sexta-feira, 27 de junho de 2014



XXV Encontro Cultural da Academia 








Homenagem do Lions Clube


Em assembleia festiva que congregou mais de cem pessoas, realizada no dia 14 de junho, na sede do Distrito LC-4 da Associação Internacional de Lions Clubes, em Belo Horizonte, o governador do Lions Jose Leroy da Silva homenageou pessoas que ajudaram seu trabalho na gestão administrativa que se encerra. Eu fui distinguido na oportunidade com uma placa de reconhecimento por ações desenvolvidas em favor da causa leonística. O deputado Adelmo Carneiro Leão, Vice-Presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, foi outro dos agraciados. 


Na foto aparecem,além do homenageado, 
o Governador Leroy e esposa Sandra Cury.





                  Nesta foto, em primeiro plano aparece a segunda vice do Lions, Maria Jorge Abrão de Castro.  


            
 O milagre e a expectativa de caos
Cesar Vanucci* 

“Tudo está funcionando bem”
 (Mike Lee, um dos maiores nomes do marketing mundial, sobre a Copa)



 “Le Monde” define o sucesso da Copa, tendo em vista a alardeada “expectativa de caos”, como um verdadeiro “milagre brasileiro”. Mas a que “caos” estará mesmo se referindo o jornal francês? A resposta salta aos olhos. “Um caos” de deslavada mentira, pura ficção, mórbida embromação. “Caos” inventado para desacreditar o Brasil. “Caos” nascido de capciosas interpretações da vida brasileira. De uma visão falsa, distorcida, do jeito de ser brasileiro. E quem será mesmo que andou ousando, irresponsavelmente, por largo espaço de tempo, alimentar para consumo interno e externo esse descabido vaticínio, hein? Os de sempre. A tresloucada turma do contra. Um pessoal que não consegue disfarçar, por cega paixão politica, ou por qualquer outro fator anômalo pessoal, seu desconforto diante dos caminhos trilhados no processo civilizatório deste país. Fingindo desconhecer nossos esplendidos avanços nos planos cultural, econômico e social, esse tipo de gente mantem olhar fixo, de forma obsedante, em algumas coisas negativas, apontadas por eles como “exclusividade nacional”, não como fatos perturbadores de um mundo sabidamente em convulsão. Contemplando o mar - tenho insistido nisso – a “turma do contra” só encontra palavras para falar de enjoo. Trata-se, cá pra nós, de um amontoado de viventes de baixo astral não comprometido bulhufas com o sentimento nacional.

Mudança de regras. A FIFA vai ter que ceder. Quanto mais cedo melhor. O formidável aparato tecnológico hoje disponível para acompanhamento, a tempo e a hora, dos lances nos gramados deixa expostas as fragilidades detectadas desde sempre nas arbitragens. Não dá mais pra segurar. Os equívocos registrados nas marcações dos juízes – marcações estas ancoradas no apito e na bandeirinha acenada – são por demais frequentes. O efeito sobre os resultados dos prélios é obviamente danoso. Os estragos, irremediáveis. O controle eletrônico recém-implantado, que acusa a ultrapassagem da brazuca na linha demarcatória das traves, representa avanço elogiável na busca do aprimoramento das arbitragens. Encoraja iniciativas mais ousadas. Acena com a perspectiva de que o experimento tecnológico chegue  mais longe. Estenda-se a outros espaços das disputas. O “dogma” da infalibilidade do juiz parece - vistas assim as coisas - com os dias contados. Já está passando a hora – como não? – de se recorrer, nas competições, à ajuda de instrumentos eletrônicos capazes de eliminar erros grosseiros no apito, produzidos por falhas humanas. E já que se está a falar em aprimoramento de regras, que tal os especialistas atentarem também para fórmulas que venham “flexibilizar” a chamada “lei do impedimento”? A norma vigente dá vaza, amiúde, a dúvidas e confusões, enfeando, também, por vezes, as evoluções coreográficas nas quatro linhas. 

Passeatas e vandalismo. É unânime entre as pessoas esclarecidas o reconhecimento de que o benfazejo regime de liberdade vivido pela pujante democracia brasileira faculta o direito a manifestações ordeiras de rua, para denuncias e reivindicações. Tal entendimento rechaça, naturalmente, as ações de vandalismo orquestradas por minorias anarquistas.   A opinião pública coloca-se em tremendo desconforto quando assiste na televisão cenas em que manifestantes, aparentemente distanciados dos tumultos, protestam contra a atuação de agentes da lei dando voz de prisão para elementos que, comprovadamente, carregam “coquetel molotof" na mochila ou são flagrados tombando e ateando fogo em viaturas. Está na cara que isso não pode ser, definitivamente, tolerado. Não há como deixar por menos.  O nome correto a ser aplicado a tal tipo de reação é banditismo. 
                  

                


Cartomantes do pessimismo
 Cesar Vanucci*
  Felizmente é a minoria,  é gente que não tem amor à pátria,
ao próximo nem a si mesmo.” (Dulce Johann de Resende, leitora)


Os plantonistas do desalento chutam mal à beça. Nos prélios das previsões – danado de bom para o Brasil! – só marcam gol contra. Cansaram de apregoar que não dispúnhamos, jeito maneira, das mínimas condições para fazer uma Copa nos devidos trinques; que os estádios não ficariam prontos a tempo; que a logística de apoio não funcionaria etecetera e tal... 

 Estão sendo agora forçados, toda hora, em tudo quanto é lugar, em tudo quanto é idioma, a ouvir das levas de turistas que vieram para os jogos que o país vem se saindo esplendidamente bem na empreitada assumida. Dispõe hoje do mais completo, do mais bem apetrechado, do mais lindo conjunto de arenas deste planeta futebolístico. Acha-se provido de um complexo de aeroportos do melhor nível, que dá vazão satisfatória para os fluxos dos turistas em circulação.

Os plantonistas do desalento comportam-se costumeiramente mal, não é de hoje, nos destrambelhados diagnósticos que arriscam fazer. Apostaram, valendo-se de raivosos comentários, no fracasso retumbante do Bolsa- Família. Perderam feio a aposta.
Espinafraram, a mais não poder, vaticinando tragédias irreparáveis, o programa “Mais Médicos Para o Brasil”. Deram outra vez, estrepitosamente, com os burros n’água.

Garantiram que o racionamento de energia elétrica seria drama inevitável. Na Copa, os estádios e os complexos hoteleiros ficariam mergulhados no breu. Nada disso, evidentemente, se confirmou.
Para eles, o “Minha Casa, Minha Vida”, projeto “ demagógico e de cunho bolivarista”, estava irremediavelmente fadado ao insucesso. O projeto tornou-se, ao contrario disso, uma referencia mundial. Copiam-no como exemplar empreendimento social, por esse mundo afora.

Asseguravam também que as cotas raciais e demais projetos de democratização do ensino, “todos, evidentemente, de caráter populista vulgar”, jamais dariam certo. Não só estão dando certo, como se transformaram ainda em modelo internacional de política de inclusão social bem sucedida.

Tem sido sempre assim no tocante a essas ondas periódicas de presságios agourentos. A postura de descrença permanente, ancorada em desmedido fervor, nas potencialidades e virtudes brasileiras, tornou-se o esporte predileto, nas pelejas cotidianas na vida nacional, desses manjados e frustados cartomantes do pessimismo.


ez do leitorRecebi, a propósito do comentário “A Copa vai bem, obrigado” as amáveis mensagens abaixo reproduzidas.
“Leio sempre seus textos. Felicito-o pelo "A Copa vai bem, obrigado", de hoje, pela honestidade e coragem de discordar da mídia comprometida com interesses (nem tão) ocultos. Na mesma linha do seu raciocínio, veja na Globonews o carão que a jornalista da BBC passou no Diogo Mainardi.
Tenha um bom fim de semana. Seu leitor, J. Raimundo Bechelaine”
  
“Hoje, 21 de junho, sua crônica invadiu meu dia como um raio de sol. Trouxe-me alegria e ânimo. Gostei muito e quero lhe cumprimentar. Como gostaria de ouvir e ler mais e mais palavras inteligentes de jornalistas e pensadores, líderes e escritores que se comprometem com a verdade e com o progresso,  que amam a pátria e trabalham para o Bem Geral dos povos! Estou seguindo a Copa, apreciando as maravilhas, a alegria e educação, a ordem, os rituais... Que momentos elevados venho presenciando e vivenciando! Sei que toda essa confraternização repercute no mundo inteiro, na atmosfera... É uma energia positiva imensa que abençoa a humanidade, principalmente a quem estiver receptivo. Por que não ser um elo nessa corrente? Sou grata a jornalistas como você,  Cesar Vanucci, que trazem mensagens que tentam abrir os olhos do leitor para enxergar o positivo. É verdade que nosso país, assim como o mundo, não é um paraíso. Mas “a Natureza não dá saltos”, é bom não esquecer a história, o passado. Tenho 70 anos. Posso afirmar com minha experiência que nosso país está muito melhor que no passado. Por nascimento fiz parte da classe de agricultores (no Rio Grande do Sul) e da classe dos professores como adulta, esposa de um professor aqui nas Minas Gerais desde 1967. A Educação nunca foi grande beleza aqui no Brasil, nem a Saúde. Mas já houve tempos piores. Mas também não se morre de fome. A verdade é que o brasileiro, uma parte, abusa da liberdade. O ser humano,  um “eterno insatisfeito”, olha pouco para dentro de si mesmo, enxerga pouco os bens conquistados, quer sempre e mais. Falta amor e gratidão. Felizmente é a minoria,  é gente que não tem amor à pátria, ao próximo nem a si mesmo. Virou moda aqui no Brasil criticar, protestar, por isso digo que há abuso de liberdade. Esses “insatisfeitos”, esses pessimistas, enxergam mais o lado negro das coisas. Como esquecer os tempos da ditadura? Como não lembrar que a dívida externa brasileira foi liquidada? E outras coisas mais. Por que os insatisfeitos não procuram conhecer outros países, viver por lá para comparar? Senhor jornalista, espero não estar lhe cansando e “roubando” seu precioso tempo. Seu texto animou esta “escrevedora” que anseia por uma humanidade mais feliz, por um “Brasil Pátria Amada” por nós todos. Dulce Johann de Resende”.

segunda-feira, 23 de junho de 2014


A Copa vai bem, obrigado

Cesar Vanucci*


“Os profetas do apocalipse falharam. Como de costume”
(Antônio Luiz da Costa, professor, a respeito da Copa)

Ninguém põe mais em duvida a esta altura do campeonato os benéficos resultados auferidos pelo Brasil com a realização da Copa. Não há como contabiliza-los de pronto, em todo o extraordinário peso e dimensão, à vista das infinitas situações e circunstâncias suscetíveis de avaliação.
As profecias que acenavam com cenários apocalípticos, nas quais os plantonistas do desalento “sustentavam por a + b” que nós, brasileiros, “ao contrário de outros povos”, não dispomos de condições para botar em funcionamento empreendimento dessa magnitude, deixaram evidenciado, outra vez, o analfabetismo atordoante de alguns com referencia às coisas de seu próprio País.  Chega a ser patético o desconhecimento que conservam das potencialidades e virtualidades de sua Nação. Esses segmentos minoritários, intoxicados de baixa estima, com seu “complexo de vira-lata” detectado por Nelson Rodrigues, mantêm-se constantemente aferrados a concepções esmagadas pela história, no lado oposto ao verdadeiro sentimento nacional. Tendo acesso, de certa forma desembaraçada, à comunicação midiática, esses grupos especializaram-se em propagar o derrotismo, o pessimismo em doses mastodônticas. No caso da Copa, vislumbraram o caos. Quebraram a cara. A catástrofe, a nos basear em seus critérios destrambelhados de apreciação dos acontecimentos, estava inapelavelmente programada. Iria acontecer antes e durante os jogos.
Herdeiros das mesmas ideias retrógadas daquelas outras despreparadas falanges que preconizavam também, anos atrás, “inevitáveis hecatombes” como consequência da construção de Brasília, propagaram intensamente que a Copa representaria maleficio sem remédio. Nosso País não disporia de condições minimamente razoáveis para leva-la a cabo. A realidade contrapôs desmentido estrondoso à baboseira irresponsavelmente alardeada. Constatando, sem preocupação de dar ênfase demasiada ao colosso de obras físicas implantadas - herança social e econômica, diga-se de passagem, que permanecerá para sempre -, deparamo-nos com a radiosa possibilidade de poder assinalar, já agora, muitos frutos compensadores do certame esportivo.
Fixamo-nos, sobretudo, na descomunal projeção que o País adquiriu no olhar mundial para mostrar-se por inteiro como realmente é. Um País bastante rico, de cultura exuberante, com atrações naturais incomparáveis, estuante de vida, carregado de oportunidades. E, por isso mesmo, capacitado a oferecer à sociedade moderna contribuição humanística valiosa na composição de um modelo social econômico de vida que aprimore o processo civilizatório. Contribuição, bom lembrar, não é de hoje pressentida nos estudos de uma gama numerosa de pensadores altamente representativos da inteligência universal. De Darcy Ribeiro e Stefan Zweig a Domenico de Biasi.
A disseminação dos atributos dos brasileiros, mundo afora de maneira mais intensa por força deste instante afortunado da Copa, já está trazendo ganhos. E promete trazer mais resultados positivos para este nosso País abençoado por Deus e bonito pela própria Natureza. Um País, para orgulho nosso, pluralista no campo das ideias, democrático, com idioma único apesar da vasta extensão territorial, onde o relacionamento cotidiano revela-se, em termos gerais, infenso a posturas belicosas incuráveis, nascidas de intransigências e dogmatismos diante das diversidades étnicas e religiosas, ao contrario do que rola pelo mundo lá fora.

E por ultimo. “Vips do Itaquerão”, a expressão utilizada pela médica Fátima de Oliveira, num artigo em “O Tempo”. Achei bastante apropriada essa referencia aos radicais aloprados que compuseram aquele enfezado coral da abertura da Copa, que num evento politico posterior foram imitados, em sua estupidez e babaquice, por um líder sindical e parlamentar oposicionista sem modos. Essa gente nada tem a ver com o autentico sentimento popular. As camadas majoritárias da população, que acompanharam a festa de abertura pela tevê e em telões por não poderem pagar os elevados preços de ingressos estipulados pela FIFA, jamais expressariam divergências e descontentamentos apelando para tão rematada boçalidade.  



O gol que não foi mostrado


Cesar Vanucci*

“A responsabilidade é toda dela, FIFA.” (Miguel Nicolelis,
neurocientista, coordenador do projeto “Andar de Novo”)


Dona FIFA – ora, veja, pois! – menoscabou a importância do feito cientifico do respeitado neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis. Reservou fração de tempo infinitesimal na insossa festa de abertura da Copa para apresentação do projeto “Andar de Novo”. A pretensão dos autores do projeto era mostrar ao mundo as imagens de um tetraplégico, no caso especifico Juliano Pinto, brasileiro, 29 anos, amparado numa estrutura robótica, dando o pontapé inicial da brazuca no centro do gramado do Itaquerão, na cerimonia inaugural dos jogos.

As coisas, infelizmente, não funcionaram de acordo com o roteiro traçado. Faltou engenho por parte dos técnicos incumbidos das filmagens e empenho por parte da cartolagem. As câmeras espalhadas pela majestosa arena esportiva não projetaram nada daquilo que estava anunciado. O telespectador não conseguiu captar com nitidez a cena programada. Ou seja, uma pessoa desprovida de movimentos nas pernas, apoiada por uma estrutura metálica de sustentação do corpo que reage a comandos cerebrais, erguer-se da cadeira de rodas, a movimentar-se em direção da bola para o chute.

“A FIFA deveria responder pela edição das imagens que impediu fosse a demonstração transmitida na integra. A responsabilidade é toda dela”, sublinhou Nicolelis, confessando-se, nada obstante, satisfeito com o experimento científico propriamente dito. Os apenas 15 segundos disponibilizados na transmissão para registro do histórico acontecimento foram inseridos no meio do desenxabido espetáculo artístico montado e vistos de relance por parcela mais atenta do publico. A narração do fato ocorreu tardiamente, passando a sensação de que os próprios locutores não estavam devidamente informados do que estava rolando. De outra parte, o lance aconteceu fora e não no centro do campo, ao contrário do que era esperado, sob a alegação fajuta de que a movimentação do jovem tetraplégico com o aparelho denominado exoesqueleto pressionaria o terreno. O mesmo terreno, por sinal, que suportou sem danos as estruturas do show. Tudo isso impossibilitou que o publico se inteirasse, em nível de detalhe, da proeza cientifica. Em resumo, o que se acabou vendo, em descrições insuficientes dos narradores, foi um lance solto da bola em movimento com nada em especial que pudesse empolgar a assistência.  

O resultado positivo da experimentação cientifica ficou, todavia, bem configurado na manifestação de Glauco Arbix, presidente da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Suas as palavras que se seguem: “A FINEP se orgulha de ter investido 33milhoes de reais no projeto “Andar de Novo”, que vem sendo desenvolvido há dez anos. Foi um verdadeiro gol da ciência brasileira. Nossos cientistas mostraram para o mundo do que são capazes. Acompanhamos os testes do exoesqueleto e sempre tivemos a melhor expectativa possível. Isso foi confirmado agora.” Miguel Nicolelis partilhou do mesmo sentimento: “Foi um grande gol da nossa ciência e dos oito pacientes que se dedicaram à experiência”. Segundo o pesquisador os testes foram concluídos com êxito no final de maio. O exoesqueleto, respondendo a comando da atividade cerebral do operador, no caso o jovem tetraplégico, favorece movimentos naturais e fluidos que produzem a sensação de que o paciente esteja a caminhar com as próprias pernas. A interface cérebro-maquina é estabelecida por uma touca com eletrodos que captam os sinais elétricos do cérebro, na base de um eletroencefalograma, de forma não invasiva. O procedimento, explica o neurocientista, é suficiente para impulsionar movimentos dos membros inferiores. Os sinais cerebrais do paciente são processados em tempo real, decodificados e utilizados para acionar condutores hidráulicos. O objetivo do projeto é aplicar uma tecnologia inovadora que permita pessoas com mobilidade restringida recomeçarem a andar, usando a mente para controlar um equipamento que substitui os membros inferiores.


Esse gol de placa, que exalta a cultura cientifica deste país desconhecido pelos plantonistas do desalento e do pessimismo, não pôde, desafortunadamente, ser mostrado ao distinto público da festa inaugural da Copa. Que pena, que pena!



Regra disciplinar, não dogma.

Cesar Vanucci*


“...não conseguimos desfazer um vinculo tão sólido e bonito”.
 (Trecho de manifesto endereçado por um grupode mulheres italianas ao Papa Francisco)



Um grupo de católicas italianas resolveu botar o dedo na ferida de uma controversa questão eclesiástica, varias vezes secular, de natureza disciplinar, mas em esferas ultraconservadoras equivocadamente encarada como preceito dogmático. Num comovente manifesto endereçado ao Papa Francisco pediu seja revogado o celibato sacerdotal compulsório.
As signatárias não estão sós no posicionamento assumido. Em todas as partes do mundo, seguidores da Igreja, incluídos na lista religiosos de ambos os sexos, alimentam a expectativa de que esse dispositivo, instituído no longínquo século XI, possa vir a ser algum dia revisto. O quanto antes melhor. O entendimento majoritário nesses setores é de que se trata de uma determinação inteiramente fora de propósito diante da realidade do mundo contemporâneo.
Saliente-se, uma vez mais, que o celibato obrigatório na vida religiosa não é de inspiração teológica. É assunto disciplinar, não de fé. Em tempos idos da cronologia cristã, o casamento não era vedado a representantes da Igreja. Pedro, para ficar num único exemplo, era casado, constituiu prole. Pessoa conhecida, que manifesta, tanto quanto eu, simpatia pela tese da quebra do celibato sacerdotal, evoca o testemunho do próprio Cristo, com base em palavra de um evangelista, para sublinhar a condição de homem casado do apóstolo Pedro, primeiro Papa da historia: “E Jesus, entrando em casa de Pedro, viu a sogra deste acamada, e com febre. E tocou-lhe na mão, e a febre a deixou; e levantou-se e serviu-os” (Mateus, 8:14-15).
  Seja ressaltado em seguida que a própria Igreja Católica Apostólica Romana, nestes tempos modernos, da mesma maneira que se comportam outras correntes cristãs (ortodoxas, protestantes, anglicanos, por ai vai), chega a admitir o matrimonio sacerdotal em alguns territórios do Oriente. O que não pode deixar de ser interpretado como baita contrassenso.  
As autoras do manifesto, confessando-se afetivamente ligadas a eclesiásticos, argumentam de forma bem enfática. Como se pode defluir de certos trechos da mensagem: “Nós amamos esses homens e eles nos amam também. E, apesar de tentarmos de todas as maneiras renunciar a esse sentimento, não conseguimos desfazer um vinculo tão solido e bonito!” (...) “Sabe-se muito pouco do devastador sentimento ao qual está submetida uma mulher que vive junto a um sacerdote. A forte experiência do amor queremos, com humildade, depositar a seus pés nosso sofrimento, com o objetivo de que algo possa mudar não só para nós, mas para o bem de toda a Igreja”.(...) “ As únicas alternativas são o abandono do sacerdócio ou a manutenção da relação em segredo”.
A proibição levou ao longo dos tempos multidão considerável, em todos os cantos do planeta, a abandonar as funções sacerdotais. Defensores da tese de que o regime do celibato deva ser abolido argumentam, com carradas de razão, que uma alteração nesse preceito, sustentado apenas na tradição, teria o mérito de devolver aos quadros paroquiais cidadãos com alto grau de qualificação para tocar ações pastorais e preencher vazios nesse trabalho, ocasionados pela notória escassez de vocações.
A obrigação celibatária escancara outra tremenda incoerência, consignada neste depoimento dado a “IstoÉ” pela doutora em sociologia da religião Regina Jurkewicz, membro de um grupo denominado “Católicos pelo direito de decidir”: “ A Igreja pune de forma mais severa o padre que decide se casar,  expulsando-o do sacerdócio, do que o padre que comete uma violência sexual ou pedofilia. Nesse caso, esse padre é afastado do cargo temporariamente e vai para reclusão pensar no que fez”.
A questão remete, também, de certo modo, à lembrança de outra regra disciplinar, de raízes igualmente seculares, que a Igreja houve por bem eliminar em passado relativamente próximo. Na segunda metade do século 20, o uso obrigatório da batina ainda imperava entre nós. Configurava amostra típica de outro “falso dogma”.
Falo disso na sequência.







Nos tempos da Batina

Cesar Vanucci*

                                
“O habito não faz o monge”.
 (Ditado popular)

Como antecipado no artigo passado, ocupo hoje este “minifúndio de papel” (lembrando o saudoso Roberto Drummond) para tratar de outro falso dogma de fé. Falarei da batina que, por séculos adentro, constituiu vestimenta obrigatória no mundo eclesiástico.
Ái do sacerdote que, até bem pouco tempo atrás, por mais piedosa se revelasse sua postura pastoral, que cometesse a extrema ousadia de sair por aí sem aquele desajeitado saião, via de regra de cor escura! A vítima expunha-se inapelavelmente a risco de apedrejamento moral capaz de enodoar para todo sempre seu edificante currículo. Puxo das ladeiras da memoria cenas em que, surpreendidos em mera atividade recreativa sem os uniformes tradicionais, clérigos se viram alvo de uma saraivada de maledicências, produzida obviamente por tocaieiros medievais da “moral e costumes”. A alardeada “quebra” dos “códigos sagrados” forçou-os, por largo espaço de tempo, “a comer o pão que o diabo amassou”... Na visão de alguns católicos, que se acreditavam mais católicos que Bispos e padres, uso de batina não era simples regra disciplinar, suscetível de modificação. Mas dogma “imexível”, para todo sempre, amém!
Nos anos 50, subscrito pela quase totalidade dos sacerdotes da então Diocese de Uberaba, chegou ao conhecimento publico magistral documento. Nele, pedia-se ao Bispo autorização para substituição da batina por traje mais adequado às conveniências da ação operacional dos padres. A repercussão, como era de se esperar face às circunstancias culturais vigentes, foi enorme. Deixou em polvorosa elementos refratários às mudanças de regras que condicionam o jogo da vida ao imobilismo social.  Pela vez primeira no Brasil, a questão da batina era trazida, graças aos padres de Uberaba, a debate publico.  O manifesto saiu estampado na primeira pagina do diário “Correio Católico” (12 mil assinantes, recorde naqueles tempos), sem o conhecimento prévio do titular da Diocese, Alexandre Gonçalves Amaral.  Este grande Bispo, mais tarde elevado a Arcebispo, era considerado o maior orador sacro do Episcopado. Ganhou fama também pelo incentivo dado à implantação e expansão da Ação Católica.
O documento foi recebido como vibrante abaixo-assinado endereçado também à opinião publica. Que, diga-se de passagem, mesmo tomada pelo espanto, deixou transparecer nas reações gerais razoável simpatia pela causa dos padres. A resposta do Bispo, um primor de polidez, em tom igualmente vibrante, saiu no mesmo jornal.  Embora reconhecendo legitimidade na formulação do pleito, louvando a forma respeitosa da manifestação e lamentando não ter sido dela previamente informado, Alexandre contrariou, entretanto, as aspirações dos sacerdotes. Fechou questão com base nas regras disciplinares.
Os argumentos expendidos naquele momento são, inegavelmente, de relevante valia documental para a compreensão das dificuldades que permearam os caminhos da Igreja no período dos avanços e aberturas promovidos pelo agora Santo João XXIII.
Não resisto à tentação de juntar a essas informações uma historieta divertidíssima ligada, de certo modo, ao uso da batina. Ocorreu no âmbito familiar. Meus filhos mais velhos, Claudio Cesar e Sérvio Tulio, garotinhos de 7 e 6 anos, encontravam-se próximos das irmãs, mais novas, Maria Claudia e Maria Paula, na hora do banho. Um deles havia encrencado, pouco antes com uma das garotas, sendo por isso repreendido. Fixando-as mais detidamente, deparou-se, espantado, com uma diferença anatômica da qual nunca se dera conta, apontando para a circunstância de as meninas possuírem aparelho genital diferente. Partiu aos gritos para se defender de alguma possível admoestação por conta do que supunha serem mutilações sofridas pelas irmãs: “Não fui eu, não, mãe!” O alarido deixou as crianças transtornadas, até que se pudesse, pedagogicamente, transmitir-lhes explicações sobre as diferenças dos caracteres sexuais de homem e mulher.    Das explicações brotou lição singela e básica, de fácil assimilação (considerada a época) na mente infantil. Homem veste calça, mulher veste saia (era assim naquele tempo). Passados alguns dias, recebemos a visita de um padre muito querido. Às tantas, depois de rodear enigmaticamente o visitante, Maria Claudia deixou cair: -“Padre o senhor tem pinto?” A surpreendente pergunta só pôde ser devidamente entendida quando nos recordamos da ocorrência na banheira. Como atravessávamos os dias em que a polemica da batina dominava as atenções, o sacerdote, rindo a bandeiras despregadas, extraiu do episodio a conclusão de que a garotinha havia acabado de adicionar magistral argumento a favor da abolição da batina.  






quinta-feira, 5 de junho de 2014



Drama sombrio

“Sinistra inversão de valores!”
(Raniero Cantalanessa, pregador oficial do Vaticano)

Cesar Vanucci *


Esse Papa, Deus louvado! Sem erro algum: é um enviado dos céus com a santificante e espinhosa missão de reconectar o mundo com sua humanidade. As coisas que prega! Suas palavras e gestos convocam as cabeças pensantes a uma reflexão aprofundada sobre os dramas universais.  Produzem encantamento, surpresa e, em não pouco viventes entorpecidos pela insensibilidade social, um certo grau de preocupação, tendo em vista as propostas de mudanças comportamentais levantadas em favor da extinção de privilégios despropositados.

Na meditação da última sexta-feira santa, na Basílica de São Pedro, tivemos nova amostra de seu estilo de liderança. Raniero Cantalamessa, frade capuchinho, pregador da Casa Pontifícia, personagem que no ver de renomados vaticanistas atua em perfeita sincronicidade, no plano das ideias, com o Sumo Pontífice, largou o verbo, como se diz no popular, contra a idolatria do dinheiro. Vale a pena conhecer o teor da pregação feita diante de Francisco e integrantes do colégio cardinalício. Os dizeres vindos abaixo, encerrando uma condenação flamejante às práticas neoliberalistas, foram extraídos de um artigo de Claudio Bernabucci estampado na “CartaCapital”. Vejam só o que foi dito por Raniero:

“Judas não nasceu traidor, tão pouco o era quando foi escolhido por Jesus. Tornou-se! Estamos diante de um dos dramas mais sombrios da liberdade humana. Ele se tornou traidor por dinheiro. Mamon, o dinheiro, não é um dos muitos ídolos; é o ídolo por excelência. Ele é o verdadeiro inimigo, o rival de Deus neste mundo. (...) Ele é o anti-Deus porque determina uma sinistra inversão de todos os valores. Por trás de todo o mal da nossa sociedade está o dinheiro. O que está por trás do tráfico de drogas que destrói tantas vidas humanas, a exploração da prostituição, o fenômeno das várias máfias, a corrupção politica, a fabricação e comercialização de armas e até mesmo – coisa horrível de se dizer – a venda de órgãos humanos removidos das crianças? E a crise financeira que o mundo está atravessando, não é, em grande parte, devida à deplorável ganancia de alguns poucos? Judas começou roubando um pouco de dinheiro da bolsa comum. Isso não diz nada para certos administradores do dinheiro publico? Sem pensar nesses modos criminosos de ganhar dinheiro, já não é escandaloso, por acaso, que alguns recebam salários e pensões cem vezes maiores daqueles que trabalham na mesma casa? E que levantem a voz só com a ameaça de renunciar a algo, em vista de maior justiça social?”

Essas vergastadas traduzem cobranças sociais. Estão coerentes com a linha do pensamento papal. Servem de ilustração ainda para um gesto emblemático de Francisco adotado momentos depois da meditação aludida. Por determinação do “Papa dos confins do mundo”, assessores seus saíram às ruas contatando famílias sem-teto, espalhadas nas estações ferroviárias de Roma, para entregar-lhes junto com uma mensagem pontifícia pela Páscoa, envelopes contendo generosa ajuda financeira. Isso aconteceu enquanto se celebrava a Via-Crucis no Coliseu, com a presença dos dignitários da Igreja.       




Faltou alguém em Nuremberg (2)

Cesar Vanucci*


“...os americanos procederam de maneira diferente por
razoes diferentes nos casos da Alemanha e Japão”
 (Daniel Antunes Júnior, historiador)


A propósito do comentário “Faltou alguém em Nuremberg”,  o historiador, autor de livros, membro de várias Academias de Letras, banqueiro e empresário rural Daniel Antunes Júnior, enviou-me mensagem que considero interessante aqui reproduzir.

“Ave, Cesar!

Na minha visão, os americanos procederam de maneira diferente por razões diferentes nos casos do julgamento de Nuremberg (que durou quase um ano) e da capitulação do Japão, quando se permitiu que Hiroito continuasse como imperador, mas sob uma nova constituição ditada pelos USA, e aceita e jurada sem qualquer restrição.
Note-se que no Extremo Oriente, ao contrário do que aconteceu na Europa, o conflito, praticamente, foi apenas entre os americanos e os japoneses, estes sob o comando absoluto do general Tojo que, condenado à morte pelos americanos, como criminoso de guerra, foi executado.
No julgamento de Nuremberg - cidade escolhida por ter sido sede do partido nazista - o julgamento dos criminosos de guerra foi realizado por um tribunal militar internacional. E este, afinal, com serenidade e retidão, condenou à forca quase todos os hitleristas acusados de crimes de guerra, sendo os corpos levados aos mesmos fornos onde eles cremaram as vítimas do Holocausto. A exterminação dos judeus (muitos dos quais eram alemães de nascimento) - ponto alto das acusações - foi qualificada como desumanidade sistemática na mais elevada escala.

Para se avaliar a extensão da insanidade da chamada “solução final” de Hitler, basta lembrar que, no interrogatório a que foi submetido, Rudolff Hess contestou apenas um ponto das acusações que lhe foram feitas: que não era verdade que ele mandara para as câmaras de gás dois e meio milhões de judeus; disse que foram apenas um milhão e quinhentos, mesmo porque Auschwitz tinha as suas limitações...

Consta que, ao fim da primeira Guerra Mundial, com a vitória dos Aliados, Clemenceau, ao atirar sobre a mesa os termos da rendição incondicional dos alemães, teria dito que chegara a hora da vingança... E todo mundo sabe que este foi o germe da segunda Grande Guerra, apenas cerca de 20 anos depois.

Era preciso não humilhar os vencidos, que se renderam incondicionalmente; e até criar condições para uma paz duradora. Nesse sentido, é inegável o esforço de boa vontade dos americanos, a partir da Conferência de São Francisco e a Organização das Nações Unidas, que sucedeu à Liga das Nações, tornada inoperante a partir do momento em que os Estados Unidos dela se excluíram.

No caso específico da Alemanha, o Plano Marshall, bem elaborado, construtivo e substancial, bancado exclusivamente pelos Estados Unidos, foi fundamental para o soerguimento do País que ficou literalmente arrasado com a derrocada do Terceiro Reich. Nenhuma outra nação fez tanto pelos alemães. Em toda a história da humanidade, nada se iguala a essa ajuda generosa do vencedor ao vencido.

Ninguém ignora que os japoneses, assim como os alemães, são de índole beligerante, militarista.  Nos últimos tempos ambos se envolveram com guerras de conquista.

No caso do Japão, a constituição ditada pelos americanos, em moldes democráticos (com as restrições em quatro pontos fundamentais de alto alcance), foi a alavanca que possibilitou aquele País a erguer-se como grande potência econômica. Sem manter exército, aeronáutica e marinha de guerra - uma das restrições da nova constituição - sobrou aos japoneses tempo e recursos suficientes para o seu invejável desenvolvimento tecnológico.”


A SAGA LANDELL MOURA

O instinto belicoso do bicho-homem

                                                                                                     *Cesar Vanucci Faço um premente a...