sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Muito acima do teto


Cesar Vanucci

“A população brasileira não se conforma com os supersalários.”
(Senadora Kátia Abreu)

Como anteviam traquejados observadores da cena política - marcada invariavelmente por tricas e futricas desnorteantes - a candente questão dos ganhos himalaianos da tecnoburocracia tupiniquim retornou ao limbo em que é conservada, há um bocado de tempo, por poderosas influências corporativistas. O aceso confronto retórico, reaberto com o anúncio de que o Senado iria colocar em pauta a discussão a respeito da momentosa matéria da extrapolação do teto remuneratório legal, detectada em muitas repartições da República, desapareceu subitamente dos registros midiáticos.

Em seus momentos mais acalorados, esse confronto alimentou manchetes. Era intenso o bate boca, com argumentos às vezes ferinos. De um lado, membros do Parlamento, com destaque para o senador Renan Calheiros. Do outro, dirigentes de entidades representativas de grupamentos profissionais que agasalham agentes públicos favorecidos por essa política de vencimentos desapartada de legitimidade.

Não foram poucos, na ocasião, os analistas políticos que identificaram, em certas reações dos órgãos classistas citados, tendências muito mais próximas do desejo de represália do que do propósito de crítica pertinente a supostas ações indecorosas atribuídas aos parlamentares, que por sinal vêm sendo objeto de apuração. Mas, de qualquer modo, soterrado no noticiário por outros acontecimentos de repercussão, o assunto acabou caindo, outra vez, em ponto morto. Por imposição ética inevitável, será fatalmente, mais na frente, ressuscitado. Não há como ignorá-lo o tempo todo. A busca de uma solução justa para o caso só será encontrada no curso de estudos e debates escorados em transparência solar. É o que propõem os setores mais lúcidos da sociedade, traduzindo o sentimento das ruas.

O problema dos salários dos marajás produz enorme desconforto no seio da sociedade. Agrava-se naturalmente numa hora em que a política governamental acena ruidosamente com restrições a direitos trabalhistas, estabelecendo como meta prioritária mudanças capazes de penalizarem assalariados de menor poder aquisitivo ligados ao sistema previdenciário. O raciocínio popular a respeito da reforma previdenciária é simples e objetivo. Por que cargas d’água a exigência de sacrifícios, no tocante ao necessário equilíbrio das contas públicas, contempla apenas o pessoal miúdo, dos andares de baixo da pirâmide social? E quanto aos ocupantes dos pavimentos superiores, mesmo com tantas distorções clamorosas a corrigir, como no caso da extrapolação dos tetos salariais, permanecerão eles de fora dessas reformas ditas indispensáveis?

E olha que são mesmo muito clamorosas as distorções! Pieter Zalis, conta na “Veja” que mais de 5 mil servidores federais recebem acima do limite legal. A diferença salarial seria suficiente para pagar todo mês 400 mil aposentados que ganham o mínimo. O jornalista lembra que os governos vêm prometendo, há um tempão, acabar com a praga dos supersalários. Mas, até hoje, nenhuma das tímidas tentativas colocadas em prática deu certo. O tamanhão do problema pode ser aquilatado nos registros abaixo. Entre funcionários da ativa, Judiciário, Executivo e Legislativo federais, 5.203 ganham acima do teto. É o que consta das folhas de pagamento de três meses seguidos. Esse número corresponde apenas a uma parcela do conjunto. A pesquisa feita não relaciona aposentados e nem servidores dos Estados e Prefeituras. Se um levantamento semelhante viesse a ser feito nos Estados, o número de marajás apontados quadruplicaria ou quintuplicaria...

O peso descomunal desses vencimentos no orçamento pode ser dimensionado com mais essas revelações estarrecedoras. Depois de explicar que a maior parte (acima de dois terços) dos excessos salariais é detectada nas folhas do Judiciário, a reportagem aponta os nomes dos detentores dos mais altos ganhos mensais entre servidores federais. No Judiciário, os “líderes”, em número de cinco, percebem em valores arredondados entre 83 mil e 100 mil reais mensais. No Executivo, em cinco casos apontados, entre 57 mil e 82 mil. No Legislativo, quatro casos alinhados, entre 49 mil e 68 mil. Finalmente, no Ministério Público, mencionados igualmente cinco nomes, as variações de ganhos, arredondando-se as parcelas, vão de 69 mil a 97 mil.

Tá danado...


A fonte de inspiração de Gandhi

Cesar Vanucci

“Cristo é a maior fonte de força
espiritual que o homem conheceu”.
(Mahatma Gandhi)

Em minha singela percepção, São Francisco de Assis e Mahatma Gandhi desempenhariam, com o mesmo fulgor que tanto os notabilizou, as missões executadas por um e por outro no vital processo da construção civilizatória, caso se lhes tivesse sido proposta uma troca de tempo na participação de cada um deles na historia do planeta. Gandhi, seguindo este entendimento, foi o Francisco de Assis do Século 20. Francisco foi o Gandhi do Século 12.
Ao animar-me a fazer tal comparação, estou convencido de que ambos beberam inspirações, para as edificantes tarefas levadas avante, numa mesma mensagem espiritual e humanística. A mensagem de que aqui se fala chega do fundo e do alto dos tempos para toda a sociedade humana, mas quem mesmo cuida de absorvê-la em sua pureza e plenitude são criaturas pacíficas e de coração fervoroso. Para vivenciá-la, em nada pesa a circunstância de, entre os dois personagens mencionados, um deles confessar-se cristão  e outro declarar-se hinduísta. A mensagem de que se cogita não tem – pode-se afirmar com certeira segurança – “coloração partidária”. Não representa precioso e essencial acervo de valores transcendentes que possa ser requisitado como propriedade por nenhuma especifica corrente do pensamento filosófico. É patrimônio ecumênico. Destina-se ao desfrute amplo, geral e restrito de tantos quantos possuam olhos para enxergar, ouvidos para escutar, sensibilidade para compreender e voz para propagar. Encerra saberes que podem ser divulgados com eficácia por cristãos, hinduístas, budistas, islamitas, judeus e assim por diante...
Gandhi, a exemplo de Francisco, passou adiante a mensagem. Ela permitiu-lhe alcançar na veneração popular a condição de “Apostolo da Paz”. Adotando como mote um processo revolucionário estribado em princípios inseridos na chamada “Satyagraha” – princípios esses que consagram a não agressão e o repúdio à violência como instrumentos de protestos firmes e persistentes contra as injustiças sociais –, o Mahatma enfrentou, com raro desassombro cívico e pesados danos pessoais, a asfixiante opressão colonial do império inglês, emancipando a Índia e tornando-a potência com audiência universal.
Apreciando sua conduta e tomando ciência de suas ideias, aprendi a identificar nesse líder de arrebatador carisma alguém muitíssimo familiarizado com os ensinamentos do mais fabuloso e iluminado ser que já colocou os pés nos ásperos caminhos da jornada terrena, em todos os tempos. Ele, mesmo: Jesus de Nazaré!
Impressionaram-me vivamente as referencias de Gandhi ao Cristo reunidas na esplêndida biografia que Huberto Rohden, brasileiro de Santa Catarina, escreveu sobre o “pai espiritual da Índia”. O ilustre patrício, falecido em 1981, filósofo, teólogo, escritor com 70 obras editadas, aponta Gandhi como um fenômeno humano “de incrível força cósmica”. E no livro de 250 paginas, dedicado à sua reluzente trajetória, destina sugestivo capitulo às manifestações (cujo teor eu ignorava) feitas pelo mestre indiano acerca do “Mestre dos mestres”.
Para que meu leitorado possa compartilhar as emoções deixadas naturalmente por tais revelações, anoto na sequência conceitos de Gandhi sobre Jesus, extraídos da obra de Rohden.
Assim falou o Mahatma: ●“Cristo é a maior fonte de força espiritual que o homem até hoje conheceu”. ●“Vejo em Cristo o supremo modelo: manifestou, como nenhum outro espírito, a vontade de Deus”. ●“O Sermão da Montanha foi-me direto ao coração. Bebam nas fontes do Evangelho”. ●“Cristo não pertence só ao cristianismo, pertence ao mundo inteiro. Ele é todo amor. O amor no supremo mandamento é dirigido antes de tudo aos mais fracos, aos abandonados. Cristo não carregou a cruz somente há mil e novecentos anos. Carrega-a hoje e morre e ressuscita dia após dia”.


Exige-se transparência solar


Cesar Vanucci 

“O que se concebe bem, se anuncia com clareza.
 E as palavras para dizê-lo chegam com facilidade.”
(Nicolas Boileau, poeta francês, século 17)

Transparência solar na apuração das circunstâncias do desastre aéreo que ceifou a vida do Ministro Teori Zavascki! Tal preocupação não pode permanecer ausente, hora alguma, das cogitações dos setores incumbidos da lida com o assunto. Apesar de compreensível do ponto de vista técnico, a recente decisão do Juiz Federal de Angra dos Reis, determinando hermético sigilo em torno do processo investigatório concorre, forçoso admitir, para que a opinião pública se sinta um tanto quanto desconfortável em relação às diligências oficiais.

É sumamente importante, neste momento, em todos os escalões, que os agentes públicos com expressas responsabilidades no impecável esclarecimento do acidente se mostrem verdadeiramente compenetrados do elevado grau das expectativas das ruas concernentes ao caso. Para que possam executar a contento sua relevante missão conta muito a certeza de que as explicações sejam transmitidas de forma convincente e clara. Toda a Nação almeja conhecer por inteiro os desdobramentos do trabalho de verificação a respeito do que, afinal de contas, andou acontecendo no voo fatídico de Parati.

A coincidência de a morte de Teori haver ocorrido na véspera da homologação de depoimentos cruciais, num processo da magnitude política, econômica e social da Lava Jato, é bastante significativa. Não há como desfazer os temores circulantes em muitas áreas no sentido de que o destino impiedoso poderia não ter sido a real causa do lastimável evento. A apuração rigorosa dos fatos, como a que se acredita esteja em andamento, terá o condão de deixar tudo muito bem elucidado, com base em rigorosa transparência.

E já que se está a tratar de transparência e clareza das coisas, seja-nos facultado focalizar, na sequência, posturas governamentais em dissonância com esses elementos, obviamente essenciais no processo de comunicação oficial com a sociedade. Vamos falar, como prometido em artigo anterior, das chamadas “síndrome da reivindicação sucessiva” e “síndrome da responsabilização regressiva”, fórmulas marotas de engazopamento da opinião pública, traduzidas em excesso de palavrório e carência de ações.

Lembrando que o Governo Michel Temer, tal qual fizeram os antecessores, acostumou-se a lidar com a segurança manipulando truques com o fito de embromar o respeitável público, o jornalista Élio Gáspari discorre magistralmente sobre o que vêm a ser essas ardilosas manobras. A “síndrome da reivindicação sucessiva”, uma delas, agrada em cheio a emproada casta dos burocratas, sempre empenhados em elaborar “agendas futuristas” que lhes propiciem a chance de não fazer o que devem. Permite corra desenvolto, conforme sublinha o jornalista, o raciocínio descrito abaixo: “As facções criminosas nos presídios só poderiam ser contidas com bloqueadores de celulares. Instalados os bloqueadores, será necessário um satélite para vigiar a fronteira e assim por diante. (...) As cadeias estão superlotadas e, em vez de botar pra trabalhar quem nunca trabalhou, defende-se a mudança na legislação penal.” E por aí a carruagem vai rodando, numa marcha inesgotável, carregando intenções que nunca se concretizam.

Já no que concerne à outra “síndrome” anotada, “a síndrome da responsabilização regressiva”, o citado jornalista sustenta que o ilustre Ministro da Justiça se acha dela apoderado. E no que mesmo consiste? Urdida, como a primeira “síndrome”, com o objetivo de empulhar a plateia, a postura adotada enfatiza a ideia de que a aterrorizante situação das penitenciárias remonta “a uma crise antiga, secular”. Suas raízes estariam fincadas nos tempos coloniais. Gáspari ironiza: “Tudo bem, a responsabilidade é de Tomé de Souza. Nada a ver com os governos de José Sarney, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma, todos apoiados pelo atual presidente Michel Temer”. E acrescenta, aludindo ao Ministro Alexandre Morais: “... é um homem do seu tempo. Atento às sutilezas do vocabulário, sempre que fala em “homicídio” acrescenta a palavra “feminicídio”. No mundo do politicamente correto lixo é “resíduo sólido”, e não se deve buscar a regeneração dos delinquentes, mas a “ressocialização” dos presos. Tudo seria uma questão de palavras que não fazem mal a ninguém, se na fantasia de modernidade e cosmopolitismo não se escondesse o atraso. Finge-se que tornozeleiras, satélites, radares, censos e mudanças pontuais podem resolver os problemas das prisões brasileiras. Eles resolvem o problema da ocupação do noticiário. Nada mais que isso.”

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017



Exige-se transparência solar


Cesar Vanucci 

“O que se concebe bem, se anuncia com clareza.
 E as palavras para dizê-lo chegam com facilidade.”
(Nicolas Boileau, poeta francês, século 17)

Transparência solar na apuração das circunstâncias do desastre aéreo que ceifou a vida do Ministro Teori Zavascki! Tal preocupação não pode permanecer ausente, hora alguma, das cogitações dos setores incumbidos da lida com o assunto. Apesar de compreensível do ponto de vista técnico, a recente decisão do Juiz Federal de Angra dos Reis, determinando hermético sigilo em torno do processo investigatório concorre, forçoso admitir, para que a opinião pública se sinta um tanto quanto desconfortável em relação às diligências oficiais.

É sumamente importante, neste momento, em todos os escalões, que os agentes públicos com expressas responsabilidades no impecável esclarecimento do acidente se mostrem verdadeiramente compenetrados do elevado grau das expectativas das ruas concernentes ao caso. Para que possam executar a contento sua relevante missão conta muito a certeza de que as explicações sejam transmitidas de forma convincente e clara. Toda a Nação almeja conhecer por inteiro os desdobramentos do trabalho de verificação a respeito do que, afinal de contas, andou acontecendo no voo fatídico de Parati.

A coincidência de a morte de Teori haver ocorrido na véspera da homologação de depoimentos cruciais, num processo da magnitude política, econômica e social da Lava Jato, é bastante significativa. Não há como desfazer os temores circulantes em muitas áreas no sentido de que o destino impiedoso poderia não ter sido a real causa do lastimável evento. A apuração rigorosa dos fatos, como a que se acredita esteja em andamento, terá o condão de deixar tudo muito bem elucidado, com base em rigorosa transparência.

E já que se está a tratar de transparência e clareza das coisas, seja-nos facultado focalizar, na sequência, posturas governamentais em dissonância com esses elementos, obviamente essenciais no processo de comunicação oficial com a sociedade. Vamos falar, como prometido em artigo anterior, das chamadas “síndrome da reivindicação sucessiva” e “síndrome da responsabilização regressiva”, fórmulas marotas de engazopamento da opinião pública, traduzidas em excesso de palavrório e carência de ações.

Lembrando que o Governo Michel Temer, tal qual fizeram os antecessores, acostumou-se a lidar com a segurança manipulando truques com o fito de embromar o respeitável público, o jornalista Élio Gáspari discorre magistralmente sobre o que vêm a ser essas ardilosas manobras. A “síndrome da reivindicação sucessiva”, uma delas, agrada em cheio a emproada casta dos burocratas, sempre empenhados em elaborar “agendas futuristas” que lhes propiciem a chance de não fazer o que devem. Permite corra desenvolto, conforme sublinha o jornalista, o raciocínio descrito abaixo: “As facções criminosas nos presídios só poderiam ser contidas com bloqueadores de celulares. Instalados os bloqueadores, será necessário um satélite para vigiar a fronteira e assim por diante. (...) As cadeias estão superlotadas e, em vez de botar pra trabalhar quem nunca trabalhou, defende-se a mudança na legislação penal.” E por aí a carruagem vai rodando, numa marcha inesgotável, carregando intenções que nunca se concretizam.

Já no que concerne à outra “síndrome” anotada, “a síndrome da responsabilização regressiva”, o citado jornalista sustenta que o ilustre Ministro da Justiça se acha dela apoderado. E no que mesmo consiste? Urdida, como a primeira “síndrome”, com o objetivo de empulhar a plateia, a postura adotada enfatiza a ideia de que a aterrorizante situação das penitenciárias remonta “a uma crise antiga, secular”. Suas raízes estariam fincadas nos tempos coloniais. Gáspari ironiza: “Tudo bem, a responsabilidade é de Tomé de Souza. Nada a ver com os governos de José Sarney, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma, todos apoiados pelo atual presidente Michel Temer”. E acrescenta, aludindo ao Ministro Alexandre Morais: “... é um homem do seu tempo. Atento às sutilezas do vocabulário, sempre que fala em “homicídio” acrescenta a palavra “feminicídio”. No mundo do politicamente correto lixo é “resíduo sólido”, e não se deve buscar a regeneração dos delinquentes, mas a “ressocialização” dos presos. Tudo seria uma questão de palavras que não fazem mal a ninguém, se na fantasia de modernidade e cosmopolitismo não se escondesse o atraso. Finge-se que tornozeleiras, satélites, radares, censos e mudanças pontuais podem resolver os problemas das prisões brasileiras. Eles resolvem o problema da ocupação do noticiário. Nada mais que isso.”

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017




O maior evento 
do cinema brasileiro


Cesar Vanucci

“Está aí uma façanha histórica!”
 (Secretário da Cultura Angelo Oswaldo)

Assisti a primeira. Compareci a algumas mais. Acompanhei à distancia as outras. Estive presente agora na vigésima edição da Mostra de Cinema de Tiradentes. Os da minha convivência conhecem de sobra o fascínio que carrego, não é de hoje, por cinema.
Desde os distanciados tempos da escola risonha e franca, fiz da “sétima arte” referência maiúscula na lista das predileções pessoais em matéria de entretenimento. Na juventude, ao abraçar com febril ardor a profissão de repórter eclético inclui entre as tarefas cotidianas a apreciação dos filmes exibidos nos cinemas de minha cidade. Ajudei a criar, com outros contumazes cinemeiros, um “Clube de Cinema”. O clube promovia com constância animadas tertúlias à volta de projeções de fitas famosas em 16 milímetros. Eram alugadas ou trazidas da coleção particular de alguém fissurado em cinema. Não perdia lançamentos. Cheguei a “disputar” recordes de permanência em salas de projeção. Surpreendi-me, mais de uma vez, deixados os pagos natais em viagens de férias, a percorrer horas seguidas (até doze horas, vejam só!) salas de projeção nas antigas “cinelândias” de São Paulo e Rio de Janeiro e no circuito fílmico de Beagá. Cometi a proeza de acompanhar, em dois dias consecutivos, as três sessões diárias de “A Doce Vida”. Perdi o número das vezes em que vi Casablanca, Sinfonia de Paris, Cantando na Chuva, 12 Homens e uma Sentença, Adivinhem quem veio para jantar?, O Homem que matou o facínora, O pagador de promessas, 2001 - odisséia no espaço e Orfeu do Carnaval. A lista comporta, obviamente, outros títulos. Pela minha contabilidade, nas salas de cinema, ou diante da tevê e de vídeos de locadora, enlevei-me com Retratos da Vida “apenasmente” 12 vezes. À conta disso, pude inteirar-me dos três diferentes epílogos bolados pelos produtores dessa encantadora fita francesa. Do que nunca fiquei sabendo, todavia, foi do tipo de conveniência a que essas mudanças no fecho do enredo procuraram atender. Tem mais: li e mantenho em minha biblioteca razoável volume de livros alusivos à temática cinematográfica. Entre eles, ocupa lugar de destaque na estante a coleção produzida, com talento e apuro de linguagem, pelo amigo e companheiro Guido Bilharinho, da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.
Falo dessas coisas com o fito de enfatizar, convicto, não me faltarem credenciais na condição de espectador, mode que poder afirmar, com todas as letras, acentos, parágrafos, pontos e vírgulas, que a Mostra de Tiradentes - como restou exuberantemente provado nesta vigésima versão - representa o mais importante evento do cinema brasileiro. Seus idealizadores, Raquel Hallak D’Angelo, Quintino Vargas Neto e Fernanda Hallak D’Angelo, estão cobertos de razão quando proclamam, tomados de compreensível ufania, que em Tiradentes funciona hoje a principal fonte de inovação e divulgação do cinema brasileiro. Podem, perfeitamente, jactarem-se de que a exuberante trajetória percorrida pela Mostra assegurou-lhe posição de invulgar realce no “centro da história do áudio-visual e no circuito de festivais realizados no Brasil.”
Enfeixando na programação, como é do feitio da promoção, diversificadas manifestações da arte – cinema, música, teatro, literatura, dança, desenho e pintura -, estabelecendo vinculações competentes e proveitosas com os movimentos sociais e com a sociedade, a Mostra teve o condão de criar poderosa mística em torno da tricentenária Tiradentes como novo e esfuziante centro moderno de irradiação cultural. Fez infletir no formoso burgo - relicário de preciosidades históricas, arquitetônicas e paisagísticas – o foco das atenções turísticas. 
Nesta recente edição, afirmando-se como plataforma da produção fílmica independente, divulgou 108 filmes em pré-estréias mundiais. Promoveu mais um seminário de estudos com movimentados debates a cargo de renomados especialistas. Patrocinou oficinas de cinema e implantou a sugestiva Casa da Mostra, ponto de encontro para pesquisa, produção do conhecimento e do fazer cinematográfico.
Por derradeiro, o repórter que esta subscreve não resiste à tentação de anotar fatos que o deixaram um tanto intrigado, ocorridos na imponente solenidade de abertura da Mostra. Numa criativa e bem documentada exposição visual, foi mostrada, aos milhares de convidados presentes no Cine-Tenda, uma retrospectiva dos festivais anteriores, entrelaçada com cenas frisantes da historia brasileira dos últimos 20 anos. A reação do público, composto predominantemente de moradores de Tiradentes, deu o que pensar. Nas vezes em que aparecerem suas imagens no telão, Michel Temer e Aécio Neves foram intensamente vaiados. Luiz Inácio Lula da Silva foi intensamente aplaudido. Para Dilma Roussef e Fernando Henrique Cardoso não houve nem aplausos nem apupos.





KALIL PREFERE O 
GRAFITE COLORIDO

Maria Inês Chaves de Andrade
Vice-presidente da ONG “O Proação”


O Prefeito Alexandre Kalil foi de uma profunda sensibilidade política, valorizada a Pólis em sua definição mais essencial, ao perceber que os grafites embelezam a cidade e a arte urbana merece guarida. Na verdade, sua decisão se distende para além do que apenas parece, embora aparência seja o que motiva o conflito em São Paulo, sejam gostos e desgostos. O fato é que neste sufocamento do dia a dia, a grafitagem oferece uma saída, deixando inspirar e expirar a poesia possível sob a prosa impossível do cotidiano. Mas, a pensar-se bem, tudo é grafite, esta cor da arte, bem como da sisudez, cinza tempestuoso. De todo modo, de grafite-cor tudo se pode grafitar. É legal sem ser nem um pouco “legal”. Grafite por grafite, Kalil preferiu o colorido enquanto de grafite-cor escreve o projeto Profeta Gentileza para incentivar a arte da grafitagem por aqui. Ora, não há muito, aos 29 dias do mês de outubro do ano de 2014, nesta nossa Capital, se reuniram, no Museu das Minas e do Metal, durante o evento nominado Arte Solidária, várias entidades sem fins lucrativos e artistas de todas as artes, pela assunção do compromisso inconfidente de continuidade do desenvolvimento da ideia de liberdade, proclamada em Minas, quando se instaurou o Solidarismo Mineiro como movimento cultural artístico-humano, cujas bases se apresentaram pela confecção do “homem como a maior obra de si mesmo”, tornado ser humano a partir de sua intervenção sobre a realidade, na valorização de uma estética do bem. Assim, Kalil vem ao encontro deste propósito comum, o de que a expressão do mundo dos sonhos e da realidade não apenas exerça influência sobre os artistas e suas criações, mas também se ofereça às suas influências. Conspiração e inspiração, veladas e desveladas, figurativas ou objetivas, mas intencionalmente artísticas, como uma contra-corrente tanto quer romper os grilhões que sufocam a essência humana de expressar-se. A falta de sentido das linguagens que nos confundem e nos tornam seres aleatórios subjugados pelo nada quando tudo o que ansiamos é reconhecermo-nos humanos, sendo, através do outro, seja ele quem for, na sua infinita multiplicidade.
O solidarismo mineiro é um movimento que envolve todas as artes e quer influenciar toda a sociedade como manifestação artística que despreza a nossa pasteurização como cópias naturais, ditas homens apenas, quando o que nos distingue uns dos outros são a nossa humanidade e o belo que podemos e que toma a “ética como estética da existência”. Este movimento instaurado em Minas e sob os ventos que ora sopram com Kalil releva a demanda que temos a propósito do enfrentamento de todo tipo de violência e da indiferença que nos constrange a Razão humana. A arte é mesmo instrumento de intervenção na face do mundo e enfrenta a corrupção como degenerescência da essência humana sob a potência do bicho-homem. Ora, o poder precisa mesmo reconhecer-se como “força a serviço da liberdade”, que emana do povo e em seu nome deve ser exercido, quando a omissão relativamente à humanidade imanente em nós tem favorecido a que a irracionalidade contrabalance-se a si no equilíbrio de forças brutas.
O belo artístico que se quer com o grafite colorido promove a reconciliação do espírito humano enquanto exterioridade e interioridade, homem e ser humano, superando a cisão natureza-espírito para tomar a obra de arte não só como objeto sensível, finito e transitório, mas forma de deixar transparecer a plenitude do divino e do sagrado em nós, objetivamente. “A arte cultiva o humano do homem”. O objetivo último da arte é mesmo “despertar a alma”, “é revelar à alma tudo o que a alma contém de essencial, de grande, de sublime, de respeitável e de verdadeiro”. A promoção de nosso Prefeito é a do espírito estético que exige, neste momento, que a ideia de ser humano e sua manifestação exterior, homem, redimensionem a arte para atender as necessidades tanto da sensibilidade como da razão, reconciliando a finitude da aparência e a infinitude da essência, de modo a fazer renascer a arte na história de nossa trajetória. “A verdadeira política é um modelo, uma forma que resolve, a cada momento, a exigência histórica de um povo” pelo que Kalil, na arte da política, assume um compromisso racional e estético de intervenção na face de nossa cidade, intercedendo por uma estética humana e, na produção de sentidos ajudando a construir, objetiva e subjetivamente, o sentido da vida do belorizontino. Agora, os muros e os viadutos de Belo Horizonte vão se oferecer à abstração no concreto, nesse concreto armado de nosso país, já armado até os dentes. Kalil arrasou!


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017


Jogo que conta ponto

Cesar Vanucci

A democracia pode cambalear quando entregue ao medo!”
(Barack Obama)

Treino é treino, jogo é jogo! Esta máxima futebolística, de autoria ora atribuída ao Didi da “folha seca”, ora ao mitológico Neném Prancha, foi muito lembrada após a eleição de Donald Trump, para exprimir a cândida expectativa de muitos no sentido de que o estouvado animador de “realities shows”, subitamente catapultado à condição de homem mais poderoso do planeta, não viesse a colocar em prática, ao assumir o poder, as promessas inseridas em sua fanfarronice retórica. Em tudo quanto é canto, um mundão de pessoas externou, de outra parte, sérios temores quanto à possibilidade de o novo mandatário da Casa Branca vir a cumprir efetivamente a plataforma radical de campanha.

Em atos promulgados que ganharam ressonância mundial e nas designações dos colaboradores mais próximos, Trump já deixou exuberantemente demonstrado que suas ameaças à paz e convivência universal harmoniosa são mesmo pra valer. A truculência registrada no treino vem sendo transportada, sem disfarces, para jogo que conta ponto. Mais uma provação à vista para os aturdidos habitantes deste maltratado planeta azul!

O tom belicoso, o estilo populista vulgar, o ego exacerbado das manifestações de Trump na fase pré-eleitoral geraram, é bom recordar, encrencas monumentais. Rebatendo crítica da famosa Meryl Streep à política prometida para imigrantes, o magnata teve reação totalmente incompatível com a postura de um chefe de Estado. Alvejou a atriz com palavreado de “bas-fond”, dizendo ser ela amante de sua oponente Hillary Clinton. Criou baita e gratuito incidente com a China, a propósito de Taiwan. Atacou com incomum ferocidade a imprensa, acusando-a de conspiração para impedir-lhe a eleição. Espalhou ódio contra muçulmanos e imigrantes, em comícios e redes sociais. Suas vociferações racistas e xenófobas reabasteceram de vibração e entusiasmo os setores mais retrógrados do pensamento ideológico incendiário. Nos Estados Unidos, a Ku Klux Kan e congêneres ganharam alma nova. Correntes minoritárias radicais em todos os continentes exultaram com sua ascensão, alimentando o desejo de poderem contar com seu apoio em projetos hostis aos avanços civilizatórios.

Seguiu, no exercício do cargo de Presidente, a toada assustadora do candidato. Fez da solenidade de posse “um momento nacional de devoção patriótica”. Inspirou-se, por certo, em tirada demagógica de algum dirigente político não afinado com o sentimento democrático. Retirou os Estados Unidos, de supetão, sem aviso prévio aos parceiros, do chamado “Tratado Transpacífico”. Acenou com a possibilidade de fazer o mesmo em relação à “Nafta”, tratado que congrega em atividades negociais comuns Canadá e México. Congelou a implantação do Programa de Assistência à Saúde às parcelas socialmente mais vulneráveis do país. Esse programa, conhecido como uma espécie de SUS estadunidense, foi instituído no Governo Obama, recebendo o apelido de “Obamacare”. Mandou suprimir do sitio da Casa Branca registros sobre temas como assistência à saúde, mudança climática, direitos de minorias, bem como quaisquer textos em espanhol. Ordenou a retomada da construção de dois oleodutos, considerada por respeitáveis organizações humanitárias como hostil ao meio ambiente. Proibiu órgãos do governo de divulgarem informações a respeito do aquecimento global. Defendendo o emprego da tortura para arrancar confissões, mandou reabrir centros de detenção onde esse processo chegou a ser oficialmente tolerado. Mandou suspender a acolhida de refugiados e a concessão de vistos para países muçulmanos. Dentre as restrições anunciadas a imigrantes existe uma que afeta até detentores do “green card”. Definiu a exclusão no repasse de verbas das cidades que não cooperem com sua política de imigração. E para quem ingenuamente supôs que sua disposição em erguer um novo “Muro (da vergonha) de Berlim” fosse mero blefe eleitoreiro, assinou os primeiros atos para que seja erguida, com urgência, na fronteira com o México, uma muralha de 3.200 quilômetros de extensão. Complementou o gesto com uma decisão inimaginável: a conta terá que ser paga pelo México, direta ou indiretamente. A forma indireta consistirá, provavelmente, ao que se prenuncia, na cobrança fiscal de taxa extra de 20 por cento sobre toda a mercadoria do país vizinho que entre nos Estados Unidos. As nomeações para postos importantes no alto comando governamental não deixam dúvidas, por outro lado, quanto ao propósito de Trump de rodear-se sintomaticamente de elementos com visão obscurantista e perfil fundamentalista.

A situação surgida com sua chegada ao poder mete medo. “A democracia pode cambalear quando entregue ao medo”. Frase de Barack Obama. Dá o que pensar.


O escândalo do 
sistema penitenciário


Cesar Vanucci

“Nós não temos políticas públicas,
temos política de encarceramento.”
(Elaine Mara da Silva, pesquisadora do regime penitenciário)

Depois de nos ocuparmos do escândalo das desigualdades de renda, que pode perfeitamente ser definido como “mãe de todos os escândalos”, pra valer de expressão muito ao gosto de lideranças árabes notabilizadas pelas fanfarronices retóricas, vamos tratar de acontecimentos escandalosos registrados noutras vertentes da atuação comportamental. Todos, obviamente, de influência impactante no dia a dia comunitário.

O presidente da Associação Nacional dos Defensores Públicos vem garantindo, em reiterados pronunciamentos, que mais de 50 por cento dos indivíduos recolhidos às superlotadas e degradantes cadeias brasileiras poderiam estar cumprindo penas alternativas fora do sistema, em razão da natureza branda dos delitos. A mudança de enfoque no procedimento punitivo em nada colide com as normas legais. São numerosos os casos de encarcerados que já cumpriram as penas impostas pela Justiça.

De outra parte, as audiências de custódia, implantadas a partir de 2015, previstas em tratados internacionais, têm mostrado, registra o Conselho Nacional de Justiça, que 50 por cento das prisões preventivas decretadas são desnecessárias. Deduz-se daí que a implementação em plenitude de tais audiências concorreria para que as penitenciárias deixassem de ser meros depósitos de detentos.

Tais informações escancaram um estado de coisas escandaloso. Deixam patente a existência de meios infinitamente mais eficazes no enfrentamento da questão penitenciária do que os comumente utilizados com resultados inocultavelmente insatisfatórios. E nem é o caso de listar como ações descabidas os “argumentos” do gênero: “as chacinas são previsíveis”, “o ideal seria uma chacina todo dia”, “entre as pessoas degoladas não tem nenhum santo”, “bandido bom é bandido morto”...

A proliferação das audiências de custódia, junto com mutirões permanentes para avaliação das situações dos presos, priorizaria a melhoria das condições dos presídios, evitando investimentos, de imediato, em novas construções. De par com essas medidas e outros atos administrativos exequíveis, os responsáveis pelas políticas de segurança bem que poderiam largar mão, também, daquilo que o jornalista Élio Gáspari, em arguta análise, apelida de “síndrome da reivindicação sucessiva” e “síndrome da responsabilização regressiva”.

Cuidaremos de explicar isso melhor noutra hora. 




                  O PRODUTO CINEMATOGRÁFICO 

Guido Bilharinho *
                                             
Em cinema, mais do que em qualquer outra manifestação artística, confunde-se comumente técnica, profissionalismo e habilidade com arte.
A realização fílmica pressupõe determinada infraestrutura, conquanto muito inferior ao que se alardeia, mas, sempre, de qualquer modo, necessária, por mínima que seja.
Por sua vez, toda infraestrutura exige recursos financeiros, os quais, reunidos, deflagram processo técnico-industrial.
Quanto maiores e mais bem administrados esses recursos, mais amplo o poder de contratação dos melhores técnicos e profissionais do ramo, como acontece nos demais empreendimentos industriais.
Requer-se, também, no caso, como em qualquer caso semelhante, sucessão e acúmulo de experiências individuais e coletivas que, com o tempo, compõem, e, em muitas circunstâncias, cristalizam-se numa tradição.
O cinema estadunidense reúne esses elementos em alto grau de desenvolvimento, não sendo, pois, nenhuma surpresa ou fenômeno o estágio (ou estádio, como preferem os puristas) atingido por sua indústria cinematográfica.
Alude-se propositadamente à indústria e não a cinema, já que, com as exceções de praxe - uma delas ocorrente em vários, não em todos, os filmes do cinema independente dos Estados Unidos - não se realiza mais cinema, porém, produzem-se filmes, que saem dos estúdios como qualquer outro artefato procedente das fábricas, a exemplo de sabonete, sapato, pasta dental, etc.
Evidente que, à semelhança dos demais produtos, sua “qualidade” é extremamente variada e variável, não se podendo esquecer que a referida “qualidade” configura-se a partir do objetivo proposto. Como, na hipótese, a finalidade é agradar o público para faturar, esses, pois, seus parâmetros e medidas.
Realizam-se, então, filmes embasados por alta proficiência técnica e elevado grau de profissionalismo.
Em consequência, nessa perspectiva, existem os filmes apropriados e os inapropriados e toda a gama intermediária entre tais padrões, incluindo-se também os que os extrapolam para mais ou para menos.
Como a maioria absoluta dos espectadores encara o cinema apenas como mero desfrute diversional, seu critério de julgamento pauta-se também por essa concepção. Apropriados, pois, seriam os filmes técnica e profissionalmente bem feitos e conduzidos, com estória atraente, recheada dos ingredientes destinados a alegrar, seduzir e emocionar. Além dessa categoria de espectadores, boa parte do jornalismo cinematográfico − não confundi-lo com a crítica − ao procurar atender a essas preferência e expectativa, incessantemente alardeia esse tipo de produto (industrial) cinematográfico, propositadamente ressaltando e valorizando os aspectos e elementos que o caracterizam como espetáculo e não como arte. O produto é o espetáculo, resultado do processo fílmico industrial. O espetáculo é o negócio.
Esse tipo de jornalismo cinematográfico insere-se nos desdobramentos da indústria do entretenimento e existe também em outras áreas, a exemplo, principalmente, da música. É confundido com crítica de cinema, quando, na realidade, não passa de marketing promocional.
Daí a razão de filmes absolutamente inexpressivos sob o ponto de vista artístico e cultural, mas, possuidores de virtualidades técnico-profissionais, que os tornam grandes espetáculos, ocuparem excessivos tempo e espaço nos meios eletrônicos de comunicação e nos cadernos de variedades dos jornais, alimentando, mantendo e procurando ampliar o mercado para tais produtos, que rendem, em suas às vezes gigantescas campanhas promocionais, grandes verbas publicitárias. Negócios, comércio, renda e lucro são, pois, os objetivos principais. De quebra, como poderoso e eficiente efeito colateral, a manutenção da inconsciência coletiva.
Poucas são ainda as pessoas que conseguem se livrar da imensa cortina de desinformação e enganos que os meios ditos de informação produzem na sociedade moderna, cada vez mais dominada, mesmerizada e condicionada por sua insidiosa, eficaz e permanente campanha deformadora e enganosa, a serviço da grande engrenagem industrial-comercial.  

                                                              (do livro inédito Ficção e Cinema)

* Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de Literatura (poesia, ficção e crítica literária), Cinema (história e crítica), História (do Brasil e regional).

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