Farias. “E agora, José?” – perguntaria o poeta – Seria concebível a contaminação do mesmo vírus brasiliensis, ainda não erradicado na equipe de FHC?
“Num mundo como o nosso, praticar ciência social é, em primeiro lugar, praticar política da verdade.“ – ensina C. Wrigth Mills, em sua obra A imaginação sociológica. Ora, não é mais tempo de dizer, despoticamente: “Eu sou presidente!”, em vez de justificar os atos oficiais, perante o povo e o Parlamento, que têm o direito de cobrar, de querer ser informados, sobretudo num regime democrático.
Frágeis estão os alicerces da sociedade brasileira, porque abalados por tantos e sucessivos terremotos éticos e morais. E Fernando Henrique Cardoso não o sabe? Então não devia angustiar, ainda mais, essa gente sofrida e perplexa.
O Congresso deve ou não deve imediata satisfação ao povo sobre o “escândalo do SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia)”? Por que S.Exa. não deixa abrir-se a cortina dos bastidores palacianos? Os corvos de sua retórica estariam, hoje, mais ávidos pela ambiência malcheirosa do que nos governos anteriores? Quem poderá sabê-lo?
Vai ser muito difícil grampear a boca daqueles que, em sua maioria, aprenderam a dizer sim às propostas neoliberais, mas, nesta circunstância, acicatados pela imprensa, vigilante e independente, estão dispostos a esclarecer os fatos.
A corrupção começa a obnubilar a capital do País. Os cafés-da-manhã, almoço com os comandantes militares descontentes, reuniões sigilosas com os “fiéis companheiros” – nada disso amenizará o clima de tensão e a expectativa criados com a substituição do ministro da Aeronáutica; a indiferença ao relatório do senador Gilberto Miranda, em que pede o arquivamento do malfadado projeto; a protelação, sem justa causa, de uma CPI, requerida pelo deputado Arlindo Chinaglia, para se apurar a suspeita de tráfico de influência nesse assunto, sem falar da tentativa de desmoralização da Polícia Federal. Esperamos que o presidente diga à imprensa e ao povo: “Sou mero gestor da República. Meu jogo é limpo. Venham conferir. Entrem que a Casa é sua!”

Riquezas do Brasil

Cesar Vanucci


"Amazônia: maravilha da vida, benção para o Brasil e para o mundo."
(“Campanha da Fraternidade de 2007”, da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB)


Foi na época em que a Vale do Rio Doce, segunda maior empresa nacional, estava sendo desestatizada. Pra deixar bem claras as coisas, "desestatizada" a preço de banana nanica adquirida como refugo no Ceasa para distribuição em sacolão de arrabalde.

Pois bem, na época em questão, figuras eminentes, entre elas o saudoso Arcebispo de Mariana Dom Luciano de Almeida, levantaram como hipótese de trabalho a ideia de que as jazidas auríferas exploradas pela empresa pudessem vir a ser vinculadas a um projeto social de magnitude atrelado aos superiores interesses nacionais. A operacionalização – enfatizou-se então - ficaria a cargo da própria União. Ou de uma organização capacitada a dar efetivo cumprimento à proposta tal como concebida. A recomendação foi recebida com desdém. Vê lá se os doutos integrantes da nomenklatura que há anos toma, em nome do povo, as decisões econômicas e sociais que regem nosso maltratado destino iriam conceder alguma fatia de seu tempo precioso para o exame de questões de somenos, que nem essa!... Ora, veja, pois!

O caso das colossais reservas diamantíferas da Amazônia, aflorado anos depois por conta de litígios envolvendo índios e garimpeiros, traz de volta, de quando em vez, pela sua candente oportunidade e pertinência, a sugestão formulada na ocasião mencionada por categorizadas lideranças. Já disse aqui, várias vezes, repetindo agora, que a operacionalização, por vias clandestinas, na linha das conveniências de malfeitores internacionais, das riquezas minerais do dadivoso subsolo amazônico clama por pronta e vigorosa intervenção do Estado. Escoro a observação numa revelação espantosa: em apenas dois anos – dados divulgados tempos atrás - o contrabando de diamantes na região chegou a movimentar – pasmo dos pasmos – algo em torno de dois bilhões de dólares. Tem mais: os números citados, como se comprovou adiante, foram subestimados. Do retificativo procedido por especialistas brotou, então, a informação de que a máfia dos diamantes, agindo impunemente, fazendo uso até mesmo de campos de pouso exclusivos, estava conseguindo transportar pra fora do país riquezas avaliadas em 27 bilhões de reais por ano, ou seja 4 vezes mais do que o valor inicialmente anotado.

Números tão atordoantes, façam-me o favor, clamam por permanente atenção, em caráter de prioridade e urgência, para a área. Intervenção firme e vigorosa, com aparato logístico militar. Tem-se que impedir, para todo sempre, o desvio de recursos tão volumosos de sua legítima destinação, que outra não pode ser senão o bem-estar social do povo brasileiro. Povo que é o único e insubstituível proprietário do gigantesco patrimônio mineral, objeto pelo que se sabe de dilapidação por parte de índios ingênuos ou espertalhões e de garimpeiros abusados, todos a serviço de contrabandistas inescrupulosos. Nenhuma dessas facções, óbvio está, ligando a mínima ao sagrado interesse da Nação.

É preciso proclamar, hoje e sempre: essa história das agressões consentidas na Amazônia tem que render, nalgum momento, eficazes desdobramentos político, social, militar, econômico capazes de resguardar a soberania brasileira e colocar sob rigorosa proteção as imensuráveis riquezas armazenadas naquele pedaço de chão brasileiro. Riqueza nossa, toda nossa, exclusivamente nossa.

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

O Papa e a Amazônia

Cesar Vanucci

“...As propostas de internacionalização da Amazônia só servem
aos interesses econômicos das corporações internacionais.” (Papa Francisco)

A constância com que o carismático Papa Francisco é aqui evocado decorre da circunstância de que, em seu refulgente pontificado, além de mentor espiritual acatado por multidões, ele é aclamado como o mais qualificado estadista da história contemporânea. Nenhum tema de alta relevância, alusivo às angustias humanas, é desconsiderado em suas argutas percepções da vida.

Recente manifestação desse líder religioso vindo dos confins do mundo, como faz questão de dizer, abordando com firmeza e lucidez as sempre candentes questões da Amazônia, deixa novamente explicitado o seu singular e propositivo estilo de liderança. A palavra está com Francisco: “Mencionemos, por exemplo, os pulmões do planeta repletos de biodiversidade, que são a Amazônia e a bacia fluvial do Congo, ou os grandes lençóis freáticos e os glaciares. A importância desses lugares para o conjunto do Planeta e para o futuro da humanidade não se pode ignorar. Todavia, ao falar sobre estes lugares, impõe-se um delicado equilíbrio, porque não é possível ignorar também os enormes interesses econômicos estrangeiros que a pretexto de cuidar deles, podem atentar contra as soberanias nacionais. Com efeito, as propostas de internacionalização da Amazônia só servem aos interesses econômicos das corporações internacionais.”

Análise soberba. Tem-se aí esplendidamente configurado o enorme tamanho do problema suscitado pela gula insaciável dos “donos do mundo”. O estadista Francisco, do alto de sua incontestável autoridade moral, registra sua preocupação diante das copiosas evidências de que a Amazônia, afortunado pedaço de chão bem brasileiro, vive sob a constante e despudorada mira da cobiça internacional.

Quem se entrega ao trabalho de coletar informações acerca do tema sabe perfeitamente bem que, tanto na Europa como nos Estados Unidos da América, pipocam volta e meia frenéticas ações indicativas de trabalhos articulados voltados flagrantemente para o insano objetivo de fragilizar, de modo a sensibilizar a opinião pública internacional, o direito sagrado e soberano da Nação brasileira sobre o vastíssimo e riquíssimo território, superior em extensão territorial à Europa inteira, Rússia excluída. São ações desencadeadas por inimigos a cada momento mais desenvoltos em suas solertes manobras.

Essa inapelável denúncia do Papa Francisco foi feita por ocasião do lançamento de uma luminosa carta encíclica, a “Laudato si”, a monumental aula de Direito e Educação Ambiental, onde se fala dos cuidados que a sociedade humana carece tomar com objetivo de preservar a “Casa Comum”. No documento, o Santo Padre faz um apelo pela Natureza para que o mundo pare de dar as costas à Mãe Terra. Pede pela preservação da Amazônia, reclama atenções para com o meio ambiente na exploração dos recursos naturais. Critica o consumismo e o desenvolvimento irresponsável, formulando um apelo a mudanças e à unificação global das ações destinadas a combaterem a degradação ambiental e as alterações climáticas. Convida as pessoas a ouvirem os gemidos dos “abandonados do mundo”, exortando todos e cada um – indivíduos, famílias, coletividades locais, nações e comunidade internacional – ao que denomina de “uma conversão ecológica”, isto é, uma “alteração de rumo”, assumindo a beleza e a responsabilidade de um compromisso para o “cuidado da casa comum”.

lá fora, com o pérfido objetivo de se apoderarem das riquezas da nossa Amazônia.”

O General e a Amazônia

Cesar Vanucci

“A cobiça internacional é uma realidade.”
(General Luiz Gonzaga Schroeder Lessa)

Algum tempo atrás, por mais de duas horas, plateia estimada em 2 mil pessoas, composta na quase totalidade por associados do Lions Clube em Minas Gerais, acompanhou eletrizada – este, o termo exato - magistral exposição sobre a Amazônia. O general Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, ex-comandante militar da Amazônia, brindou os qualificados ouvintes, numa convenção acontecida em Poços de Caldas, com revelações de substancioso conteúdo geopolítico-econômico e cívico relacionadas com a fascinante temática. A mensagem transmitida, com toque humanístico e impregnada de sentimento nacional, chamou todo mundo a uma reflexão aprofundada sobre aquilo que o expositor define como questão prioritária na realidade brasileira. Algo que tem tudo a ver com o futuro de nossos filhos e netos. Com a soberania nacional.

A Amazônia legal – conforme explicou – estende-se por nove Estados. Representa 56% do território brasileiro. Sua população é estimada em mais de 20 milhões, para uma população nacional superior a 200 milhões. O território é de riquezas sem par. Por isso tornou-se alvo permanente da gula estrangeira. Exemplos abundantes de como essas ameaças se expressam foram alinhadas. Uma delas: declaração do então diretor geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy. O referido cidadão, de nacionalidade francesa, andou defendendo, arrogantemente, que a Amazônia fosse transformada “em bem público mundial, com gestão coletiva”. Seu desatino verbal fez coro com manifestações de teor parecido, produzidas por outras figuras de presença realçante na cena internacional.

O general asseverou que a cobiça é uma realidade palpável. Sob pretextos de estarem trabalhando em favor da necessária preservação ambiental da área e, ainda, em prol das populações indígenas, compromisso histórico impostergável da sociedade brasileira para com os descendentes dos primitivos habitantes do país, agentes estrangeiros julgam-se autorizados a promover desabridas interferências nas políticas brasileiras da Amazônia. Elementos perniciosos infiltram-se em muitas das milhares de ongs que operam naquela parte do mapa brasileiro. Essa ação danosa coloca sob mira as incomensuráveis riquezas do solo e do subsolo. Riquezas como ouro, nióbio, petróleo, gás, outros minerais estratégicos, que nenhum outro pedaço de chão do planeta tem pra oferecer com tamanha prodigalidade. Ali, igualmente, se concentra o maior reservatório de água doce (20%) do globo. E o que não dizer da biodiversidade da fauna e flora incomparáveis?

O esplêndido pronunciamento deixou claro que a integração social e econômica da região carece ser lastreada numa política inteligente de ocupação de terras, que leve em conta, sim, os aspectos ecológicos e a salvaguarda dos direitos das etnias indígenas. Mas, nas concessões de terras aos índios, releva registrar alguns pontos essenciais: as extensões exageradas das áreas cedidas; a preservação, para que sejam explorados em proveito da nação, dos locais que abriguem as colossais reservas minerais; demarcações que guardem natural distanciamento das zonas fronteiriças, por razões mais que óbvias.

Uma revelação do ilustre militar que deixou muitos tomados de surpresa foi a de que, ao contrário do que se supõe comumente, nenhum metro sequer da parte da floresta correspondente ao Amazonas, maior Estado da região norte, tinha sido alvo, até aquele momento, de qualquer ato devastatório. Outra informação significativa teve como foco a ação construtiva das Forças Armadas naquele espaço dadivoso pertencente ao Brasil. O Exército implantou nas regiões de fronteira dezenas de unidades providas de pistas de pouso e serviços básicos essenciais. Os militares e familiares que as habitam representam a linha mais avançada da presença brasileira em nossos limites geográficos mais longínquos. Deploravelmente, porém, dependências reservadas nas referidas unidades a acolher outros serviços governamentais, jamais, em tempo algum, foram ocupadas.

A palavra do general Lessa, repito, deixou sinal vigoroso no espírito dos que o ouviram. Ficou claramente positivado que a Amazônia não é apenas uma questão de governo, de política pública. Mais do que isso, é questão que clama por uma conscientização plena de toda a sociedade. Brota aí, inevitavelmente, uma interrogação: qual o motivo desse silêncio de tumba etrusca que, na grande mídia brasileira, recobre as palpitantes questões levantadas em torno daquela área, tão fundamentais aos projetos de construção de nosso futuro?

José Alencar 
e as duas Amazônias

Cesar Vanucci

“Na Amazônia, tudo é espetacular: a floresta, 
a biodiversidade e as riquezas do subsolo.” 
(Heráclides Leite Ferreira, educador)

A Amazônia que nos incumbe proteger, com toda força de nosso ardor cívico, são duas. Quem afirmou isso, sob aplausos, em pronunciamento anos atrás no Sindicato dos Jornalistas MG, foi José Alencar, aquele vice-presidente de inteligência aguda, arrojo empreendedor e irretocável comportamento ético em sintonia com o genuíno sentimento nacional, dons tão valiosos nesta hora desoladora em matéria de lideranças e ideias.

Repetindo: A Amazônia então são duas. A primeira delas de um verde esmeraldino ofuscante. A outra de um azul sempiterno. A verde corresponde a mais da metade de nosso território. A azul, avançando oceano adentro, estende-se por duzentas milhas marítimas além das costas litorâneas. Costas essas, fale-se de passagem, onde se alojam, pra embevecimento dos turistas, as mais belas paisagens praieiras do mundo.

Tanto uma quanto outra – como lembrado naquela ocasião - se fazem depositárias, em dadivosos projetos da Natureza, de riquezas fabulosas. Dá mesmo pra garantir, sem receio de resvalar em exagero: de riquezas incomparáveis. A verde é a Amazônia da floresta infinita. A maior deste conturbado planeta. A Amazônia do rio de maior extensão e maior volume d'água. Da biodiversidade que assombra. Das riquezas minerais inexauríveis. Azul é a Amazônia oceânica, de imensuráveis riquezas. Riquezas brotadas do “mar de medusas que ninguém semeia, criadas com mistério e com areia, perfeitas de beleza e de sentido, sobre um casto jardim adormecido”, dos líricos versos de Miguel Torga. Nesta porção de mar específica as reservas petrolíferas são colossais. Vem daí a condição privilegiada que o país ostenta no rol das potências energéticas.

Como resistir à tentação de encaixar, aqui, à guisa de parêntese, um registro histórico puxado das ladeiras da memória? Décadas atrás, o Brasil não somente não explorava petróleo, na terra ou no mar, como também não “possuía” petróleo, nem na terra, nem no mar. Pelo menos era o que, confiados na suprema ingenuidade das ruas, ousavam alardear por aí, em tom irretorquível, certos dirigentes políticos de proa. Um pessoal que se aprestava, docilmente, a render vassalagem a poderosos grupos estrangeiros. Encastelado em postos relevantes, fazia uso, costumeiramente, dos aparelhos de repressão policial para conter e desestimular vozes contestatórias. Técnicos estrangeiros de currículo reluzente, vinculados a manjadíssimos cartéis, punham-se de plantão para fornecer, a esses cidadãos “acima de qualquer suspeita”, solícita assessoria. Aviavam “pareceres” para uma opinião pública desinformada, atestando a certeza “científica” da inexistência, por aqui, do mais leve indício, de uma nesgazinha promissora que fosse, do chamado “ouro negro”. O nunca assaz reverenciado Monteiro Lobato apelidava esse “ouro negro” de “sangue da terra”, “alma da indústria”. “Tê-lo – assegurava o notável escritor – é ter o sésamo abridor de todas as portas. Não tê-lo é ser escravo.” Por emitir conceitos que tais, contrariando doutos figurões, o autor de “Urupês” foi convidado, um sem número de vezes, a ver o sol nascer quadrado, como era de costume dizer-se em tempos de antanho. Homem prevenido, deixava arrumada, toda noite, uma trouxa com pertences, incluindo pijama, chinelo, escova de dentes e demais utensílios de higiene pessoal. Punha-se no desagradável aguardo de convocação para desfrutar, por algum tempo, da hospitalidade do cárcere.

Parêntese desfeito, retornemos às Amazônias verde e azul. Ambas nossas, brasileiras. Que nem o samba, o carnaval, o futebol, as estátuas de Mestre Aleijadinho. Pertencem-nos e a mais ninguém. Lá fora, há quem, paranoicamente, não pense assim. Livros escolares mostram a Amazônia verde como protetorado internacional. O Capitão Marvel é chamado a empregar seus formidáveis poderes, nos sugestivos traços dos quadrinhos, mode que combater “pilantras brasileiros” que só querem saber da Amazônia pra devastar floresta e traficar droga... Tribunas e jornais trombeteiam pronunciamentos bombásticos reveladores da frenética cobiça assestada sobre a região.

A Amazônia azul é também alvo de ameaças. As descobertas de imensas reservas de óleo no fundo submarino suscitam grande alvoroço, despertam apetites insaciáveis. As 200 milhas marítimas do prolongamento territorial brasileiro continuam sendo  questionadas. Nos Estados Unidos, quando as potencialidades do pre-sal vieram à tona, chegou-se a aventar a possibilidade da criação de uma frota naval bem equipada para operar em águas próximas aos países sul-americanos, com o “louvável propósito” de colocá-los a salvo de eventuais perigos externos.  Me engana, que eu gosto...


Isso aí: os indícios de olho gordo” são abundantes. Fácil deduzir que crescem no momento em que o Brasil começa a extrair mais petróleo do mar do que dos poços terrestres. Salta aos olhos a necessidade de uma política de defesa dos interesses nacionais mais vigorosa, atenta a tudo quanto rola nesses mares encapelados das ambições humanas desenfreadas. 

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

A cobiça não 
é de hoje

Cesar Vanucci

“O governo de Washington estudava a possibilidade de
transferir a escravaria dos Estados Unidos para a Amazônia.”
(Revelação histórica feita por Élio Gáspari)

Equivoca-se redondamente aquele que imagina serem coisas só recentemente afloradas essas manifestações ostensivas da cobiça estrangeira com relação a Amazônia. Já na época do Brasil império faziam-se frequentes as demonstrações da gula de outros países quanto a poderem abocanhar, algum dia, as imensuráveis riquezas do dadivoso território.

Élio Gáspari, jornalista com participação sempre arguta nos debates dos temas nacionais de relevância, andou esmiuçando, algum tempo atrás, uma “encrenca” eclodida no século 19, ainda no reinado de Pedro II, concernente ao momentoso tema amazônico.

Naqueles idos, ao invés dos argumentos de agora, quando a arrogância dos pretensos “donos do planeta” questiona o “protecionismo territorial” brasileiro para “justificar” a insana tese da internacionalização, o foco das críticas desfechadas contra o Brasil se centrava no direito universal à livre navegação. Os bons amigos estadunidenses – sempre eles! – lideravam forte pressão internacional no sentido de que fosse franqueada a livre navegação pelo mar interno amazônico das embarcações estrangeiras, inclusive militares. O governo imperial resistiu enquanto pôde às “ponderações” externas. Mas acabou, de algum modo, cedendo.

Por volta de 1850, os Estados Unidos pediram autorização ao Brasil para que um navio comandado por oficial de sua Força Naval pudesse singrar as águas do Amazonas. O objetivo alegado: coleta, por parte de grupos especialistas, de informações de interesse científico, sobretudo no campo cartográfico. Após alguma relutância, escorada em pareceres técnicos desfavoráveis da Secretaria de Negócios Estrangeiros do Império, a permissão veio a ser concedida pelo próprio Imperador.

Tempos depois, viagem concluída, o comandante do navio com bandeira estadunidense, William Herndon, foi recebido em audiência por Pedro II. Conversa vai, conversa vem, acabou escancarando, para estupefação do governante brasileiro, o verdadeiro propósito dos dirigentes de seu país com a tal “expedição científica”. Élio Gáspari com a palavra: “O governo de Washington estudava a possibilidade de transferir a escravaria do Sul dos Estados Unidos para a Amazônia. Ia além: admitia a possibilidade de instalar no nosso Vale o próprio empreendimento escravocrata americano. (...) Herndon falava em trabalho compulsório para povoar o protetorado da Amazônia norte-americana.”

As elucidativas informações do jornalista, baseadas no livro “A liberdade de navegação do Amazonas”, de Fernando Saboia de Medeiros, publicado em 1938, são acrescidas de outro dado bastante revelador da histórica ambição estrangeira concernente àquela parte do território brasileiro. O que o governo dos Estados Unidos pretendia, na época de Pedro II, era mesmo, na verdade, mutilar a soberania brasileira. Ocupar a região. Em 1867, o Império abriu a navegação do Amazonas. Os Estados Unidos já haviam rompido, dois anos antes, por força da guerra civil, com o regime da escravatura.

Revelações como estas e outras mais que ocupam espaço no noticiário trazem, mais que meros indícios, perturbadoras provas de que, de há muito, nos sonhos delirantes de arrogantes dirigentes estrangeiros, inimigos declarados do Brasil, a Amazônia, pelas incomparáveis riquezas do solo e subsolo, haverá de se tornar, em algum momento, protetorado de um país ou de um conjunto de países com vocação colonialista.

Afigura-se, por conseguinte, mais do que oportuno o enfático e incisivo recado que o governo brasileiro, dando voz à própria consciência cívica nacional, mandou em 2004, numa fala do então Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, aos dirigentes de outros países, aos pretensos ambientalistas que defendem, com suprema desfaçatez, a gestão compartilhada da maior floresta tropical do mundo. “Essa gente – foi dito naquela ocasião - precisa entender que a Amazônia brasileira tem dono. O dono é o povo brasileiro. São os índios, os seringueiros, os pescadores. E nós, que somos brasileiros e não nos assustamos com campanhas orquestradas, temos consciência de que é preciso diminuir o desmatamento, as queimadas, mas temos também consciência de que é preciso desenvolver a Amazônia.”

Não há, certamente, quem em sã consciência se recuse a assinar embaixo, mesmo entre aqueles que militem em campo político oposto ao antigo chefe do governo.
  

Convocaram até o Capitão Marvel


Cesar Vanucci

“Acham que nós exageramos, que é um nacionalismo epidérmico. Mas para quem está, por dever de ofício, ligado a isso, chegamos à conclusão de que não estamos vendo fantasmas” (General Luiz Gonzaga Lessa, ex-comandante Militar da Amazônia)

É importante atentar pra isso. Colocaram na mira do Capitão Marvel outros inimigos. Nos gibis de antigamente, ele usava dos punhos justiceiros para combater desalmados adeptos da suástica e de outros símbolos sinistros, responsáveis por todas aquelas truculências arrepiantes narradas nas crônicas da segunda grande guerra.

O Capitão fazia a cabeça da criançada, que saboreava, à exaustão, suas incríveis façanhas como destemido arauto do bem e desassombrado protetor dos fracos e oprimidos. Os tempos agora são outros. Outras aventuras, outros vilões na carreira do super herói. Com intuitos subliminares, que não passam batidos na percepção dos viventes mais lúcidos, os produtores dos seriados dos gibis estão entregando agora ao consumo da garotada nos Estados Unidos e noutros países uma nova horda de malfeitores. Esses malfeitores “estão a fim” de acabar com a vida no planeta Terra. “Devastam” tudo. “Destroem” com ferocidade os santuários ecológicos. São mostrados como integrantes de “falanges demoníacas”. “Espalham” tanta maldade que o jeito que tem é mandar chamar o Capitão Marvel pra colocar ordem na casa. A “casa” é a Amazônia, palco de lutas titânicas entre as “forças do bem e do mal”. É ali que “atuam” os atuais “inimigos do gênero humano.” Eles vêm retratados nos desenhos como uma mistura de bandoleiros sanguinários, terroristas desapiedados e empedernidos traficantes de drogas. Nas “inocentes” historietas em quadrinhos que circulam no estrangeiro são conhecidos por brasileiros...

Essa insidiosa armação tem sido acrescida de outros dados não menos preocupantes. Videogames espalhados pelo exterior oferecem aos aficionados um enredo parecido. Os “heróis” podem até ser outros. Mas os “vilões” são os mesmos. Isto é, nós.

Estão assim estampados, mais uma vez, para quem tem olhos pra enxergar e ouvidos pra escutar, como no aconselhamento evangélico, os perturbadores sinais da conspiração estrangeira contra o Brasil. Essa conspiração alimenta o nefando objetivo de arrancar, no papo diplomático ou, quem sabe, na marra, concessões sobre a Amazônia. Aliás, o ex-primeiro ministro britânico John Major já propôs, despudoradamente, a “intervenção militar” na região, com “fins humanitários”. A desabusada manifestação não é fruto de piração isolada. Está em sintonia com críticas impregnadas de hipocrisia de outros gringos insolentes, de nacionalidades variadas.

As advertências constantes sobre o que vem acontecendo, partidas de vozes qualificadas e respeitadas, sobretudo de oficiais graduados das nossas forças militares, recomendam uma mobilização vigorosa da opinião pública brasileira. O que está em jogo mexe fundo com o brio cívico da nacionalidade. Os inimigos estão muito bem articulados, a goela escancarada, navegando a pleno vapor na alucinatória impressão de poder surpreender, num determinado tempo, a sociedade brasileira desguarnecida, fragilizada e despreparada. O ex-comandante militar da Amazônia, general Luiz Gonzaga Lessa, em reiterados e memoráveis pronunciamentos, já deixou claro, que as ameaças vão se avolumando e que é preciso impedir uma aventura na Amazônia, criando-se para isso uma estratégia de resistência. Ele falou dos vazios demográficos, das fronteiras por proteger, da liberdade de movimentos excessiva que se concede às mais de 700 ONGs, boa parte estrangeiras, que agem desembaraçadamente na região, do excesso de terras reservadas aos povos indígenas e da pirataria científica. Chegou a denunciar algo inimaginável: “Temos dados que mostram que parte do sangue dos nossos homens amazônicos está sendo levado para outros países”.

O brilhante jornalista Carlos Chagas, recentemente falecido, fez-se ouvir, em vários momentos, com revelações também inquietantes. Tempos atrás, reportando-se aos riscos de estupro à soberania nacional, formulou a seguinte desconcertante pergunta: “Por que dois aviões americanos foram recentemente autorizados a aerofotografar a Amazônia, tendo sido retirado deles o banco ao lado do piloto, sob o pretexto de carregar mais instrumentos, mas, na verdade, para impedir que um oficial da Força Aérea Brasileira estivesse presente aos voos?” Este e muitos outros “por ques” estão a nos corroer por dentro.
  

Por falar em internacionalização...
 


Cesar Vanucci

“Internacionalizemos os arsenais nucleares.”
(Cristovam Buarque, senador)

Nossos comentários a propósito das insolentes propostas, expressas em diferentes sotaques, alusivas à internacionalização da Amazônia têm merecido especial atenção dos amigos leitores. Pessoas que, no mesmo tom de indignação deste escriba, se sentem alvejadas em seu sentimento cívico pela arrogância de não poucos próceres mundiais arvorados no papel de traçar regras de conduta para a humanidade inteira com base em suas espúrias conveniências hegemônicas e econômicas.

O Marcio Vicente Silveira é uma delas. A contribuição que deixa para uma maior conscientização a respeito da gravidade do assunto é valiosa. Reproduzo abaixo, na íntegra, sua manifestação.

“Prezado Jornalista Cesar Vanucci, Leitor assíduo de sua festejada coluna no "Diário do Comércio", do qual já tive a honra de ser correspondente em Sete Lagoas, acompanho seus artigos em defesa da Amazônia. Na oportunidade, remeto-lhe notícia de um pronunciamento do senador Cristovam Buarque sobre a questão. Certamente, já o conhece. Um grande abraço do admirador, Márcio Vicente Silveira.”

Segue a notícia mencionada: “Internacionalização da Amazônia.
Durante debate numa Universidade nos Estados Unidos, o senador Cristovam Buarque, ex-ministro e ex-governador, foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia (um tema que os norte-americanos gostam muito de abordar).
Esta foi a resposta de Buarque: Como brasileiro, eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que os nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o que tem importância para a humanidade.
Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo. O petróleo é tão importante ao bem-estar da humanidade quanto a Amazônia. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.
Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. Cada um deles é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja utilizado ou manipulado pelo gosto de um proprietário ou de um país.
Recentemente, quando as Nações Unidas realizaram o Fórum do Milênio, alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos sofridos na fronteira dos Estados Unidos. Por isso, acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada, assim como Paris, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília... Certas cidades, com sua beleza específica ou sua história do mundo, deveriam pertencer a todos os povos.
Se os Estados Unidos querem internacionalizar a Amazônia pelo risco de deixá-la nas mãos dos brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos Estados Unidos. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.
Como humanista, aceito debater a internacionalização da Amazônia e do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro lutarei para que a Amazônia seja exclusivamente nossa.”


Isso aí!

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Conspiração internacional

Cesar Vanucci


“A Amazônia, localizada na América do
Sul (...) é cercada por países irresponsáveis.”
(De um livro didático estadunidense)

Napoleão Bonaparte estava coberto de razão. Nada como a repetição para se compor uma excelente retórica. A insistência em torno de um tema não deixa de ser, em determinadas circunstâncias, um processo de razoável eficácia para deixar gravada na memória alguma situação que não mereça ser relegada ao limbo do esquecimento.

Quem acompanha estas maldatilografadas é sabedor de que, com certa frequência, o espaço é ocupado para considerações, com o sentido de denúncia e alerta, a respeito das ambições impertinentes e desmesuradas que a confraria dos “donos do mundo” mantém permanentemente acesas com relação à Amazônia brasileira. O “olho gordo” fixado nas incomparáveis riquezas alojadas no solo e subsolo do prodigioso território, parte inalienável deste nosso país continental, traz à tona, volta e meia, manifestações de altos próceres mundiais e produz ações práticas, por parte dos mesmos, as mais descabidas e chocantes.

Voltamos a falar, aqui e agora, de uma dessas atordoantes reações. Publicações didáticas adotadas em escolas estadunidenses, empenhadas em lavagem cerebral dos alunos, sabe-se lá com que perversos intuitos, sustentam que a nossa floresta amazônica é uma “reserva patrimonial de propriedade internacional”.

Há livros mostrando o mapa do Brasil amputado, com comentários desairosos ao nosso país. Um deles tendo por título “Introdução à geografia”, e distribuído na rede conhecida por “Junior high school”, equivalente ao nosso sistema de ensino elementar. O autor é um tal de David Norman. Vejam só o tamanho da insolente agressão cometida por esse gringo mafioso, à página 76 do livro, em meio a ilustrações inspiradas na flora e fauna amazonenses.

Título do texto: “Uma introdução à geografia.” Subtítulo: “Em uma nação ao norte da América do Sul, uma extensão de terra com mais de 3.000 milhas quadradas.”

Na sequência: “3.5.5. – A primeira reserva internacional da floresta amazônica”. A seguir o texto: “Desde meados dos anos 80 a mais importante floresta do mundo passou a ser responsabilidade dos Estados Unidos e das Nações Unidas. É chamada Prinfa (A Primeira Reserva Internacional Da Floresta Amazônica), e sua fundação se deu pelo fato de a Amazônia estar localizada na América do Sul, uma das regiões mais pobres do mundo e cercada por países irresponsáveis, cruéis e autoritários. Fazia parte de oito países diferentes e estranhos, os quais, em sua maioria, são reinos da violência, do tráfico de drogas, da ignorância, e de um povo sem inteligência e primitivo. A criação da Prinfa foi apoiada por todas as nações do G-23 e foi realmente uma missão especial para nosso país e um presente para o mundo todo, visto que a posse destas terras tão valiosas nas mãos de povos e países tão primitivos condenariam os pulmões do mundo ao desaparecimento e à total destruição em poucos anos.”

Abaixo, ao lado da foto de uma borboleta, vem a seguinte legenda: “Podemos considerar que esta área tem a maior biodiversidade do planeta, com uma grande quantidade de espécimes de todos os tipos de animais e vegetais. O valor desta área é incalculável, mas o planeta pode estar certo de que os Estados Unidos não permitirão que estes países Latino Americanos explorem e destruam esta verdadeira propriedade de toda a humanidade. Prinfa é como um parque internacional, com severas regras para exploração.”

A adoção do livro em escolas estadunidenses representa, isoladamente, um fato extremamente grave. Mas a questão da ameaça à sagrada soberania brasileira na Amazônia não está circunscrita apenas a essa anotação didática imbecil. A conspiração contra os interesses brasileiros assume proporções descomunais. São numerosas as vozes, de diferentes sotaques, com influência na condução dos destinos internacionais, que fazem coro, ostensiva ou dissimuladamente, em foros mundiais, com a tresloucada ideia de que o Brasil não se mostra apto a administrar as riquezas que possui. A cobiça alienígena tem sido objeto de contínuos alertas por parte de líderes militares e cientistas.

Na interpretação de analistas internacionais respeitáveis, existe uma preparação psicológica remota da opinião pública internacional, à qual não seriam indiferentes algumas organizações de caráter pretensamente ecológico, com vistas a “garantir” proteção à dadivosa área, parte indissociável do território brasileiro. A fixação, mediante estranhos acordos, de bases militares estadunidenses em países sul-americanos limítrofes, faria parte desse jogo espúrio, que outra coisa não traduz senão a certeza de que muita gente anda – repita-se - de olho grande nas riquezas incomensuráveis do solo e subsolo brasileiros.


Sinistra orquestração

 Cesar Vanucci

“... Imenso território, patrimônio da humanidade,
não patrimônio dos países que dizem lhes pertencer.”
(Trecho de proclamação do Conselho Mundial das Igrejas Cristãs,
conforme denúncia do jornalista Carlos Chagas, recentemente falecido)

Como anotei no comentário passado, o emprego da repetição em matéria de informações e revelações ajuda a compor uma retórica mais convincente. Compenetrado disso, impelido por sentimentos afinados com minha crença cívica, sinto-me inteiramente à vontade para retomar, neste acolhedor espaço, o tema da conspiração internacional focada na abominável ideia da internacionalização da Amazônia. As evidências clamorosas de que existe uma orquestração sinistra armada lá fora, à volta da candente questão, não ficam adstritas ao fato, aqui registrado, de que livros didáticos adotados em escolas estadunidenses apontam a Amazônia como um protetorado internacional, e não como um dadivoso e riquíssimo pedaço de chão pertencente a este país soberano, de dimensão continental, chamado Brasil.

Tempos atrás, o jornalista Carlos Chagas, de saudosa lembrança (falecido no último dia 26 de abril), denunciou, com compreensível indignação, o posicionamento assumido pelo poderoso Conselho Mundial das Igrejas Cristãs, recomendando, com descabida insolência, “uma ação evangélica” para “delimitar as nações indígenas, sempre pedindo três ou quatro vezes mais”. O mesmo organismo, no alerta do jornalista, ousou ir mais longe ainda, em seu “sagrado dever missionário”, quando “aconselhou” sejam esgotados “todos os recursos que, devida ou indevidamente, possam redundar na preservação desse imenso território, patrimônio da humanidade, não patrimônio dos países que pretensamente dizem lhes pertencer”. Manjaram só o tamanho da impertinência? Dá pra imaginar o estrondo de pororoca amazonense que uma declaração desse teor não desencadearia, caso a pia recomendação estivesse sendo direcionada às reservas florestais dos Estados Unidos, do Canadá, da Rússia ou de algum país europeu?

Agreguemos, agora, aos fatos narrados um relato, feito anos atrás, por um ex-ministro da Marinha brasileira, Maximiano da Fonseca, um dos numerosos oficiais de alta patente engajados em campanhas de esclarecimento da opinião pública sobre a cobiça estrangeira com relação a Amazônia. Segundo ele, em escolas norte-americanas e de outros países, vem sendo encucada na cabeça dos alunos a ideia de que, para preservar o “pulmão do mundo”, uma intervenção armada se faz imperiosa. De outra parte, respeitáveis figuras, militares e civis, responsáveis por providenciais alertas à nação sobre o que rola em plagas estrangeiras a propósito do assunto, também denunciaram que super-heróis das historietas em quadrinhos, distribuídas aí fora, são volta e meia “concitados” a aplicarem exemplar punição em “cruéis vilões responsáveis pela destruição da Amazônia”. Os vilões, visto está, pela ótica destrambelhada, conscientemente perversa, dos autores desses gibis, somos nós outros, os primitivos e despreparados brasileiros descritos nas cartilhas escolares de encomenda consultadas por alunos estrangeiros.

O distinto leitor, após tomar conhecimento da indecorosa manifestação atribuída ao Conselho Mundial de Igrejas Cristãs e dos outros disparates acima revelados, poderá incorrer na equivocada suposição de serem esses registros únicos, isolados, da ameaça alienígena contundente, tão bem concatenada, aos nossos valores cívicos e nossa soberania. Ledo engano! As figuras e organizações de realce no palco mundial que fazem coro com o ponto de vista do pessoal já citado são bem numerosas. Tanto quanto “eles”, muitos e muitos outros gringos arrogantes, ocupando posições influentes, consideram a posse da Amazônia pelo Brasil “meramente circunstancial”.


Olho gordo estrangeiro

Cesar Vanucci

“Ao contrário do que os brasileiros pensam,
a Amazônia não é deles, mas de todos nós.”
(Al Gore)

Volto a dizer: nutro uma baita desconfiança com relação aos propósitos alardeados pelo ex-vice presidente dos Estados Unidos Al Gore em sua pregação de cunho ecológico, contendo críticas à conduta dos governos - com ênfase para o de seu próprio país -, no tocante ao enfrentamento do crucial problema do aquecimento global. Admito que ele soube traçar um diagnóstico real, conquanto sombrio, da situação ambiental. Acenou com propostas inteligentes e sensatas, no aplaudido documentário “Verdades que incomodam”. Criou perspectivas de esperança numa tentativa de busca de saídas para o problema das contundentes agressões ao meio ambiente.

Mas, não consigo ocultar minha condição de cidadão brasileiro injuriado diante de inaceitáveis posicionamentos por ele ostensivamente assumidos, nesse trabalho de conscientização mundial em que se empenha, ao sustentar a tese da transformação da Amazônia num protetorado internacional. Esse candidato vitorioso naquelas eleições fraudadas pelos irmãos Bush, que levaram um deles, o xerife George, ao poder, é o autor de uma frase imbecil e assustadora: “Ao contrário do que os brasileiros pensam, a Amazônia não é deles, mas de todos nós.”

Ele não é o único personagem de projeção internacional a propalar sandices a respeito do tema. Margaret Thatcher, ex-primeira ministra da Grã-Bretanha, é outra figura hostil. Reportando-se ao território amazônico, ela deixou cair, entre outros despautérios, o seguinte: “Se os países subdesenvolvidos não conseguem pagar suas dívidas externas, que vendam seu território, suas riquezas, suas fábricas.” Desencadeando uma pororoca amazônica em matéria de espantos, deixando à mostra imperial e deslavada arrogância, outros partícipes de setores com influência nos rumos mundiais integram também o sinistro coro de vozes dos que ambicionam apoderar-se na marra da Amazônia. Essa fala insolente aqui é do ex-primeiro ministro inglês John Major, tempos atrás: “As nações desenvolvidas devem estender o domínio da lei ao que é comum de todos do mundo. As campanhas ecológicas internacionais sobre a região amazônica estão deixando a fase propagandística para dar início a uma fase operativa que pode definitivamente ensejar intervenções militares diretas na região.”

O notório belicista Henry Kissinger, não faz por menos: “Os países industrializados não poderão viver da maneira como existiram até hoje, se não tiverem à sua disposição os recursos naturais não renováveis do planeta. Terão que montar um sistema de pressões e constrangimentos garantidores da concepção de seus intentos.” Outra ex-secretária de estado do país mais poderoso do planeta, Madeleine Albright, contribui com sua quota de desatino para a arenga conspiratória. Levanta a bola, pode-se dizer, para chutes a gol de aguerridos comparsas: “Atualmente, avançamos em uma ampla gama de políticas, negociações e tratados de colaboração das Nações Unidas, diplomacia bilateral e regional de distribuição de ajuda humanitária aos países necessitados e, também, crescente participação da CIA em atividades de inteligência ambiental.” A encorajante sugestão animou o general Patrick Hugles, chefe do órgão central de informações das forças armadas estadunidenses, a anunciar, certa feita, o propósito de acelerar a execução dos projetos de expansionismo colonialista alimentados por alguns figurões. Rosnou: “Caso o Brasil resolva fazer um uso da Amazônia que ponha em risco o meio ambiente dos Estados Unidos, temos de estar prontos para interromper este processo imediatamente.” Tipo de papo que ajuda a explicar o interesse da diplomacia americana em implantar bases militares próximas às fronteiras brasileiras, através de acordos firmados com países vizinhos.

Mais gente importante na pérfida jogada. Dois ex-presidentes, um deles (já falecido), francês, outro russo, deixaram registrada, de modo igualmente despudorado, sua participação na conspirata. "O Brasil precisa aceitar uma soberania relativa sobre a Amazônia,” vociferou François Mitterrand. “O Brasil deve delegar parte de seus direitos sobre a Amazônia aos organismos internacionais competentes”, repicou Mikhail Gorbachev. Como comissário da União Europeia na ONU, posteriormente no comando na Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy igualmente entendeu “seu dever” meter o bedelho no candente assunto, desovando a estapafúrdia declaração de que: “A Amazônia deveria ser considerada bem público mundial e submetida a uma gestão coletiva, ou seja, uma gestão de comunidades internacionais.”


 “Motivados” por pareceres, tão “respeitáveis”, inimigos do Brasil, olho gordo nas riquezas da Amazônia, deitam e rolam na propagação insistente, mundo afora, de intrigas que procuram desqualificar o nosso país e desclassificar a nossa gente perante a opinião pública internacional, menosprezando a legítima condição da Nação brasileira de detentora do intransferível direito de traçar, ela tão somente e mais ninguém, os rumos das políticas aplicáveis ao brasileiríssimo território amazônico. 

A SAGA LANDELL MOURA

O instinto belicoso do bicho-homem

                                                                                                     *Cesar Vanucci Faço um premente a...